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Prosa@Poesia
Memorial

Memorial

      Do fundo de sua mágoa, ele olhava o horizonte. Tantos anos vividos e agora aquilo: uma cadeira de balanço e muita amolação. Crianças correndo pela casa, mulheres decidindo sobre sua higiene, homens determinando aonde ir, quando ir, o

Vozes

Vozes

      Heróis não morrem, ficam guardados dentro de nós, e suas palavras, frases inteiras, fazem um coro de inúmeras vozes que vamos juntando durante a vida. São vozes que fazem brotar imagens, cenas em sons e cores. São vozes

João, pra onde?

João, pra onde?

      Haveria muito o que falar do velho João. Homem que tem o maior rio do mundo no nome; rio brasileiro. E que, além de Amazonas, é João, nome por todos os modos e elocuções simples e brasileiramente cristão.

O esgoto

O esgoto

Arquitetas sob os pés das calçadas as mínimas rugas de um rio devasso E une, com lamentosa negridão, intestinos e memórias. Traças nos subterrâneos da cidade teu nome e, caldoso e frio, unifica os homens em suas misérias. Ah,

Entre-estações

Entre-estações

      O sol não sabe se fica ou se vai embora. Nesta indefinição, não sabemos que fazer: se vestir manga comprida, ou manga curta; se calçar sandália, ou sapato; se sair de guarda-chuva ou sem. Por outro lado, não

Correspondências

Correspondências

      O século aqui chegou todo molhado de chuva. E permaneceu assim encharcado até que eu me resolvesse a retornar para S. Paulo. Aí ele amanheceu e despachou a chuva comigo nas asas de um avião. Cheguei dia 7,

Manhãs brasileiras

Manhãs brasileiras

A escuridão nos apavora e o medo, severo, no resigna. despertamos de olhos fechados para o tempo, protestando contra a luz, ingerimos nossos pães e nossos sonhos sem ao menos considerá-los e nos transladamos para o mundo, pela porta.

DOIS POEMAS DO RIO

DOIS POEMAS DO RIO

I – ESTADO DE SÍTIO Aterrado, cruzo o Flamengo. Bruscas são suas árvores e seu chão artificializado. Ásperos são seus ventos por sobre as águas amedrontadas. Salto a avenida. Rompe do asfalto o cheiro de urina que infesta esses

O CAMPONÊS

O CAMPONÊS

Arrebatada a última semente, o que me sobrará? O chão e a fertilidade de sua secura? O sol e a infelicidade de sua presença? Ou a fome e a impunidade de seus delitos? Ninguém veio e nem virá acudir