Há dez anos atrás, uma grande onda de greves, manifestações e choques nas ruas dos trabalhadores poloneses, e em particular dos trabalhadores do Báltico, derrubou a equipe de Gomulka. Gierek ocupou seu lugar. Ele chegou à cabeça do Partido e do Estado como salvador da situação, como o homem que corrigiria as deformações "burocráticas", "o estilo e o método" dos dominantes anteriores, que defenderia os interesses dos trabalhadores etc. etc. A demagogia da equipe de Gierek teve êxito temporariamente. Os operários de Gdansk, Lodzi, Varsóvia, Gdinie, Sopot, Shtchetchin etc., deixaram as barricadas erguidas nas ruas e regressaram às usinas com grandes esperanças de que teriam mais direitos e de que seus filhos teriam mais pão. Em Moscou, alegraram-se muito com o fato de que as turbulências polonesas tenham sido tranquilizadas sozinhas, sem ser necessário utilizar os tanques soviéticos, e com o fato de que a Polônia permaneceu em seu curral. Também o Ocidente não ficou descontente, abriram-se-lhe as portas para a penetração de seu capital e para a ampliação de sua influência nesse país. Os sinos do Vaticano badalaram ainda mais fortemente pela vitória da Igreja Católica de Varsóvia, que se tornou a força que decidiu qual clã revisionista deveria ser derrubado e qual permaneceria no poder.

Mas, passaram apenas dez anos e a Polônia foi abalada por um amplo movimento de greves dos estivadores, dos trabalhadores das minas, da indústria e de outros setores, que assumiu grandes proporções durante o mês passado. O desenrolar dos recentes acontecimentos na Polônia apresenta-se bastante complexo. De início, deve-se dizer que as greves do Báltico, da Silésia etc., mesmo que tenham sido realizadas pelos operários contra as dificuldades econômicas com as quais se defrontam, foram inspiradas e manipuladas de fora, pela burguesia capitalista do Ocidente, pela toda poderosa Igreja Católica polonesa e pela reação interna. Em sua essência, essas greves não foram revolucionárias. Elas foram dirigidas em oposição a um regime contra-revolucionário, com um espírito contra-revolucionário. Os organizadores e os inspiradores das greves procuravam separar a Polônia das garras dos social-imperialistas soviéticos e colocá-la sob a dominação do capitalismo ocidental. A análise dos acontecimentos da Polônia à luz do marxismo-leninismo leva-nos a esta conclusão.

É natural que a eclosão das greves dos protestos e das manifestações dos operários na Polônia seja consequência da própria linha revisionista do chamado Partido Operário Unificado da Polônia e da submissão multilateral da Polônia à URSS revisionista. Sob o domínio do grupo de Gierek, o caminho revisionista de restauração do capitalismo aprofundou-se, a dependência à URSS fortaleceu-se ainda mais, as chagas do capitalismo tornaram-se ainda mais graves. Abarcada pelas correntes da integração econômica da "comunidade socialista", a economia polonesa permaneceu um apêndice da economia soviética, uma economia que produzia para o mercado soviético e se apoiava na tecnologia de fora e na quantidade de matérias-primas definidas por Moscou. Os grandes créditos que recebeu do Ocidente, mesmo tendo chegado à colossal cifra de 20 bilhões de dólares, foram gastos, não para o desenvolvimento do país, mas para atender às necessidades urgentes do dia-a-dia, para manter um nível de consumo aumentado artificialmente e para criar lucros para os credores com a exploração do povo polonês.

A crise econômica, financeira e energética que atingiu o mundo capitalista e revisionista nestes últimos anos golpeou a Polônia gravemente. A URSS duplicou e triplicou os preços do petróleo e a Polônia foi obrigada a pagar grandes somas para sua importação. O mesmo ocorreu com os preços dos cereais e da forragem que recebiam do Ocidente.

