Morreu em Moscou, a 1.° de setembro último, aos 52 anos de idade, Andrêi Alexandrovitch Zhdánov. Milhões de homens, não só na URSS mas em todo o mundo, choraram a morte desse combatente bolchevique herói da guerra civil, construtor do socialismo, teórico marxista, lutador da frente anti-imperialista.

Que extraordinária afinidade unia esses milhões de homens de modo que significasse para eles uma perda tão sensível a morte de Zhdánov? Unia-os o laço mais forte e inquebrantável que jamais aproximou os seres humanos como irmãos e lhes deu tamanho sentido de solidariedade: a luta pela edificação de uma sociedade sem classe e o fim da exploração do homem pelo homem.

Nessa luta gigantesca Zhdánov foi um grande comandante, digno discípulo de Marx, Engels, Lenin e Stalin.

Filho daRevolução, Zhdánov foi uma das figuras que mais fielmente encarnou o sentido novo da época do socialismo. E é justamente isto o que faz dele um autêntico herói do povo, admirado e querido pelas grandes massas.

“Os heróis, os grandes homens podem desempenhar um importante papel na vida da sociedade somente na medida em que saibam compreender acertadamente as condições de desenvolvimento da sociedade, compreender como modificá-las para melhorá-las.”(1)
É o que nos ensinam os mestres do marxismo. E a experiência da luta revolucionária moderna comprova na prática a justeza desse conceito, de que um homem como Zhdánov é uma das melhores demonstrações.

Revolução e Guerra Civil

Aos 16 anos Zhdánov já compreendia a necessidade de uma mudança na vida de seu país corroído pelo cancro do czarismo. Participa então em Círculos de estudantes social-democratas de Tver, hoje Kalinin. Ainda na extrema juventude, encontra o caminho para levar à prática seus ideais revolucionários: o Partido Bolchevique, o partido dos trabalhadores, no qual ingressa em 1915, aos 19 anos.

Zhdánov compreendia:

“a necessidade de um novo partido, de um partido combativo, de um partido revolucionário, bastante intrépido para conduzir os trabalhadores à luta pelo Poder, bastante experimentado para orientar-se nas condições complexas da situação revolucionária e bastante flexível para vencer todos e cada um dos obstáculos que se interponham no caminho de seus objetivos”(2).
Ao irromper a Revolução de Outubro, dirigida pelo Partido Bolchevique, Zhdánov faz parte de um regimento militar, nos Urais, como suboficial das tropas de reserva. A Rússia czarista se esboroava na guerra inter-imperialista, mas dentre os escombros da velha sociedade fermentavam as forças do futuro. No 139 Regimento de Infantaria, em Chadrinsk, um jovem de 21 anos liderava um grupo de soldados bolcheviques. Zhdánov revelava-se então o futuro mestre de organização do Partido, em cujos ombros repousariam mais tarde tarefas da maior responsabilidade.

A partir de sua primeira assembléia, em agosto de 1917, o grupo de bolcheviques de Chadrinsk realizaria um trabalho sistemático entre os soldados do regimento czarista. Mas esse trabalho não deveria ficar circunscrito ao exército. Deveria atingir de preferência os trabalhadores e a massa camponesa, a grande reserva indispensável à vitória da revolução proletária que se avizinhava. Zhdánov realizava freqüentes visitas aos operários têxteis, levando-lhes esclarecimentos políticos. E rapidamente a organização por ele fundada se reforçava com tecelões e ferroviários. A massa camponesa» miserável e revoltada, ao contacto com os bolcheviques, ia-se radicalizando e se preparando para a grande virada que se aproximava. Ao lado da classe operária e guiada por esta, ela seria uma grande força no movimento revolucionário. Nas diversas sedes do Distrito da comarca de Chadrinsk surgiam Comitês Bolcheviques.

Mas Zhdánov organizador se completava com o combatente da frente ideológica, tratando de liquidar a influência dos chamados “social-revolucionários” locais sobre as massas. Estes finalmente perderam para os bolcheviques seu controle, não só das seções operárias e de soldados do Soviet local, mas também da organização camponesa.

A Revolução de Outubro viria encontrar a frente dos Urais preparada para a vitória, participando decisivamente da insurreição armada que pôs por terra o domínio da burguesia, prolongado no governo de Kerenski, depois da queda do czarismo.

Vieram em seguida a intervenção militar estrangeira e a guerra civil. Mas a força do proletariado russo e das massas camponesas que o acompanharam se revelou invencível, sob a direção suprema aos bolcheviques, guiados por Lenin e Stálin.

O Comitê Central do Partido Bolchevique, analisando mais tarde as causas fundamentais do triunfo sobre a burguesia nacional e os imperialistas estrangeiros concluiria que uma delas era que:

“a educação política do Exército Vermelho estava a cargo de militantes como Lenin, Stalin, Molotov, Kalinin, Svérdlov, Kaganóvitch, Ordjónokdize, Kirov, Kuibichev, Mikoian, Zhdánov. . . e outros”(3).
A Andrêi Zhdánov, apesar de sua juventude, confiara o Partido o comando de uma das frentes decisivas para assegurar a vitória da revolução: os Urais.

Zhdánov soube ser digno dessa confiança, colocando-se de corpo e alma a serviço da causa da revolução, que era a causa do proletariado mundial.

Homem de Partido

Mas Zhdánov soube tão bem cumprir suas enormes tarefas na Revolução e na guerra civil por ser um combatente da vanguarda da classe operária, um bolchevique, um soldado do Partido que lidera nos tempos atuais a luta do novo contra o velho, do que nasce contra o que morre.

Zhdánov era um homem de Partido.

Desde as vésperas da revolução, compreendeu claramente que uma obra tão gigantesca como a que tinham pela frente os revolucionários russos só poderia ser realizada pela classe mais revolucionária da história a classe operária. E essa classe exigia um guia para a sua luta, uma direção para seus movimentos. Somente através de um Partido de classe, forte e unificado, estruturado sobre firmes princípios ideológicos, poderia o proletariado conquistar vitórias decisivas, manter as posições e ocupar dignamente o lugar que lhe reserva a história.

A Revolução e a guerra civil haviam provado a qualidade desse partido novo de uma classe nova e revolucionária até o fim. Num imenso país de 150 milhões de habitantes o Partido Comunista bolchevique havia conduzido vitoriosamente a luta pela derrocada da mais feroz reação, esmagando a cabeça do monstro czarista a que Marx chamara “o gendarme da Europa”.

Zhdánov mostrou-se digno discípulo de Lenin e Stalin na compreensão do papel do Partido para a construção da nova sociedade sem classe.

