A REALIZAÇÃO no Rio de Janeiro da conferência dos embaixadores do imperialismo ianque, acreditados junto aos governos submissos e vendidos dos países da América do Sul, constituiu um grave atentado à soberania nacional, pois nessa reunião os espiões-diplomatas norte-americanos tomaram novas medidas de guerra e de escravização para serem aplicadas contra os povos do sul do continente.

Essa assembléia de agentes da diplomacia atômica, levada a efeito após as reuniões da mesma espécie realizadas no Oriente Médio, nas Caraíbas, no Extremo Oriente e na Europa Ocidental, evidenciou mais uma vez toda a política de preparação e de desencadeamento da guerra do imperialismo norte-americano, que põe em prática os seus sinistros planos de arrastar o Brasil e os demais países da América Latina a uma terceira guerra mundial.

A conferência dos diplomatas dos trustes e monopólios norte-americanos, presidida por Miller e supervisionada pelo espião Kennan, é parte do plano que os incendiários de guerra dos Estados Unidos vêm executando para submeter totalmente os países da América Latina, com o objetivo de garantir a retaguarda do imperialismo ianque, tendo em vista o desencadeamento de uma guerra de rapina e agressão contra a grande e pacifica União Soviética e as democracias populares.

Os imperialistas norte-americanos, na sua luta pelo domínio do mundo, ao mesmo tempo que realizam uma política de preparação de guerra e de agressão, procuram colonizar completamente os países cujos governos reacionários estão a eles submetidos. Assim é que, em relação ao nosso país e aos demais países latino-americanos, os monopolistas ianques tentam, através do chamado programa do Ponto IV, transformá-los em meras colônias dos Estados Unidos.

Para por em execução o programa colonizador do Ponto IV, os senhores do capital monopolista norte-americano, através do Departamento de Estado, fazem aos governos reacionários e lacaios dos países da América Latina exigências as mais escravizadoras. Antes de se dirigir ao Brasil para presidir a reunião dos diplomatas do imperialismo ianque, o espião Miller formulava algumas dessas exigências que seriam objeto de discussão. As principais exigências do subsecretário Miller, além das outras que se relacionam diretamente com a preparação guerreira, eram as seguintes:
Garantia de tratamento justo para os capitais privados norte-americanos.
Governos estáveis.
Nenhuma discriminação contra as inversões estrangeiras.
Direito de retirar em dólares os lucros dos capitais invertidos.
Sistemas tributários justos e racionais.
Essas reclamações, aberta e cinicamente expostas pelos mais categorizados membros do Departamento de Estado, sem o menor respeito à dignidade e à soberania dos povos latino-americanos, tornaram evidentes, além dos objetivos guerreiros, os intuitos colonizadores da reunião que se efetuou no Rio de Janeiro.

Os imperialistas ianques interferem, assim, descaradamente nos negócios internos dos países da América Latina, não só no que se refere à atividade econômica, mas também à sua vida política. Exigindo garantias para a inversão de capitais que aumentarão a escravização e a exploração dos povos latino-americanos, estabelecendo a modificação das leis de cada país latino-americano e impondo a isenção de impostos de renda para as empresas imperialistas, os monopolistas norte-americanos chegam ao máximo do cinismo ao exigir “governos estáveis”, isto é, governos totalitários, governos que se submetam docilmente aos seus manejos colonizadores e que utilizem a maior violência e o terror contra os patriotas que lutam pela paz e a libertação nacional.

O caráter guerreiro e colonialista da reunião dos embaixadores ianques e a conivência criminosa do governo de traição nacional de Dutra no atentado à soberania nacional que significa aquela reunião, despertaram o sentimento patriótico das massas, que se lançaram, à rua para protestar contra a indesejável presença de tão declarados inimigos do povo brasileiro.

                     Manifestações Populares Pela Paz e Contra o Imperialismo Ianque

As manifestações populares contra a presença no Brasil dos espiões ianques Kennan e Miller e contra a realização da conferência dos embaixadores norte-americanos, constituíram uma poderosa demonstração do povo brasileiro em defesa da paz e de repúdio à crescente penetração imperialista no país.