Nessas condições, o governo polonês, encontrando-se sob pressão das dívidas ao Leste e ao Oeste, foi obrigado a aumentar as exportações, inclusive de mercadorias deficitárias de primeira necessidade, a elevar os preços da energia elétrica, dos combustíveis, da carne e de outros produtos de amplo consumo. Todas essas medidas extremas pesaram exclusivamente sobre as massas trabalhadoras e se tornaram uma das razões básicas da eclosão das turbulências ocorridas nos últimos tempos.
Em um artigo publicado nas páginas de nosso jornal, em 19 de fevereiro de 1971, dedicado à derrocada de Gomulka e à chegada de Gierek ao poder, escrevemos que "o campo de manobras dos novos chefetes poloneses é muito estreito, tanto no setor econômico, como no setor político. A situação econômica permanece a mesma deixada por Gomulka e nenhum milagre poderá acontecer, nem dentro de alguns meses, nem dentro de alguns anos. As ajudas que eles podem receber tanto do Leste, como do Oeste não poderão melhorar a situação. Elas poderão servir no máximo como injeções para enfrentar a aguda crise do momento atual. Mas as dívidas e os créditos externos intensificarão ainda mais a opressão e a exploração dos trabalhadores. O que se torna evidente com os recentes acontecimentos da Polônia é que o sistema capitalista restaurado passou à fase transitória e chegou a um tal ponto crítico, que os conflitos de classes abertos são inevitáveis. Agora, o regime polonês não é capaz de assegurar o desenvolvimento da produção, senão reduzindo até o último grau o nível de vida, assim como para manter o poder político é obrigado a recorrer à repressão e à violência armada". O tempo comprovou totalmente nossa análise.

A política antimarxista seguida pelos revisionistas poloneses, o ditame e a arbitrariedade que os chefetes do Kremlin lhes impuseram de há muito, os laços de domínio e de submissão existentes na chamada "comunidade socialista" levaram a Polônia à atual situação catastrófica. A Polônia, como membro do Pacto de Varsóvia e do Comecon, está militarmente ocupada, economicamente explorada e politicamente dependente da URSS. A Polônia, desde a chegada de Kruschev ao poder até hoje, seguiu passo a passo o exemplo da URSS na restauração do capitalismo. A direção revisionista polonesa aplicou sucessivamente as reformas econômicas, políticas e sociais capitalistas, levadas a cabo na URSS. Na política externa, ela se submeteu aos ditames e às ordens que vinham do Kremlin. Por isso, o fracasso da política dos dirigentes poloneses é, ao mesmo tempo, o fracasso de toda a linha revisionista kruschevista. A putrefação do atual sistema social da Polônia é a expressão de uma maior putrefação que abarcou todos os países revisionistas, a URSS, a China, todos os países do Comecon e a Iugoslávia autogestionária. Elevação de preços, desemprego, graves condições de trabalho, grandes dívidas externas existem em todos esses países. E se nesses países não ocorreram explosões como na Polônia, é por diferentes motivos. O que não acontece hoje poderá muito bem acontecer amanhã.

Mas, as greves nas cidades do Báltico, e em geral a questão polonesa, devem ser vistas também no quadro da estratégia global imperialista-revisionista, do desenvolvimento da atual política das duas superpotências imperialistas. Já é conhecido que entre os EUA e os Estados da Europa Ocidental, e em particular a França e a Alemanha Federal, têm havido profundas contradições em torno de algumas questões, como a do Irã, a das sanções à URSS relacionadas com a ocupação do Afeganistão, a da instalação dos mísseis Pershing 2 e Kruiz no território dos Estados-membros da OTAN e dos mísseis SS-20, por parte da URSS no território dos países-membros do Pacto de Varsóvia, a do acordo de Camp David, entre Israel e o Egito, e de outras questões.

Nesses desentendimentos, o presidente norte-americano, J. Carter, manteve uma atitude quase arrogante e de imposição contra a França e a Alemanha Federal. Por sua vez, não só a França, mas também a Alemanha Federal, não se submeteram às ameaças e às chantagens americanas. Pelo contrário, elas prosseguiram sua política de détente com o Leste. Giscard D'Estaing foi a Varsóvia e lá, tendo Gierek como tradutor, encontrou-se tête-à-tête com Brejnev.

Por seu turno, Schmidt foi a Moscou e pediu a Brejnev uma moratória de 3 anos para discutir a questão da instalação de novos mísseis na Europa. Para o mês de agosto, Schmidt havia planificado um encontro e conversações na Polônia com Gierek e, na Alemanha Oriental, com Honeker.
Giscard D'Estaing e Schmidt, em seus recentes encontros, concordaram em que os governos dos dois países, em oposição aos desejos dos EUA, continuariam a política de détente e de colaboração com a URSS e com outros países da Europa Oriental.