Lenin e Zhdánov

Foi essa justa compreensão que levou o jovem Andrêi Zhdánov, encarregado, de 1918 a 1822, do trabalho político militar do Partido e dos Soviets nos Urais e em Tver, a escrever um artigo para o “Pravda” de 17 de maio de 1919, sobre emulação socialista, artigo de tamanha importância que Lenin o transcreveria na Integra num de seus trabalhos — “Uma grande iniciativa”.

Falar hoje em emulação socialista, depois de 30 anos de experiências no regime soviético, é coisa fácil. Mas, menos de dois anos depois da Revolução de Outubro, com a Rússia mergulhada no caos da guerra civil e da intervenção armada estrangeira, era preciso ser um revolucionário autêntico, que enxerga o novo que surge na cadeia dos acontecimentos, um homem que aprendia com a massa, que bebia na prática diária os ensinamentos que pudessem assegurar a vitória e fazer avançar a Revolução. São estas qualidades que encontramos em Andrêi Zhdánov, aos 23 anos, qualidades que a perspicácia e o gênio político de Lenin descobririam logo, considerando o trabalho de Zhdánov “tão importante. . . que o reproduzimos integralmente”, e apontando-o como “magnífico exemplo digno de ser imitado”, acrescentando a palavra “magnífico” ao conceito emitido pelo “Pravda”.

No seu artigo “Trabalho Revolucionário”, Zhdánov se refere a uma carta em que o Comitê Central do Partido concita a “trabalhar de uma maneira revolucionária”, afirmando que a mesma constituíra um grande estímulo para as organizações comunistas e para os comunistas. E a seguir citava o exemplo dos ferroviários da linha Moscou-Kazán; que haviam decidido, numa assembléia geral, “contribuir efetivamente para a vitória sobre Koltchak”, aprovando uma proposta para que os comunistas e seus simpatizantes realizassem “um novo sacrifício”, dando uma hora de trabalho de seu tempo de repouso. Seriam, no fim da semana, “seis horas consecutivas de trabalho físico, para alcançar um resultado imediato e realmente efetivo”. As seis horas semanais formavam o “sábado comunista”. “Os sábados comunistas se realizarão em toda a rede, até que se tenha conseguido uma vitória completa sobre Koltchak” — decidiam os ferroviários da estrada Moscou-Kazán, E com seu exemplo, transmitido por Zhdánov e divulgado para toda a Rússia pelo chefe da Revolução socialista, os “sábados comunistas” se transformariam no motor de todo o trabalho revolucionário, desde a retaguarda até a frente, das ferrovias e minas aos campos de batalha. Eram o germe da emulação socialista que tornaria vitoriosos os planos qüinqüenais stalinianos, a própria edificação do socialismo. O sentido de Partido crescia em Zhdánov, completando o revolucionário.

Dirigente do Partido

As responsabilidades de Zhdánov aumentavam de dia para dia. Liquidada a intervenção militar estrangeira, charco em que se alimentava a guerra civil, e esmagados Koltchak, Denikin e comparsas, o Partido envia Zhdánov para Tver, como encarregado da direção do Comitê Executivo da região, onde permanece até 1924.

É quando o Partido inicia uma cerrada luta contra os desvios trotskistas. Aparece então uma das obras mestras de Stalin, destinada a preservar os princípios marxistas-leninistas dentro do Partido e exterminar os inimigos do socialismo: “Os Fundamentos do Leninismo”. É uma advertência contra os inimigos embuçados de comunistas, e um apelo a todos os bolcheviques honestos para cerrarem fileiras em torno do Comitê Central, esmagar ideologicamente seus adversários e prosseguir a marcha vitoriosa para o socialismo.

Zhdánov já se revelara um dos homens fiéis ao leninismo, de tal forma que de 1 924 a 1934 passa a ocupar um dos postos de maior responsabilidade do Partido, no trabalho de direção da região de Gorki, antiga Njini-Nóvgorod, a mais importante das vizinhas cidades a leste de Moscou, aonde se recolhera Lenin depois de agravar-se seu estado de saúde.

O fato do 14.° Congresso do Partido, em 1925, ter escolhido Zhdánov para suplente do Comitê Central mostra que sua atividade na região de Gorki correspondia aos objetivos fundamentais do Partido para a marcha vitoriosa da Revolução e a construção do socialismo. De fato, a URSS começa então a acelerar o ritmo de recuperação econômica. A produção agrícola se aproxima do nível de antes da guerra em 87%, enquanto a produção industrial chega a 75% da produção de antes da guerra. O plano de eletrificação, um dos grandes sonhos de Lenin para a edificação socialista, prossegue com êxito. Operários e camponeses melhoram seu padrão de vida, o que resulta num avanço da atividade política das massas. Fortalece-se assim a ditadura do proletariado e aumentam a autoridade e a influência do Partido.

A Construção do Socialismo

Coloca-se na ordem do dia não apenas a restauração econômica, mas o problema básico da mais alta importância: a construção do socialismo na União Soviética. Um mundo de problemas teóricos e práticos se apresentavam aos dirigentes bolcheviques, exigindo solução imediata, revolucionária. O mesmo 14.° Congresso em que o Zhdánov é escolhido suplente do Comitê Central aprovou esta resolução histórica:

“No terreno da edificação econômica, o Congresso parte do critério de que o nosso país, o país da ditadura do proletariado, conta “com todos os elementos necessários para construir uma sociedade socialista completa” (Lenin). O Congresso compreende que a luta pelo triunfo da construção do socialismo na URSS é missão fundamental do nosso Partido”(4).
É precisamente durante sua permanência em Gorki que Zhdánov participa de uma das fases decisivas da luta pela construção do socialismo. O Partido trava ações simultâneas nas diversas frentes. Move uma guerra de vida ou morte contra os inimigos internos e externos, contra renegados e sabotadores, ao mesmo tempo que inicia a leva avante a planificação econômica.

À região de Gorki, a cargo de Zhdánov, destinada a ser uma das mais importantes bases industriais da URSS, dedicam o Partido e o Estado particular atenção. E só isto diz das enormes responsabilidades que recaiam sobre os ombros de Zhdánov, uma vez que o desenvolvimento econômico deveria correr paralelo ao desenvolvimento político dos construtores do socialismo.

O 16.° Congresso do Partido, instalado em junho de 1930, passa à história como o “Congresso da ofensiva do socialismo em toda a frente, da liquidação dos kulaks como classe e da realização da coletivização total” (Stalin)(5).

Para tarefas tão gigantescas, o Partido e o Estado requeriam homens dedicados e firmes, fiéis a toda prova ao marxismo-leninismo. E não é por acaso que o 16.° Congresso elege Zhdánov para o Comitê Centra! do Partido, como membro efetivo.