Os atos de desagravo realizados contra a cínica e acintosa interferência dos magnatas do dólar nos negócios internos do Brasil ultrapassaram, tanto em combatividade como em mobilização de massas, as anteriores manifestações contra as missões imperialistas de Abbink e Demuth pois agora, contra os salteadores Kennan e Miller, o povo brasileiro teve ocasião de revelar com mais intensidade o seu grande sentimento anti-imperialista e o seu ódio sagrado ao opressor estrangeiro.

Pela primeira vez, na luta que atualmente as massas trabalhadoras brasileiras desenvolvem contra os escravizadores imperialistas ianques, manifestações de grande repercussão de repulsa ao imperialismo norte-americano se verificaram, simultaneamente, nos pontos mais importantes do país, como Distrito Federal, São Paulo, Recife, Bahia, Niterói, Porto Alegre, Belo Horizonte, além de outras principais cidades do Brasil.

Uma característica nova dessas manifestações foi a de se verificarem durante vários dias, realizadas sucessivamente, sob as formas de luta mais variadas — concentrações, passeatas, comícios, pichamentos dos consulados ianques, “enterros”, pinturas murais, distribuição em massa de manifestos e volantes — durante todo o período em que pisavam o solo brasileiro os espiões-diplomatas do capital monopolista dos Estados Unidos. Essas manifestações, que foram numerosas e arrojadas, constituíram exemplo de combatividade e heroísmo das massas que, sem temor, enfrentaram a reação, numa manifesta demonstração de revolta e indignação contra a afronta dos diplomatas do dólar que, num verdadeiro escárnio ao povo brasileiro, escolheram a capital do Brasil para sua reunião de guerra e de rapina.

Simbolizando os protestos, a indignação e a repulsa das massas em face do vil atentado à nossa soberania — uma reunião em solo pátrio de diplomatas de um governo imperialista que oprime e explora o país — o pavilhão nacional foi audazmente hasteado a meio pau no Ministério da Educação, um dos edifícios mais altos da cidade, por jovens patriotas, apesar da feroz vigilância da polícia do tirano Dutra. Enquanto isso se passava no Distrito Federal, em São Paulo grande número de democratas corajosamente queimava em praça pública, face à face aos cães policiais do verdugo Ademar, a bandeira de guerra e de pirataria dos imperialistas ianques.

Essas manifestações anti-imperialistas atingiram várias camadas da população brasileira, cabendo, no entanto, ressaltar a ativa participação das mulheres e dos jovens que, ao lado do povo, estiveram presentes em todos os atos e demonstrações, enfrentaram com coragem e desprendimento as violências e arbitrariedades da reação.

Os protestos e as demonstrações das massas de repúdio aos bandoleiros ianques que se reuniram secretamente na embaixada dos Estados Unidos, ecoaram em algumas câmaras representativas, que correspondendo aos anseios anti-imperialistas do povo brasileiro, votaram veemente condenação à atividade que esses espiões norte-americanos estavam desenvolvendo no Brasil. Essa foi a atitude das câmaras municipais de Recife, Fortaleza e Nova Iguaçu, ao mesmo tempo que em grande número de câmaras municipais, representantes do povo, fiéis ao seu mandato, desmascaravam a missão guerreira e colonizadora de Kennan e Miller e denunciavam a atitude de traição nacional da ditadura Dutra patrocinando e defendendo tão infame reunião de diplomatas do imperialismo.

                    Os Imperialistas Sentiram a Repulsa e a Combatividade das Massas

A REUNIÃO dos diplomatas ianques em plena capital da República, sob a proteção dos gangsters do F.B.I. e dos beleguins do carrasco Lima Câmara, constituiu verdadeiro desafio ao patriotismo e à dignidade do povo brasileiro. Embora a resposta a esse cínico desafio ainda não tenha sido à altura da afronta, as massas responderam sobranceira e valentemente aos salteadores imperialistas, fazendo sentir aos agentes dos trustes e monopólios norte-americanos que o nosso povo não deseja servir de carne de canhão para as aventuras guerreiras dos sucessores de Hitler e que, pelo contrário, procura ardentemente libertar-se do jugo imperialista ianque.

