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Um senador romano

Em sua toga branca e no solo encarnado, César vencido jaz com toda a majestade. O bronze de Pompeu olha na eternidade, com seu verde sorriso, o corpo ensanguentado.   A alma que abandonou o homem apunhalado por Brutus,

O morcego

Meia-noite. Ao meu quarto me recolho. Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede: na bruta ardência orgânica da sede morde-me a goela ígneo e escaldante molho.   “Vou mandar levantar outra parede…” – digo. Ergo-me a tremer. Fecho

Versos de Outono

A René Pérez   Quando a ti se encaminha, meu pensar se perfuma: tão doce é o teu olhar que se torna profundo. Sob os teus pés desnudos ainda há brancor de espuma, e em teus lábios resumes a

A pequena balada de Plóvdiv

(Bulgária)   Na velha povoação de Plóvdiv, bem longe, lá, meu coração morreu uma noite e nada mais.   Uma longa mirada verde, bem longe, lá, úmidos lábios proibidos e nada mais.   O céu búlgaro brilhava, bem longe,

POMAR ABANDONADO

No pomar abandonado onde pessegueiros velhos se curvam para o chão, cabras ávidas, de pé nas patas traseiras, quebram galhos cobertos de frutos verdes e ficam a roer tranquilamente as folhas.   Os cabritinhos lamentosos andam em volta das

A BOIADA

A caminho dos portos e dos curros, fazendo curva ou retidões de réguas, desce a boiada, aos corcovões e esturros, vencendo estradas de noventa léguas.   Vem das pastagens de Inhamuns*. E, entre urros, a poeira, e as filas

A canção do bongô

Esta é a canção do bongô:   – Aqui o que mais fino for, responde, se o chamo eu. Uns dizem: agora mesmo, outros gritam: já me vou.   Porém, meu repique bronco e minha profunda voz chamam o

Cravos de abril

Os cravos portugueses Sagraram-se Pelo sangue derramado De negros e alvos.   Os cravos, o povo português Os porta à mão como quem empunha um fuzil. E ao cravá-los na lapela, Pulsa-lhes um segundo coração.   Os cravos portugueses

Palavras a um futuro governante (de Joad para Joás)

Meu filho, oh ainda assim vos poderei chamar! Permiti-me a ternura, o modo de falar, as lágrimas de angústia, entre tantos horrores, que me arrancam, por vós, os mais justos temores. Crescestes junto a mim e do trono afastado.