O Congresso lançava um audacioso encargo ao Comitê Central:

“assegurar, para o futuro, os impetuosos ritmos bolcheviques na edificação socialista, para conseguir realmente executar o Plano Qüinqüenal em quatro anos”.(6).
O 16.° Congresso foi a mola propulsora da vitória do Primeiro Plano, transformando a URSS em todos os sentidos. O Partido e as massas haviam compreendido a justeza das palavras, de Stalin contra os oportunistas, que desejavam amortecer o ritmo do desenvolvimento da indústria socialista.

“… Os charlatões que falam na necessidade de amortecer o ritmo do desenvolvimento de nossa indústria são inimigos do socialismo, agente de nossos inimigos de classe” — assinalava Stalin (7).
Mas contra eles o Partido estava vigilante, e lhes respondia com êxitos cada vez maiores, encarando resolutamente todos os problemas suscitados e resolvendo-os rapidamente. “Marchamos 50 ou 100 anos atrás dos países mais adiantados. Em dez anos temos que ganhar este terreno. Ou o faremos ou nos esmagam. . .” — constatava corajosamente o grande Stalin, na primeira conferência dos ativistas da indústria, em fevereiro de 1931. “A técnica, no período da reconstrução, decide tudo” — acrescentava o sucessor de Lenin.

E a história lhe daria razão.

Ao reunir-se o 17.° Congresso do Partido, em janeiro de 1934, Stalin assinalava as transformações radicais que se haviam verificado em todos os ramos da economia soviética, e da cultura, e constatava que a linha geral do Partido havia triunfado plenamente. O 17.° Congresso ficou conhecido como “o Congresso dos Vencedores”. A URSS dera um gigantesco salto à frente, convertendo-se de um país agrário num país industrial; de um país de pequenas explorações agrícolas individuais num país de grandes explorações agrícolas coletivas e mecanizadas; de um país obscurantista, analfabeto e inculto, num país instruído e culto.

A indústria socialista representava já 99 por cento de toda a indústria nacional. A agricultura socialista compreendia 99 por cento de toda a superfície cultivada do país. Os antigos elementos capitalistas haviam sido desalojados do comércio.

Entre os vencedores da velha ordem decaída se destacava no 17.° Congresso — no “Congresso dos Vencedores” — Andrêi Zhdánov, cujos feitos na direção do Partido e na obra gigantesca de lançamento das bases do socialismo na região de Gorki o tornariam digno de uma das mais altas honras de um combatente comunista — ser elevado a Secretário do Comitê Central do Partido Comunista Bolchevique da URSS.

Em Leningrado

Mas enquanto a construção socialista avançava, os inimigos da classe operária muitos deles carregando a máscara de membros do Partido sonhavam a volta ao passado, o restabelecimento do velho regime burguês decaído havia mais de três lustros. Além da obra de sabotagem da economia soviética, tramavam o extermínio dos dirigentes bolcheviques.

Uma de suas primeiras vítimas é Sérguei Kirov, cujo assassinato em 1.° de dezembro de 1934, em Leningrado, desfalca o Partido e o Estado soviético de um dos mais dinâmicos e querido de seus líderes.

A importância de Leningrado, como uma das portas da comunicação da URSS com o mundo capitalista, fora comprovada desde os primeiros dias da Revolução. O Partido e a própria segurança do Estado Soviético, exigiam que o berço do movimento revolucionário bolchevique se transformasse em guardião da nova sociedade em construção.

Por isso Leningrado e todo o povo da URSS exigiam que o grande Kirov tivesse um digno substituto. O Partido conhecia seus homens. No mesmo dezembro trágico de 1934, Zhdánov saia de Gorki para ocupar o lugar que Kirov deixara vago. Fora eleito Secretário do Comitê do Partido bolchevique na região e cidade de Leningrado.

E ai saberia seguir os ensinamentos que o Comitê Central tirara do infame assassinato de Kirov, advertindo às organizações do Partido:

“É necessário acabar com essa benignidade oportunista que parte da suposição errônea de que à medida que se desenvolvem nossas forças o inimigo se torna mais dócil e mais inofensivo. Esta suposição é radicalmente falsa. . . Não devemos esquecer que quanto mais desesperada for a situação de nossos inimigos, de melhor grado recorrerão eles aos “meios extremos”, como os únicos de que dispõem pessoas fatalmente condenadas ao fracasso em sua luta contra o Poder Soviético. Devemos ter isto em vista e permanecer vigilantes”.(8)
As vitórias da construção socialista na cidade e na região, de Leningrado estão indissoluvelmente ligadas ao nome glorioso de Andrei Zhdánov, e o credenciaram a cargos mais elevados no Partido e no Estado. Pelos notáveis êxitos alcançados na direção da construção socialista, Zhdánov é condecorado com a “Ordem de Lenin”. Nesse mesmo ano de 1934, no 7° Congresso dos Soviéts, é eleito membro do Presidium do Comitê Central Executivo da União Soviética, o órgão central do Governo Soviético. É ainda suplente do Bureau Político do Comitê Central do Partido Comunista Bolchevique da URSS. Seus notáveis feitos na região de Leningrado, sobretudo, no desenvolvimento da agricultura socialista, tornaram-no digno da “Ordem da Bandeira Vermelha”, com o qual foi condecorado em 1939.

Tamanhos encargos e honrarias só podiam ser confiados a um grande homem, cujas realizações o elevaram à condição de um verdadeiro dirigente bolchevique, herói da construção do socialismo.

Zhdánov era esse grande homem, esse dirigente bolchevique, esse herói de um novo mundo.

Na Direção da Internacional

A obra de Zhdánov era parte inseparável da luta do proletariado de todos os países pelo socialismo e pela paz, seriamente ameaçados pelo fascismo. Este não constituía uma ameaça à URSS isoladamente, mas a todo o movimento operário internacional, exigindo a concentração de todas as forças do proletariado para impedir a sua escravização e assegurar a continuidade da luta histórica pelo socialismo.

Um grande papel nessa luta estava reservado à Internacional Comunista. A ela caberia organizar e dirigir uma das batalhas decisivas na guerra de classe, guerra que se aguçava precisamente ante as gigantescas vitórias dos trabalhadores soviéticos e do crescimento das forças do proletariado mundialmente.

O 7º Congresso da Internacional Comunista, em 1935, seria um brado de alerta aos trabalhadores e aos povos para a luta contra a guerra e o fascismo, na base do reforçamento da unidade da classe operária. O problema da frente única contra o fascismo estava na ordem do dia, como um imperativo para salvaguardar a paz e as conquistas do proletariado, de que a URSS era o baluarte invencível.