A realidade é que, em face dos movimentos e ações de massa contra o imperialismo norte-americano, os espiões-diplomatas caíram na defensiva, perdendo, aparentemente, toda a sua insolência procurando esconder seus objetivos de guerra, apresentando-se manhosamente como amigos do Brasil, evitando a publicidade em torno de suas reuniões e passando nas declarações à imprensa burguesa para um plano secundário o espião-mor Kennan — entre todos os espiões presentes o mais conhecido como incendiário de guerra — que era, na verdade, a figura central da reunião dos diplomatas atômicos.

Diante das manifestações de repulsa do povo brasileiro, a reunião dos embaixadores ianques foi rapidamente encerrada, embarcando sorrateira e quase clandestinamente para os Estados Unidos o espião-chefe Kennan e o longo programa de visitas aos Estados do subsecretário Miller foi praticamente cancelado. Grande parte da imprensa burguesa, apesar de completamente vendida aos imperialistas norte-americanos, como toda a imprensa “sadia”, embora fazendo suas costumeiras provocações anticomunistas e anti-soviéticas, encontrou dificuldades para fazer a defesa dessa atividade tão cínica e tão declarada dos inimigos do Brasil. Essa defesa choca de tal maneira os sentimentos patrióticos do povo que alguns categorizados jornais da reação foram forçados a relegar o noticiário da conferência dos embaixadores imperialistas às suas páginas de menos importância.

As manifestações populares contra Kennan e demais espiões-diplomatas foram, em primeiro lugar, uma demonstração de luta pela paz. Elas serviram para mostrar com clareza às massas a atividade criminosa dos monopolistas ianques que abertamente preparam uma terceira guerra mundial contra toda a humanidade progressista, particularmente dirigida contra a gloriosa e pacífica União Soviética e os países da democracia popular. O nosso povo sentiu melhor como o governo imperialista dos Estados Unidos, apoiado diretamente no governo de traição nacional de Dutra, procura arrastá-lo a uma nova carnificina contra os seus interesses e a sua vontade, tripudiando, com a conivência das classes dominantes sobre nossa soberania, como acaba de fazer, realizando em terras brasileiras uma reunião de guerra e colonização. Assim os protestos contra a sinistra reunião dos embaixadores do imperialismo constituíram uma demonstração prática das massas de como ligar a luta pela independência nacional à luta pela paz.

 Evidenciou-se Mais Uma Vez o Caráter de Traição Nacional das Classes Dominantes e da                            Ditadura de Dutra

POR sua vez, a violenta repressão levada a efeito para impedir os protestos e as ações contra a atividade de Kennan e Miller serviu para evidenciar mais uma vez todo o caráter de traição nacional da ditadura de Dutra e dos seus interventores estaduais que se lançaram ferozmente contra as massas para defender seus patrões norte-americanos. Ficou claro para novos setores do povo brasileiro que a ditadura de Dutra é praticamente um governo dos monopolistas ianques, contrário aos interesses nacionais.

A polícia, tanto do Distrito Federal como dos Estados, ficou à disposição da embaixada e dos consulados norte-americanos para dissolver com toda violência as manifestações populares, prendendo e espancando patriotas que nas ruas clamavam contra o imperialismo e em defesa da paz.

No Estado de São Paulo, enquanto os verdadeiros patriotas enfrentavam a repressão criminosa de uma polícia de bandidos, a embaixada norte-americana, com a conivência do verdugo Ademar de Barros, distribuía manifestos dando boas vindas aos espiões-embaixadores e pedindo, numa cínica e descarada intervenção na vida de nossa Pátria, o assassinato dos democratas que consequentemente lutam pela paz e pela independência nacional.