A França e a Alemanha Federal, estes dois países capitalistas e bastante desenvolvidos, investiram bilhões de dólares e concederam grandes créditos aos países do Leste. Através desses créditos e investimentos, e da política de détente, elas, por um lado, tentam afastar da Europa o perigo de uma guerra e empurrá-la para a Ásia, e, por outro, visam a aumentar sua influência sobre os países satélites da URSS, debilitar seus multilaterais laços com Moscou. Este é o grande objetivo desses dois Estados da Europa Ocidental.

Nesse sentido, os EUA também têm interesse, inclusive pretendem ser os promotores dessa política, enquanto a França e a Alemanha, por seus interesses, desejam atuar como independentes.
A URSS, que se encontra em dificuldades políticas e econômicas e inclusive militares, após a invasão manu militari do Afeganistão, está interessada em manter a détente e a colaboração com os EUA. Caso a América continue ameaçando, então interessa à URSS romper a frente da OTAN, realizando uma política de détente com a França e a Alemanha Federal. Esta política da URSS também é seguida por seus satélites, os demais países da Europa Oriental. De jeito nenhum a URSS deseja que esses países satélites escapem de suas mãos, mas não pode impedi-los de contrair dívidas com a Alemanha Federal, com a França, com os EUA e com os demais países.

Precisamente nessa situação e nessas complicações políticas internacionais, paralelamente às dificuldades internas da Polônia, iniciaram-se as greves nas cidades costeiras do Báltico. Essas greves eclodiram sob a influência das forças reacionárias internas e externas, mas, como se vê, em um momento tão adequado para atingir os resultados desejados. Através dessas greves o Ocidente queria alcançar uma mudança a seu favor na Polônia, exercer pressão sobre a URSS, mas não indo longe, ao ponto de colocar as posições de Gierek em risco, pois toda a política de détente rumo ao Leste ficaria comprometida. O Ocidente sabia que se fosse muito longe seria provocada a intervenção armada da URSS.

Isto ficou claro em toda atitude mantida pela imprensa ocidental, que apoiou grandemente as greves dos operários dos portos poloneses do Báltico, enquanto, por sua vez, os governos francês, alemão, inglês, e inclusive o norte-americano, se mostraram muito reservados.

Aos grevistas de Gdinie, Gdansk e Shtchetchin aconselharam reivindicações ponderadas. Até o Vaticano e a Igreja Católica Polonesa, com Vishinski à frente, diziam aos operários que estavam de acordo com suas reivindicações, mas abertamente os conclamavam a que tudo se desenvolvesse na ordem, na tranquilidade, levando em conta as condições da Polônia, do Estado polonês etc etc.
Em outras palavras, o Ocidente teve medo de uma intervenção militar da URSS, o que levou à suspensão das greves e à subscrição do acordo entre os representantes do governo e dos grevistas em Gdansk. Momentaneamente, uma intervenção armada da URSS na Polônia não é proveitosa, nem para a Alemanha Ocidental, nem para a França, nem para a Inglaterra e nem para os EUA. Eles apregoaram a prudência para que não acontecesse o que aconteceu com a Tchecoslováquia e com Dubçek, o qual pensava que poderia ir até os limites que o Ocidente sonhava, sem ser colocado em risco pela URSS.

No que se refere aos revisionistas soviéticos, estes, com certeza, mantinham laços com Gierek, e seguramente se opunham ao que estava ocorrendo na Polônia. Eles não estavam de acordo nem com a sua autocrítica, nem com as decisões preparadas para serem assumidas. Durante todas as turbulências da Polônia, a URSS social-imperialista silenciou, mas mantinha as antenas ligadas, atenta como o gato em relação ao rato, e sem mobilizar nenhum regimento, porque estes estavam dentro da Polônia, com as armas em alerta. Somente quando foi assinado o acordo em Gdansk, Moscou relatou em sua imprensa, resumidamente, os acontecimentos e mencionou algo do discurso de Gierek. Essa posição da URSS fez com que os EUA, a França, a Alemanha Federal, inclusive o próprio Gierek e a Igreja Católica polonesa, tivessem medo.