O 7º Congresso da Internacional Comunista revelaria aos trabalhadores não só o caminho a trilhar, mas também novos dirigentes operários do tipo leninista-stalinista, decididos a todos os sacrifícios, para a condução da mais árdua batalha que se ia travar, Zhdánov surgiu como um dos maiores entre os novos líderes proletários internacionais, sendo eleito membro do Presidium de Comitê Executivo da internacional Comunista.

Nesse posto ele soube honrar mais uma vez a bandeira do inter-nacionalismo proletário, como um verdadeiro marxista. E foi ainda como bom marxista-leninista que, oito anos mais tarde, em maio de 1943, Zhdánov assinou a proposta de dissolução da Internacional Comunista como centro dirigente do movimento operário internacional. Novas condições haviam surgido exigindo novos métodos de trabalho. A direção da Internacional Comunista fez então a seguinte caracterização da situação em que se encontrava o movimento revolucionário mundial:

“A profunda diversidade dos caminhos históricos no desenvolvimento dos diferentes países do mundo, como o caráter distinto e mesmo contraditório de seus regimes sociais, a diferença de nível e de ritmo de desenvolvimento social e político, e finalmente a diversidade de grau de consciência e de organização dos operários, impuseram também tarefas diferentes à classe operária dos diversos países”(9).
A Internacional cumprira seu papel histórico: unificara como nunca o movimento operário mundial, forjara novos quadros dirigentes e concentrara as forças de vanguarda da classe operária para o esmagamento do principal inimigo do proletariado — o fascismo. Autênticos Partidos Comunistas de massa agrupavam a vanguarda dos trabalhadores de todos os países. O movimento operário, enfim, desembocara no grande mar da unidade proletária internacional, graças em grande parte à ação de homens destemorosos e conscientes como Andrêi Zhdánov.

Fortalecendo o Partido Bolchevique

Isto foi possível porque o proletariado de todos os países contava, na sua luta, com a fortaleza do socialismo triunfante, a URSS, cujos lideres, antes da agressão fascista, haviam limpado o país dos principais agentes inimigos, espiões e bandidos trotskistas, preparando as bases da vitória.

A união dos povos soviéticos em torno do Partido Bolchevique estava consolidada e seria posta à prova nas eleições de dezembro de 1937, as maiores eleições na história de qualquer povo, às quais concorreriam mais de 90 milhões de votantes, sufragando numa proporção de 98,6% os candidatos comunistas e sem partido.

Essas eleições haviam sido preparadas num pleno memorável do Comitê Central, em fevereiro de 1937, no qual Zhdánov teve participação a mais destacada. Seu informe sobre o cumprimento dos Estatutos pelas organizações partidárias, com a adoção de princípios do centralismo democrático, serviria de base para importantes resoluções do Comitê Central referentes à organização partidária, visando preparar todo o Partido para as eleições.

Às vésperas a guerra, em março de 1939, reunia-se o 18.° Congresso o Partido Comunista bolchevique da URSS, o primeiro depois a promulgação a Constituição stalinista, que consubstanciava os princípios socialistas na prática, abrindo aos povos soviéticos as mais amplas perspectivas de vida democrática que conhece a história.

E, nesse memorável Congresso, ao lado do extraordinário balanço mundial de forças feito no informo político de Stalin, destacava-se o informe de organização de Zhdánov, que determinaria o início de uma verdadeira virada na organização do Partido, desde as bases até a direção. O cerco capitalista, os perigos da invasão, a crescente agressividade fascista, a traição das chamadas democracias ocidentais, da guerra da Espanha a Munich, exigiam maior vigilância e maior concentração de forças. O inimigo não deveria contar com quislings dentro da URSS, em caso de agressão. Era o que significavam as palavras vibrantes de Zhdánov no seu magistral informe:

“A solução dos problemas de construção do socialismo e de defesa das conquistas do socialismo triunfante contra o cerco capitalista e seus agentes dentro da URSS, problemas de significação histórico-universal, exigiram do Partido uma reorganização radicai de seu trabalho político e partidário, assim como de seu trabalho de organização”(10).
Questões fundamentais como o centralismo democrático, o uso constante de uma intensa crítica e autocrítica, uma verdadeira democracia interna e a liquidação do atraso político dos quadros foram encaradas por Zhdánov com notável sabedoria, e encaminhadas a soluções inteiramente revolucionárias.

Foram estabelecidas novas e mais amplas, práticas democráticas como a proibição de eleições por listas nos órgãos do Partido, a votação das candidaturas separadas, garantia a todos os membros do direito ilimitado de criticar os candidatos e recusá-los, votação secreta para os órgãos do Partido e convocação periódica dos ativistas das organizações locais.

“Em que consiste essencialmente a democracia bolchevique dentro do Partido”, perguntava Zhdánov, e ensinava: “Consiste essencialmente no problema da atuação individual, na participação ativa dos membros do Partido no trabalho de direção”(11).
Apesar de tensa situação internacional, tais atos e tais palavras revelavam a confiança absoluta dos dirigentes bolcheviques nas forças dos povos soviéticos, confiança na vitória dos trabalhadores, em qualquer circunstância, confiança no glorioso Partido de Lenin e Stalin, definitivamente limpo da escória inimiga.

No 18.° Congresso, Zhdánov seria eleito membro do Comitê Central do Partido.

Herói da Guerra Patriótica

A 22 de julho de 1941 a construção pacifica da sociedade socialista seria interrompida bruscamente pela traiçoeira agressão dos fascistas alemães contra a União Soviética.

Mas durante os anos transcorridos desde a Revolução, Leningrado se transformara na fortaleza invencível que poria a prova sua força na grande guerra patriótica. E isto precisamente graças à energia férrea de homens como Sérguei Kirov e Andrêi Zhdánov.

A infame agressão fascista ao país do socialismo encontraria em Leningrado uma barreira intransponível erigida com o peito de seus heróis, o esforço de seus operários, e a extraordinária dedicação de seus camponeses kolkozianos. Zhdánov era o poderoso cérebro que comandaria a resistência, desde a madrugada terrível de 22 de junho de 1941, o forjador do espírito inquebrantável que empolgaria os povos, mostrando-lhes que o fascismo podia ser vencido, afirmando-lhes que o fascismo seria esmagado.

Numa de suas vibrantes ordens do dia, Zhdánov mostrava essa confiança magnífica que conduziria à vitória:

“O inimigo é cruel e inexorável —- dizia ele — sua perversidade não conhece limites. À força de organização, de resistência e de bravura, com o extermínio implacável dos assassinos fascistas, podemos e devemos deter a tremenda matança que o inimigo prepara contra o povo soviético, desviar o perigo espantoso que paira sobre nossa Pátria, defender Leningrado do inimigo. Permaneçamos firmes até o fim. Lutemos contra o inimigo sem poupar esforços, até derrotá-lo e aniquilá-lo. Morram os sanguinários bandidos germano-fascistas! A vitória será nossa!”
Leningrado de Andrêi Zhdánov era um incêndio vivo ateado pelo fogo assassino dos canibais nazistas, mas era também o clarão de um novo dia para o mundo. Jamais se renderia a cidade que fora o berço da Revolução proletária.