Desse modo as ações realizadas contra os representantes do governo imperialista e guerreiro de Truman fundiram-se com a luta contra a infame ditadura de Dutra que, sendo a força política que internamente melhor serve aos monopolistas dos Estados Unidos e lidera no país as forças do campo anti-democrático e imperialista, colocou-se sem rodeios ao lado dos inimigos do Brasil e contra o povo brasileiro.

As massas sentiram bem de perto como os incendiários de guerra ianques, que aqui se reuniram, eram inimigos declarados de seus direitos e de suas reivindicações, pois durante a permanência no país dos espiões-diplomatas, as polícias do Distrito Federal e dos Estados utilizaram o terror e a violência para impedir quaisquer movimentos pelas reivindicações econômicas das massas. Assim é que uma comissão dos bancários paulistas empenhados na sua luta por aumento de salários, ouviu do conhecido facínora Elpídio Beale, delegado da polícia política daquele Estado, segundo informa o jornal “A Hora” de 11 de março de 1950, que o movimento reivindicatório dos bancários estava impedido “por motivo excepcional”: a presença de Kennan e do subsecretário Miller em São Paulo. Idêntico motivo — a reunião dos embaixadores ianques — foi invocado pelo ministro fascista do governo de traição nacional de Dutra, o milionário Clemente Mariani, para impedir de maneira violenta a realização da Convenção Nacional dos Estudantes Secundários contra o aumento das taxas na sede da União Nacional dos Estudantes, que foi arbitrariamente ocupada pelos policiais.

As massas puderam constatar quais os verdadeiros patriotas e quais os traidores. Enquanto grande número de patriotas, com os comunistas à frente, defendiam com o risco da própria vida a independência e a soberania nacionais, os homens e os partidos das classes dominantes, liderados pelo governo de traição nacional de Dutra, se prosternavam subservientemente aos pés do opressor ianque, implorando esmolas, mercadejando com os maiores inimigos do povo brasileiro o sangue de nossa juventude e a independência de nossa Pátria.

Exemplo frisante dessa atitude de traição nacional das classes dominantes é a posição do poeta e negocista Augusto Frederico Schimidt, que atingiu ao limite máximo de degradação e de ausência de patriotismo. De maneira indigna e humilhante, o sr. Schmidt suplicava nas páginas do reacionarissimo “Correio da Manhã”, com lágrimas nos olhos, aos imperialistas norte-americanos para “ajudar-nos nessa luta pelo nosso enriquecimento” porque o “inimigo comunista fomentou intrigas que se insinuaram na opinião pública brasileira…”

Esse abastado capitalista e homem de letras da reação que, no plano ideológico, realiza idêntica tarefa — tentar abater a resistência do povo ao imperialismo — que um Boré ou Fredegard levam a efeito na sua esfera de ação ao reprimir, bestial e criminosamente os movimentos de massas, é obrigado a reconhecer o sentimento anti-imperialista do povo brasileiro e para esmagá-lo implora aos patrões ianques dólares para enriquecer ainda mais a grande burguesia e os latifundiários, para fortalecer governo de traição nacional de Dutra e para aumentar a escravizarão nosso povo.

Reforçou-se a Luta Pela Libertação Nacional com as Demonstrações Contra Kennan e Miller

A CAMPANHA popular contra os manejos de Kennan e Miller reforçou a luta anti-imperialista e serviu para educar as massas, pela própria experiência, nas lutas, onde mostraram não temer as arbitrariedades da ditadura e os choques violentos com a polícia, participando de todas as manifestações, apesar do aparato bélico da reação. O reforçamento da luta anti-imperialista nas jornadas populares contra a reunião dos agentes do Departamento de Estado se caracterizou pela melhor articulação das forças democráticas, com o estabelecimento de uma verdadeira frente anti-imperialista composta de várias organizações de massas de incontestável prestígio popular e de âmbito nacional.