Nessa situação, todos se apressaram e fizeram pressões para que se chegasse a um acordo, o qual foi assinado em Gdansk entre os representantes do Comitê dos grevistas e os representantes do governo. Para preparar o terreno para esse acordo, Gierek teve de demitir anteriormente uma grande parte dos dirigentes do Partido e do Estado dos postos que eles ocupavam, entre eles o primeiro-ministro Babiuch. Gierek jogou toda a culpa no primeiro-ministro, que não tinha senão poucos meses de chegado ao poder, após a queda de Iaroshevich. Assim, Babiuch e outros foram convertidos em bodes-expiatórios, enquanto a culpa não estava neles.

Mas o compromisso de Gdansk representa uma vergonhosa derrota para os revisionistas poloneses, para o sistema pseudo-socialista da Polônia. Ao mesmo tempo representa uma grave derrota para a URSS e os demais países revisionistas.

O acordo de 21 pontos representa uma certa plataforma ideológica e política do programa mínimo das novas forças reacionárias da Polônia, que o Comitê dos grevistas apresentou ao governo polonês como condição para o início do trabalho. A questão fundamental neste acordo, além das exigências relacionadas com a melhoria da legislação trabalhista, é o reconhecimento da criação de sindicatos independentes e autogestionários, fora e em oposição aos sindicatos existentes na Polônia. O acordo também reconhece aos grevistas "o direito de greve", "a liberdade de expressão e de imprensa", "a cessação das perseguições aos que editam publicações independentes" e assegura a possibilidade de que todas as seitas religiosas escrevam artigos na imprensa, etc.

Todas essas concessões mostram a situação putrefata do atual regime revisionista polonês, a transformação mais profunda, mais radical da Polônia num país capitalista. A reação conseguiu essa transformação de um país chamado socialista que não é socialista, enganando e utilizando a classe operária para seus objetivos. Precisamente por isso, a burguesia e os Estados capitalistas, seus chefetes, de Carter a Reagan, o Vaticano e a Igreja Católica Polonesa consideram isso uma vitória histórica, uma nova fase da construção de um socialismo real que, na verdade, significa a transformação de um país de revisionismo e do pseudo-socialismo, num país totalmente capitalista.
Mas, o que essa vitória trará à classe operária? A quem ela servirá? A criação dos sindicatos independentes autogestionários na Polônia servirá como um trampolim para passar do sistema atual da centralização burocrática revisionista, a um sistema completamente capitalista, anarco-sindicalista. O que está acontecendo na Polônia se assemelha ao que aconteceu anteriormente na Iugoslávia. Logo após a guerra, a Iugoslávia rompeu definitivamente com o campo do socialismo e depois de algumas peripécias passou ao sistema de autogestão. Na Iugoslávia, foi eliminado o papel do Partido. Foi eliminado também o papel das Uniões Profissionais, o centralismo democrático deu lugar ao descentralismo econômico, preservando supostamente um centralismo político e uma administração federativa comum.

Na Polônia, o revisionismo polonês, assim como na URSS e nos demais países membros do Pacto de Varsóvia, mantêm-se as velhas formas da estrutura e da superestrutura, ou seja, mantém-se ainda o centralismo na economia e no poder. O Partido Operário Unificado da Polônia está na direção, as Uniões Profissionais jogam papel de "correias de transmissão" da política do partido revisionista etc. Por isso, a burguesia capitalista ocidental deveria encontrar uma saída para debilitar ainda mais este sistema estatal, que ela sabe ser pseudo-socialista e sob a completa influência da URSS. O capitalismo ocidental e o imperialismo norte-americano, para debilitar o sistema capitalista-revisionista nos países aliados da URSS, se esforçam não somente para investir seus capitais, que lhes proporcionam elevados lucros, e ao mesmo tempo corroem o potencial político, econômico e militar da URSS nesses países, como também trabalham para degenerar o próprio sistema. E o melhor meio para atingir esse objetivo é a autogestão que foi levada a cabo na Iugoslávia, que está sendo aplicada na China, que os euro-comunistas apregoam.

A burguesia capitalista mundial pensa que atualmente um tal esforço para introduzir a autogestão não poderia ser feito em relação à Hungria, à República Democrática da Alemanha, ou à Romênia, por isso encontrou a Polônia. Por quê? Porque na Polônia o atual sistema revisionista no poder está debilitado, a Igreja Católica se tornou uma força dominante. Gomulka e Gierek deram à Igreja essa importante força e papel que ela desempenha na vida do país. Querendo ou não, também os revisionistas soviéticos toleraram.