A construção socialista confirmaria em Leningrado sua superioridade sobre o capitalismo: nem as mais numerosas concentrações de força inimiga conseguiriam vencer-lhe a resistência, embora isolada, semi-destruída, sua população sem pão e sem água. Alimentava-a e dessedentava-a um novo espírito de luta, a convicção de que estava defendendo os fundamentos de um novo mundo e o próprio futuro da humanidade. Sobre este espírito se apoiariam uma nova técnica e uma tática revolucionária, detendo o inimigo e destruindo-o.

À direção firme de Zhdánov deve o povo de Leningrado sua defesa e sua vitória .

Entretanto, as responsabilidades de Zhdánov na guerra contra o fascismo não se circunscreveriam a Leningrado. A ele também fora confiada a grande e honrosa missão de membro do Conselho de Defesa para toda a URSS, o órgão dirigente de toda a ação militar soviética, o qual, sob a chefia suprema de Stalin, conduzia o país do socialismo à mais completa vitória sobre o inimigo da humanidade.

Ao coronel-general Andrêi Zhdánov, membro do Conselho de Defesa da URSS na grande guerra patriótica, portador da “Ordem de Suvorov” e da “Ordem de Lenin” por sua atuação na guerra, deve o povo de Leningrado, Os povos soviéticos e todos os povos do mundo eterna gratidão.

Na Frente Ideológica

A atuação de Zhdánov na frente ideológica do Partido se destaca desde os primeiros anos de sua atividade revolucionária, desenvolvendo-se paralelamente à sua ação prática no terreno da construção socialista. Zhdánov jamais separou os problemas teóricos dos problemas práticos. É o que nos ensina toda a sua vida, desde a juventude, quando mergulhado em trabalhos que exigiam a maior concentração de atividade prática, reconhecia a importância de enviar ao “Pravda” os experiências colhidas no dia a dia.

Seu informe de organização ao 18.° Congresso já mostra o dirigente preocupado em que o desenvolvimento teórico dos quadros acompanhe o ritmo do desenvolvimento material da nova sociedade.

“Para resolver com êxito o problema fundamental do terceiro Qüinqüênio — advertia Zhdánov — o problema da educação comunista dos trabalhadores, da eliminação dos reminiscências capitalistas da consciência dos homens, para resolver com êxito os problemas práticos da edificação socialista, para estar preparado para a luta contra o cerco capitalista e seus agentes, nossos quadros devem armar-se teoricamente, isto é, adquirir o conhecimento das leis do desenvolvimento da sociedade e da luta política”(12).
E, com palavras de fogo, desancava os inimigos do socialismo ou os que na prática faziam o seu jogo, os:

“pseudo moralistas. . . pessoas que quando olham um membro do Partido não vêem mais do que seu esperto negativo. . . Para essa gente, um homem é um esquema que, uma vez plasmado numa determinada forma, deve permanecer inalterável, é um esquema morto”(13) — dizia Zhdánov.
E acrescentava, olhando o presente e o futuro:

“Esquecem que todo nosso trabalho de construção do socialismo, toda a nossa atividade educativa está destinado a conseguir a transformação da consciência dos homens. Precisamente para transformar os homens, para transformar sua consciência, existe o nosso Partido, para isso conquistamos as vitórias do socialismo, para isso apresentamos a tarefa da construção comunista . Se há quem penso que a transformação da consciência dos homens não alcançará os membros do Partido, que os comunistas estão livres de nascença de todos os preconceitos e que não necessitam em absoluto de qualquer reeducação, tem um conceito idealista e esquemático da personalidade humana. Esta atitude, pela qual se julga o homem de um modo abstrato, por um padrão preparado de antemão, e não se estudam todas as suas relações e contingências, é uma atitude que condena à passividade e a uma visão pessimista dos homens. Semelhante atitude pessimista já está relegada ao passado. Nada tem de comum com o bolchevismo. Por sua metodologia, é profundamente contrária ao bolchevismo”(14),
Estas palavras são de um mestre de marxismo, não de um professor que enterra a cara nos livros e deixa de ver a vida e o mundo. São palavras de um revolucionário conseqüente que sabe manejar o marxismo como um bom soldado maneja uma boa arma.

A ação teórica de Zhdánov já provara sua tempera em obras da importância da “História da Guerra Civil”, que tão magníficas experiências encerra. Zhdánov figurou ao lado de Stalin, Molotov, Vorochilov, Kírov, laroslawsky e Gorki, na comissão supervisora desse importante documento.

Igual contribuição daria Zhdánov à “História do Partido Comunista (bolchevique) da URSS”, redigida por uma comissão do Comitê Central do Partido e aprovada para publicação em 1938. O fato de tratar-se de um dos monumentos do marxismo, enfeixando a história de todo o movimento de libertação dos povos que formam hoje a União Soviética, que culminaram em revoluções da importância da de 1905, a revolução democrático-burguesa de fevereiro de 1917 e finalmente a Revolução de Outubro de 17; a transmissão dos magníficos ensinamentos de luta para a construção da sociedade socialista sem classes — tudo isto diz bem da responsabilidade atribuída a Zhdánov como um dos encarregados de sua elaboração.

Literatura e Arte

Mas o dirigente da virada na frente ideológica se imporia em toda a sua grandeza depois da guerra patriótica contra o fascismo, durante a qual ficaram a descoberto os pontos débeis do trabalho teórico e político do Partido. Em 1946, no ano seguinte ao da vitória, Zhdánov participa de uma reunião de ativistas do Partido e noutra de escritores da cidade de Leningrado, debatendo problemas relacionados com duas publicações literárias: “Svezdó” e “Leningrad”, cujas redações estavam infiltradas por inimigos do socialismo.