Assim é que contra a presença insólita de Kennan e seus parceiros no país, se coligaram em frente única o Centro de Defesa do Petróleo e da Economia Nacional, a União Nacional, dos Estudantes, a Liga Brasileira de Defesa das Liberdades, a Organização Brasileira de Defesa da Paz e da Cultura, a Confederação dos Trabalhadores do Brasil, a Federação das Mulheres do Brasil, a União Brasileira de Estudantes Secundários, apoiados por dezenas de organizações proletárias, populares, femininas e juvenis do Distrito Federal, como a Liga Anti-Fascista da Tijuca, a Frente Democrática de Copacabana, o Centro Democrático Catete-Laranjeiras, uniões femininas, clubes e comissões de empresa.

Todas essas organizações atuaram de comum acordo, coordenadas na realização de tarefas patrióticas, significando esse fato um avanço no sentido da estruturação da frente anti-imperialista no país, tendo em vista uma ampla organização anti-imperialista capaz de incorporar grandes massas do povo brasileiro na luta pela expulsão dos imperialistas e pela completa libertação nacional do Brasil.

                                            Bastante Débil a Participação das Massas

No entanto, apesar da intensidade e da repercussão da campanha patriótica contra Kennan e Miller. ela ainda não correspondeu às necessidades da luta pela paz e pela libertação nacional, nem às possibilidades existentes em virtude da radicalização crescente das massas, da sua combatividade, do seu sentimento anti-imperialista e do seu ardente desejo de paz. Houve, é certo, bastante agitação e propaganda desmascarando e denunciando a atividade guerreira e colonizadora de Kennan e Miller, mas a mobilização de massas foi relativamente pequena. Se de um lado houve uma ativa participação na campanha das mulheres e dos jovens, por outro lado a classe operária, que é a forca mais conseqüente e decisiva na luta pela libertação nacional, não participou de modo a corresponder ao papel dirigente que está chamada a desempenhar na luta anti-imperialista. Embora o proletariado estivesse sempre representado em todas as manifestações realizadas, nas quais sempre participava a Confederação dos Trabalhadores do Brasil, a classe operária e a sua vanguarda não lutaram suficientemente contra a presença no país dos diplomatas do capital monopolista ianque. Não utilizaram os meios eficientes de que só o proletariado pode lançar mão, como as greves de protesto, mesmo de curta duração, de minutos ou horas, que teriam enorme repercussão e dariam um conteúdo mais elevado a essa campanha anti-imperialista.

Essa débil participação da classe operária e a mobilização relativamente pequena de massas, se deve antes de tudo à falta de organização das grandes massas e às deficiências da propaganda que, embora tivesse sido muito intensa, não deu ao proletariado nem às massas argumentos suficientes que esclarecessem bem os objetivos imperialistas e de guerra da conferência dos espiões norte-americanos.

As massas trabalhadoras não foram bastante esclarecidas e a própria vanguarda da classe operária não ficou, em seu conjunto, armada para fazer uma intensa, mobilização de massas. É certo que Kennan é um conhecido e desmoralizado provocador de guerra, mundialmente denunciado como o autor do plano de “guerra fria”, mas uma propaganda realizada fundamentalmente contra esse incendiário de guerra, não bastava para esclarecer e alertar as massas sobre os sinistros objetivos da reunião no Brasil desses representantes da diplomacia atômica.

Era necessário que as forças democráticas e anti-imperialistas, principalmente os comunistas, explicassem melhor ao nosso povo, com, fatos concretos, com argumentos accessíveis à compreensão popular, procurando as massas nas empresas e nos locais de trabalho, o caráter guerreiro da conferência dos espiões do Departamento de Estado. Era indispensável também mostrar todo o conteúdo colonizador dessa reunião de salteadores imperialistas, despertando ainda mais o sentimento patriótico das massas e ligando sempre toda argumentação à defesa das suas reivindicações imediatas, por aumento de salário, contra o desemprego, contra a carestia da vida, etc. Precisamos reconhecer que a propaganda realizada, apesar de seu enorme volume, não atingiu grandes setores das massas.

                                           As Massas Ainda Estão Desorganizadas

Ao analisarmos os lados débeis da luta contra Kennan e sua quadrilha, ressalta, imediatamente, a falta de organização das grandes massas, pois as organizações de massa existentes não agrupam ainda amplas massas o que dificultou a mobilização em grande escala nessa jornada anti-imperialista da classe operária e das massas trabalhadoras em geral.

As demonstrações contra os espiões Kennan e Miller não podem, também, ser analisadas desligadas das campanhas em que o nosso povo está empenhado na luta pela paz, contra o imperialismo ianque, pelas liberdades e contra o governo de traição nacional de Dutra. As demonstrações anti-imperialistas, contra os embaixadores ianques, como parte dessas campanhas, refletiram, como não podia deixar de acontecer, todo o atraso e todas as debilidades apresentadas nessas frentes de luta do povo brasileiro, o que nos alerta sobre a necessidade de marcharmos com mais rapidez de acordo com o ritmo com que se desenvolvem os acontecimentos políticos nacionais e internacionais, na tarefa básica de organizar as massas e de preparar suas lutas, a fim de que as futuras demonstrações contem efetivamente com grandes massas.

Nas combativas jornadas contra Kennan e Miller, apesar do seu nível de combatividade ter sido mais alto do que o das campanhas anteriores, realizadas em 1949 e no corrente ano pela paz e contra o imperialismo, ainda se notaram algumas manifestações de oportunismo, caracterizado fundamentalmente no fato de se esconder, de certo modo, o conteúdo anti-imperialista e de defesa da paz das demonstrações, chegando-se mesmo em alguns casos a se omitir o nome do bandido Kennan, pensando talvez abrandar a reação. Também manifestou-se, embora esporadicamente, uma injustificada falta de confiança nas massas, que jamais deixaram de aplaudir e defender os elementos anti-imperialistas que eram vítimas das brutais violências da polícia, como se comprova na atitude da massa defendendo o líder estudantil que, numa das ruas mais centrais do Distrito Federal, apelou para os populares que, atendendo-o, impediram durante algum tempo que fosse preso, apesar do tiroteio dos policiais.

Do ponto de vista prático é preciso reconhecer que houve certo descontrole na planificação e na execução das demonstrações contra Kennan e seus parceiros, não ficando claro para as massas em que lugar iam se realizar as manifestações centrais, o que ocasionou certa confusão entre as massas. Houve alguns erros táticos como, por exemplo, subordinar o “Dia do Desagravo Nacional” ao dia da instalação da conferência dos embaixadores do imperialismo, o que na prática significou colocar à disposição do inimigo a escolha da data das demonstrações centrais, pois só no último instante os diplomatas do dólar deram publicidade sobre o dia da instalação de sua reunião.

          Aproveitar as Experiências Para Ampliar a Luta Pela Paz e Contra o Imperialismo

Ao estudar os aspectos positivos e as debilidades da jornada contra Kennan e Miller, temos como objetivo aproveitar a experiência dessas demonstrações anti-imperialistas em benefício das próximas lutas. E nesse sentido, é necessário aproveitar, desde já, o grande trabalho realizado nessa campanha, de desmascaramento da preparação guerreira e da dominação imperialista, para prosseguirmos com mais intensidade, ardor e entusiasmo na luta pela paz, pela libertação nacional e de oposição ao governo de traição nacional de Dutra, denunciando com firmeza as resoluções guerreiras e colonizadoras da conferência dos agentes de Wall Street, resoluções que o imperialismo norte-americano procurará por em prática por todos os meios.

Não foi por acaso que, logo após a reunião que o gangster Miller presidiu, aqui chegava o incendiário de guerra general Hoyt Vandemberg, chefe das forças aéreas dos Estados Unidos e membro proeminente do estado-maior conjunto das forças de agressão, para dar novas ordens aos seus lacaios nacionais sobre a preparação guerreira no país e sobre a ocupação das bases brasileiras por tropas norte-americanas. Também não foi por mera casualidade que, simultaneamente, aqui aportavam para contribuir na tarefa de colonização total do país, baseada no chamado IV ponto do programa de hegemonia mundial de Truman, os diretores dos três maiores bancos dos Estados Unidos: o Chase Bank, o City Bank e o Bank of Boston.