Zhdánov foi ao fundo da questão, não se contentando em analisar minuciosamente os defeitos e graves erros das duas revistas literárias. Transmitiu então uma lição notável ao destacar que:

“muitos escritores pensam que a política é assunto do Governo e do Comitê Central. Que, como escritores, não lhes compete ocupar-se de política”.
E em seguida dirigia um apelo aos escritores:

“Pedimos que nossos camaradas, tanto os que dirigem o campo literário, como os que escrevem, se guiem — sem o que a ordem soviética não pode viver — pela política, de forma que nossa juventude nossa ser educada não num espírito sem ideologia, descuidado, mas num espírito vigoroso e revolucionário”(15).
A “arte pela arte” recebeu então na URSS a última pá de terra, enquanto a literatura e a arte que exige uma nova sociedade, uma literatura e uma arte que sejam reflexo e motor dessa nova sociedade, recebiam o melhor incentivo nas palavras de Zhdánov:

“O nível das exigências e o gosto de nosso povo se elevaram muito alto, e aquele que não queria ascender ou seja incapaz de ascender a esse nível ficará para trás. A literatura não só deve satisfazer as exigências do povo, mas ainda mais: está obrigada a desenvolver o gosto do povo, a levantar mais alto suas exigências, a enriquecê-las com novas idéias, a conduzir o povo para a frente”(16).
O problema do desaparecimento da oposição entre o trabalho físico e o trabalho intelectual, mostrou Zhdánov nesse importante debate, não é encarado pelo marxismo apenas em teoria, mas na prática, não havendo portanto nenhuma razão para que os intelectuais fossem menos responsáveis perante o povo do que os trabalhadores da frente da produção socialista.

Zhdánov estigmatizou os que pudessem estranhar tais críticas ao trabalho intelectual, dizendo:

“Pensam que se há um desperdício na produção ou se não se cumpre um programa de produção de artigos para consumo das massas, ou não se realiza um plano de armazenamento de madeiro, é muito natural uma crítica, mas se o desperdício ocorre em relação à educação das almas humanas, se se permite um desgaste nos problemas da educação da juventude, então se deve ser tolerante. Realmente, não é esta uma falta muito mais cruel do que o não cumprimento de um programa de produção ou a desorganização de uma tarefa de produção?”(17).
E concluía:

“Não se pode esquecer o trabalho ideológico! o Tesouro espiritual do nosso povo não é menos importante que seu tesouro material. Não se pode viver cegamente, sem velar pelo futuro, nem no esfera da produção nem na esfera ideológica”, devendo ser liquidadas todas as “tentativas para desviar o destacamento literário … e seus órgãos para o canal da vacuidade ideológica, de falta de princípios e do apoliticismo”(18).
Quem quer que deseje escrever para o povo, quem não quiser cair no charco imundo da teoria burguesa da “arte pela arte”, não pode prescindir dos profundos ensinamentos de Zhdánov ao discutir os problemas ideológicos. Esses ensinamentos são a cúpula de tudo o que ensinaram Marx, Engels e Lenin sobre a ideologia como reflexo da existência social.

Zhdánov seguia a trajetória stalinista, indicando novos caminhos para a literatura e a arte, não só na URSS como em todo o mundo.

No Campo Filosófico

O aparecimento do marxismo foi uma verdadeira descoberta, foi uma revolução na filosofia”(19) — disse Zhdánov na sua intervenção no debate realizado em Moscou, durante dez dias, em junho de 1947. E em torno desta constatação até então ainda não compreendida por todos os estudiosos do marxismo, desenvolveu as mais profundas considerações sobre o livro que era o pivot dos debates: “História da filosofia da Europa Ocidental”, de G. Alexándrov.

Mas o ponto central da intervenção de Zhdánov foi a demonstração de que, sendo o marxismo uma revolução em filosofia, expressando uma nova concepção do mundo do ponto de vista de uma classe em ascensão,

“é a superação das velhas filosofias, das que eram propriedade de uns poucos eleitos da aristocracia do espírito; é o princípio de um período completamente novo na história da filosofia, quando cia se torna uma arma científica nas mãos das massas proletárias, que lutam por sua libertação do capitalismo”(20).
Zhdánov restabelecia assim, corajosamente, o princípio da filosofia de partido, que está no âmago do marxismo e que Lenin soube ver com verdadeira genialidade, ensinando que

“o materialismo encerra em si, por assim dizer, uma posição de partido que nos obriga, em qualquer apreciação dos acontecimentos, a tomar direta e abertamente o ponto de vista de um determinado grupo”(21).
O que não é materialismo é idealismo, reafirmou Zhdánov. E como um autêntico marxista faz uma critica arrasadora de todas as influências idealistas ainda existentes no setor da filosofia soviética, mostrando serem essas influências as causas fundamentais de suas debilidades. E tais influências persistem, acrescentou Zhdánov, devido à “ausência de discussões, da crítica e autocrítica”.

“A questão sobre a crítica e a autocrítica bolchevique é para os nossos filósofos não somente uma questão prática, mas também profundamente teórica”(22), afirmou Zhdánov.
E pela primeira vez mostrou que a crítica e a auto-crítica são o próprio, conteúdo do processo de desenvolvimento na sociedade soviética, na sociedade onde não existem mais os antagonismos de classes . . .

“Essa forma particular de luta entre o velho e o novo, entre o que morre e o que nasce, na sociedade soviética, é o que se chama crítica e auto-crítica”(23)
Acrescentou Zhdánov transmitindo uma profunda lição de filosofia, e salientando que

“já é tempo de impulsionar a teoria da sociedade soviética, do Estado soviético, a teoria das ciências naturais contemporâneas, da ética e da estética”. E Zhdánov acentuava: “Eis onde se encontra o mais largo campo para o investigação científica, e este campo nenhum dos nossos filósofos palmilhou”(24).
Entretanto, Zhdánov soube, melhor do que qualquer estudioso de filosofia, expor e aprofundar tão importantes questões filosóficas principalmente pelo fato de ser um marxista criador, um materialista-dialético, chamando a atenção para o grave erro dos que consideram o marxismo-leninismo como uma ciência acabada e completa, que atingiu seu último grau de desenvolvimento. “Tal raciocínio, diz Zhdánov, contradiz o espírito do marxismo-leninismo, visto que começa por apresentar o marxismo metafisicamente”.

Zhdánov encarou a filosofia do ponto de vista da ciência materialista, como um instrumento de luta a serviço da classe operária, não só na URSS mas em todo o mundo. Sua extraordinária contribuição no terreno filosófico consiste precisamente em ter fugido à ciência de gabinete para colocar a filosofia como uma “arma nas mãos das massas proletárias”. É o que expressam suas palavras de encerramento desse verdadeiro congresso de filosofia, o mais importante debate filosófico já havido em qualquer tempo, em qualquer país.

“Das cinzas da guerra — diz Zhdánov — nasceram novos estados democráticos e o movimento de libertação nacional dos povos coloniais. O socialismo se impôs na ordem do dia da vida dos povos. A quem cabe a tarefa, senão a nós, do país em que venceram o socialismo e seus filósofos, de ajudar os nossos amigos e irmãos do estrangeiro e esclarecê-los na sua luta pela nova sociedade à luz do conhecimento do socialismo científico; a quem senão a nós cabe a tarefa de esclarecê-los e equipá-los com as armas ideológicas do marxismo?”(25).
Zhdánov, em nome do Comitê Central do Partido Comunista, repunha a ciência filosófica dentro do princípio de que o marxismo não é um dogma, mas um guia pára a ação; não é um corpo de doutrina morto, mas vivo e em constante desenvolvimento, porque ele mesmo é uma síntese das contradições entre o que perece e o que nasce.

Na Frente Anti-Imperialista

Era sempre no terreno dos fatos concretos que o marxista Zhdánov punha à prova aquele princípio teórico. Assim foi que se destacou sua atuação na reunião dos Partidos Comunistas europeus, na Polônia, em fins de setembro de 1947. O movimento operário mundial recebeu então a mais importante ajuda, que só um Partido com as imensas experiências do Partido bolchevique poderia fornecer.

Zhdánov, num magnífico estudo das forças políticas do após guerra, abre os olhos da classe operária e dos povos para uma realidade que devia ser encarada com decisão e espírito de luta: a divisão do mundo em dois campos antagônicos. Dizia Zhdánov no seu informe à Conferência dos 9 Partidos na Polônia:

“Formou-se um novo reagrupamento das forças políticas. Quanto mais nos afastamos dó fim da guerra,, tanto mais nítidas ficam as duas principais direções da política mundial do após-guerra, corres-pond2ntes à disposição em dois campos principais das forças políticas que operam na arena mundial: de um lado, o campo imperialista e anti-democrático, e de outro o campo anti-imperialista e democrático”.(26)
Zhdánov mostrava que, pelo rumo da política seguida pelos Estados Unidos, como o país capitalista que lucrara com a guerra e expandira suas forças e seu domínio econômico, através dos grandes monopólios imperialistas, tentando consolidar sua posição monopolista e colocar sob sua dependência outros países, eram os Estados Unidos a principal força dirigente do campo imperialista. E acrescentava:

“As forças anti-imperialistas e anti-fascistas formam o outro campo. A URSS e os países das Novas Democracias são as suas pilastras. Fazem parte deste campo também os países que romperam com o imperialismo e que se colocaram resolutamente no caminho do desenvolvimento democrático…”(27).
Qual a importância dessa caracterização de forças feita por Zhdánov? Estava implícita de sua própria exposição. Os povos amantes da liberdade, que haviam sacrificado milhões de seus filhos na guerra contra o fascismo, não podiam cruzar os braços e esperar uma nova avalanche de ferro e fogo. Deviam ficar alerta e lutar antes que fosse tarde. Para lutar era preciso conhecer o inimigo, suas forças, sua estratégia e suas táticas.

E Zhdánov ia mais uma vez aos fatos, dos quais o primeiro denuncia todos os demais: o imperialismo americano realiza unia política sistemática de militarização do país. Para o ano de 1947-48, os Estados Unidos destinaram às suas forças armadas 35% de seu orçamento, onze vezes mais do que em 1937-38. No início da segunda guerra mundial, o exército dos Estados Unidos ocupava o 17.° lugar entre os exércitos dos países capitalistas, enquanto hoje ocupa o primeiro.

Por outro lado, os desejos expansionistas norte-americanos estavam desmascarados no chamado “Plano Marshall”, nada mais nada menos que um programa de submissão dos povos da Europa à potência econômica de Wall Street.

“A “ajuda” americana — dizia Zhdánov — leva consigo, quase automaticamente, uma mudança de linha política do país que recebe a “ajuda”: vão ao poder partidos e personalidades obedientes às diretivas de Washington, prontos a realizar na sua política interna e externa, o programa desejado pelos Estados Unidos”(28).
Concluía então Zhdánov pela necessidade inadiável de uma frente unida de todas as forças democráticas e progressistas, em cada país e em todo o mundo, para a luta contra o expansionismo norte-americano.

“. . .Cabe aos Partidos Comunistas — frisava Zhdánov — a função histórica específica de pôr-se à frente da resistência ao plano americano de subjugação da Europa, e desmascarar resolutamente todos os auxiliares internos do imperialismo americano”(29).
E ampliando ainda mais as largas perspectivas que já abrira à luta dos povos, finalizava seu informe com estas palavras:

“Se os Partidos Comunistas permanecerem firmes em suas posições, se não se deixarem intimidar e enganar, se se puserem corajosamente em guarda por uma paz sólida e pela democracia popular, em guarda pela soberania nacional, pela liberdade e independência de seus países, se na sua luta contra as tentativas de submissão de seus países souberem colocar-se à frente de todas as forças, prontos a defender a causa da honra e da independência nacional, nenhum plano de dominação da Europa poderá, ser realizado”(30).
Eram palavras de um homem que confia nas massas populares, em sua força e ação criadora, em sua capacidade de remover todos os obstáculos. Tornava-se necessário, entretanto, para alcançar a vitória sobre o inimigo da humanidade, sobre o imperialismo, .que a classe operária não subestimasse suas próprias forças e não superestimasse as forças do inimigo.

Os acontecimentos internacionais subseqüentes mostraram a justeza da análise de Zhdánov sobre a nova situação do após-guerra. O surgimento do Bureau de Informação dos principais Partidos Comunistas da Europa, na reunião da Polônia, marca uma nova etapa da luta da classe operária pela sua libertação, com o reforçamento das forças democráticas e anti-imperialistas colocadas no centro mundial em que se chocam os dois campos antagônicos.

Jacques Duclos, o grande dirigente comunista francês que representou seu Partido na reunião da Polônia, daria mais tarde seu depoimento sobre a figura de Zhdánov e seu papel como representante do Partido Bolchevique, cujas experiências estavam servindo aos comunistas de todo o mundo.

“Grande, muito grande — disse Duclos — foi a impressão que nos causou o camarada Zhdánov. Ele nos tinha ajudado a ver claro a situação. Tinha ajudado o nosso Partido a ver, a compreender e a corrigir o que havia de defeituoso e errado em sua atividade. A arma da crítica e da autocrítica nos dava novas possibilidades para marcharmos porá a frente. O Partido Bolchevique, o camarada Stálin, o camarada Zhdánov tinham prestado um grande serviço aos Partidos Comunistas, definindo luminosamente as condições novas do luta” (31).

Zhdánov em Bucarest

Apenas três meses antes de sua morte, Zhdánov comparecera a uma nova reunião do Bureau de Informação dos Partidos Comunistas. Um problema da máxima importância estava na ordem do dia: a posição do Partido Comunista da Iugoslávia, cuja direção havia incorrido em erros dos mais graves em relação ao marxismo-leninismo, e que, criticada pelos partidos irmãos, havia recusado reconhecer seus desvios e corrigi-los, afastando-se da família dos Partidos Comunistas.