Na luta contra a execução das resoluções da conferência dos embaixadores ianques temos como tarefa combater todos os tratados de guerra, assinados ou por assinar, como o “Tratado do Rio de Janeiro”, o projeto do “Tratado de Amizade, Comércio e Desenvolvimento Econômico” ou o projeto do “Acordo de Investimentos”, desmascarar a atividade anti-nacional da embaixada do governo dos Estados Unidos e os seus consulados nos Estados, exigir a expulsão das enormes missões militares norte-americanas, a começar pelos quatro generais e o almirante que as dirigem, impedir pela ação de massas a aprovação do infame “Tratado da Hiléia Amazônica”, prosseguir firmemente nas campanhas de defesa do petróleo e da economia nacional, pela conquista das liberdades, tudo isso reforçando e ampliando a luta pela paz, que é a tarefa central de todo o nosso povo. Nesse sentido, devemos fazer convergir todas as nossas atividades e esforços para realizar uma grande campanha nacional, que atinja às mais amplas massas, pela interdição da bomba atômica. Devemos mobilizar todas as personalidades de prestígio popular, todas as organizações de massa, sejam de âmbito nacional ou estadual, de município, bairro ou empresa, a fim de que a condenação da arma atômica seja a expressão unânime de todo o nosso povo.

É indispensável fazer com que milhões de brasileiros assinem o apelo lançado, em sua última reunião de Estocolmo, pelo Comitê Permanente do Congresso Mundial dos Partidários da Paz, dando um poderoso impulso à luta pela paz em nosso país, fortalecendo-a e trazendo para ela novos e mais amplos setores da população, independente das convicções religiosas ou filosóficas, das diferenças de classe ou partido político. Mobilizar todos que desejam a proibição da arma atômica, considerando como crime contra a humanidade o ato do governo que em primeiro lugar utilizar tão terrível e monstruoso engenho de destruição em massa das populações civis, é uma tarefa urgente para impedir que a humanidade seja arrastada pelos imperialistas anglo-americanos à mais bárbara e infame das carnificinas.

Mas, nas lutas por esses objetivos, devemos compreender cada vez mais que se tornam necessárias e urgentes as ações concretas e demonstrações, lutas parciais enérgicas de alto nível, ainda mais elevadas que as realizadas contra Kennan e Miller, greves de ramos de produção e greves gerais nos municípios, lutas essas cuja ampliação em número crescente, serão capazes de conduzir com êxito o povo brasileiro às batalhas decisivas por sua libertação do jugo imperialista, que, em última instância, serão travadas contra a ditadura de Dutra, governo de guerra e de escravização imperialista, c pela instauração de um governo democrático e popular.

Todas as lutas que hoje empreendemos devem, portanto, ter essa perspectiva revolucionária, pois só com a derrota completa desse infame governo de traição nacional será possível tirar definitivamente nosso país do campo da guerra e do imperialismo para situá-lo entre as forras da paz e da democracia. Mas, para isso, é fundamental reforçar nossa atividade entre as massas, organizando-as e dirigindo-as em suas lutas, tendo sempre em vista engrossar as forças de oposição à ditadura de Dutra e de luta contra o imperialismo, dando dessa forma uma sólida contribuição à luta pela paz, que é o centro de toda a nossa atividade.

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“Não é difícil ser revolucionário quando a revolução estalou e se encontra no seu apogeu, quando todos e cada um de per si aderem à revolução por entusiasmo, por moda e às vezes por interesse pessoal e desejo de fazer carreira… É infinitamente mais difícil — e muitíssimo mais meritório — saber ser revolucionário quando a situação ainda não permite a luta direta, franca, a verdadeira luta revolucionária; saber defender os interesses da revolução (mediante a propaganda, a agitação, a organização) em instituições não revolucionárias e muitas vezes simplesmente reacionárias, na situação não-revolucionária, entre massas incapazes de compreender de um modo imediato a necessidade de um método revolucionário de ação”.
V. I. Lênin