Ainda desta vez, foi na base de um informe de Zhdánov que o Bureau de Informação adotou a resolução condenando os dirigentes do Partido Iugoslavo responsáveis pelo abandono do marxismo-leninismo e pela adoção de uma política inamistosa em relação à União Soviética e ao Partido Bolchevique.

É que na prática o Partido Comunista Iugoslavo fora liquidado e substituído pela Frente Popular, uma organização de massas amorfas, sem ideologia e sem princípios. No fundo, mais do que simples erros e desvios, estava a traição, como demonstrariam os acontecimentos posteriores. Tito, Kardelj, Djilas e Rankovitch, os principais responsáveis pelo Partido, acabariam tirando completamente a máscara e aparecendo como chefes de um grupo de inimigos do comunismo, da União Soviética e do próprio povo iugoslavo, dirigindo inclusive assassinatos frios de elementos sãos do Partido, como o general Iovanovic.

Cabe a Zhdánov o mérito de haver iniciado o desmascaramento desses adversários embuçados da classe operária, com o mesmo vigor com que lutara em toda a sua vida contra todos os adversários da causa operária, desde sua juventude, nos Urais.

Na histórica reunião de Bucareste confirmavam-se as sábias constatações feitas por Zhdánov na reunião da Polônia, em setembro de 47. Provava-se na prática, mais uma vez, a impossibilidade de ocupar um tereno neutro entre os dois campos em luta, em que se dividiu o mundo. Abandonar o campo democrático e anti-imperialista significaria, como significou para a Iugoslávia de Tito, cair no campo oposto e servir às manobras imperialistas contra o movimento operário internacional, contra a independência e a soberania dos povos, contra o socialismo e o grande baluarte da paz — a União Soviética.

Herói da Classe Operária

Enquanto um milhão de operários, homens, mulheres e jovens desfilavam silenciosos ante o esquife de Zhdánov, na Praça Vermelha do Kremlin, em Moscou, os chacais do imperialismo, no mundo inteiro, rosnavam considerações monstruosas em torno da grande figura do movimento operário internacional que foi Andrêi Zhdánov. Apresentaram-no como “o mais implacável inimigo do mundo ocidental”, confundindo propositadamente a burguesia apodrecida com o mundo ocidental. Falaram em “possíveis modificações na política exterior da União Soviética”, procurando simplesmente criar confusão entre as massas não politizadas. A morte de Zhdánov foi, para os chacais da reação, apenas um motivo de novas intrigas, mentiras e calúnias, nas quais transparecia o ódio impotente, que só pode honrar a memória de Zhdánov e estimular os continuadores de sua gloriosa luta.

É este o sentido da declaração do Comitê Central do Partido Comunista Bolchevique:

“A morte do camarada Zhdánov, filho querido do Partido de Lenin e Stalin, que dedicou toda a sua vida ao serviço da grande causa do comunismo, constitui uma perda muito grande para o Partido e para todo o povo soviético.
“Na pessoa do camarada Zhdánov perde o Partido um destacado teórico marxista, um talentoso propagandista das grandes idéias de Lenin e Stálin e um dos mais proeminentes artífices do Partido e do Estado soviético.”
“Fiel discípulo e camarada de armas do grande Stalin, o camarada Zhdánov, mediante sua vigorosa atitude em prol do bem-estar da Pátria Soviética, e por sua suprema devoção à causa do Partido de Lenin e Stálin, conquistou o cálido amor do Partido e de todo o povo trabalhador de nosso país.
A vida do camarada Andrêi Alexandrovich Zhdánov, que dedicou todas as suas ardentes energias à causa da consolidação do comunismo, servirá para sempre ao povo trabalhador de nossa grande Pátria soviética”.
Combatente de arma na mão, militante comunista exemplar, pioneiro da emulação socialista, dirigente do Partido, construtor do socialismo, mestre da organização partidária, teórico marxista eminente, internacionalista proletário em todas as suas atividades, Zhdánov é um digno filho de seu povo e de sua época, um autêntico herói da nova classe em ascensão no mundo — a classe operária. O exemplo do fiel discípulo de Stalin frutificará entre os trabalhadores de todo o mundo.

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Notas:
(1) “História, do Partido Comunista, (b) da URSS”— pág. 24, Ed. Vitória — 1945 — Rio. 
(2) J. Stalin — “Questiones del Leninismo” — pág. 84 — Ed. en lenguas estrangeras — Moscu — 1941. 
(3) “História do Partido Comunista (b) da URSS” Ed. Vitória — Rio — 1945. 
(4) “História do Partido Comunista (b) da URSS” — pág. 388. Ed. Vitória — Rio — 1945. 
(5) Idem; idem 
(6) “História do Partido Comunista (b) da URSS”. Ed. Vitória — pág. 346 — Rio —1945.
(7) Idem, idem.
(8) “História do Partido Comunista, a (b) da URSS” — pág, 459. Ed. Vitória — Rio — 1945 . 
(9) “La dissolucion de la Internacional Comunista” — Santiago Chile. 
(10) “Modificaciones de los Estatutos del Partido Comunista (bolchevique) da la URSS .— Informe ante el XVIII Congresso do P. C. (b) de la URSS. — Ed. en lenguas extranjeras. — Pág. 5. — Moscu, 1930. 
(11) Obra citada — pág, 32. 
(12) Obra citada — pág. 41. 
(13) Obra citada — pág. 27 
(14) Obra citada —pág. 27 e 28. 
(15) A Zhdánov “Sobrc los errores de los periódicos “Zvezdá” y”Leningrad” “Fundamentos”, n.° 65 pàé- 249. 
(16.) Obra citada pég- 249. 
(17) Obra citada — pág. 248. 
(18) Obra citada pág 252. 
(19) A. Zhdenov “O Marxismo é a revolução na filosofia”Problemas” n.° 7 — pág. 64. “Problemas” n.° 7 — pág. 64 
(20) “Problemas” n.° 7— pág- 66. 
(21) “Problemas” n.°7 — pág. 69. 
(22) “Problemas?’ n.° 7 — pég. 78. 
(23) “Problemas” n.° 7 — pág. 79. 
(24) “Problemas” n.° 7 — pág. 78. 
(25) “Problemas” n.° 7 — pág. 80. 
(26) A Zhdanóv — Pela Paz, a Democracia e a Independência dos povos _ “Problemas” n.° 5 — Págs. 27-28. 
(27) “Problemas” n.° 5 — Pág. 28. 
(28) “Problemas” n.° 5 — Pág. 33.
(29) “Problemas” n.° 5 — Pág. 42. 
(30) Idem, idem, pág. 43. 
(31) “L’Humanité” n.°… setembro de 1948. 

“A presunção comunista significa que uma pessoa que esta no Partido Comunista crê ainda que pode resolver todos os problemas à força de decretos comunistas”.
                                                                                                                                                                                 Lenin