A burguesia mundial apóia-se também no grande anti-sovietismo dos poloneses, bem como no fato de o grupo de Gierek – independentemente de que do ponto de vista formal mantenha laços com os revisionistas soviéticos – não lhes obedecer completamente. O anti-sovietismo de Gierek e dos outros reside nos estímulos às reivindicações secretas pela independência em relação aos revisionistas soviéticos.

Nessas condições, as greves nos portos do Báltico foram exploradas pela reação polonesa, pela Igreja e a burguesia ocidental para a criação de uma oposição ao Partido Operário Unificado da Polônia e depois para aplicar, gradualmente, na economia, o sistema autogestionário, assim como aconteceu na Iugoslávia. Mas deve-se pensar que a burguesia revisionista polonesa subirá gradualmente a passos ponderados e um após o outro os degraus do sistema de autogestão. Ela sabe que os tanques de Ustinov se encontram de há muito em Varsóvia e que os militares soviéticos conhecem bem as ruas da capital polonesa. Os Kadar e Husak poloneses não deixam de marchar atrás deles, para se instalarem à frente do poder. A intervenção soviética permanece sempre como uma espada erguida e pronta para cortar não uma ou duas cabeças, mas milhares e dezenas de milhares.

“Os sindicatos livres”, compreende-se, tentarão no início exercer funções autogestionárias nas empresas, usinas, fábricas; numa palavra, assumir o poder econômico. Eles não hesitarão em estender sua atividade também ao campo, onde tentarão agrupar sob sua direção todas as pequenas empresas; ou os artesãos que lá existem para auto-gestioná-las. Eles utilizarão também as greves legais para exercer pressões sobre o poder centralista burocrático e para ter em suas mãos também o poder político.

As potências ocidentais, por enquanto, pretendem que sejam consolidadas e aprofundadas as concessões feitas à reação, que o acordo se estenda e seja difundido em todos os centros operários da Polônia. Ao mesmo tempo, Carter, Schmidt e Thatcher fizeram apelos e promessas de concessão de novos créditos à Polônia. Com isso, eles querem fortalecer as posições do grupo dominante e dos dirigentes reacionários das greves. Seguramente, isso será realizado, se Brejnev lhes der tempo.
Este é o plano estratégico da burguesia capitalista ocidental e dos que dirigiram as greves dos operários dos portos do Báltico, com os quais indiretamente está implicado também o grupo de Gierek, que joga a pedra e esconde a mão para ganhar terreno no caminho reformista, para evitar a intervenção da URSS. Eles conseguirão este objetivo? Isto é uma interrogação. É difícil que os revisionistas soviéticos e seus parceiros do Pacto de Varsóvia permitam a realização completa dos objetivos da burguesia ocidental e da reação polonesa. A URSS está decidida a manter seu poder em todos os países do Comecon e do Pacto de Varsóvia, isto é, preservar intactos tanto o poder político, as formas estatais, as estruturas e superestruturas pseudo-socialistas, como também o atual sistema econômico e militar. Não foi em vão que os revisionistas soviéticos criaram a teoria da chamada soberania limitada.

A situação turbulenta na Polônia não acabou. Ela está se desenvolvendo e se desenvolverá ainda mais. A URSS não fica de braços cruzados, trabalha para criar uma nova equipe de dirigentes na Polônia, que seja pró-soviética e mais segura para eles. Caso Gierek e seu grupo, que assinaram a capitulação de Gdansk, permaneçam no poder, então devemos chegar à conclusão de que a influência da URSS na Polônia e a submissão a ela atingiu um nível bastante reduzido. Caso Gierek e seu grupo sejam derrubados, e uma direção pró-soviética venha ao poder, isto mostrará que o tacão soviético continua dominando fortemente na Polônia.

Nas complexas situações criadas na Polônia, o proletariado polonês, que se caracteriza por um elevado espírito de revolta e decisão, tem necessidade, mais do que nunca, de ver claramente as especulações que os revisionistas, os social-imperialistas e a burguesia internacional fazem em torno de sua luta, e os proveitos que pretendem tirar. Por isso, ele não deve enganar-se nem com a "autocrítica" de Gierek, nem com os conselhos dos social-imperialistas soviéticos, nem com a falsa solidariedade dos imperialistas norte-americanos e dos militaristas alemães ocidentais, nem com as bênçãos do Vaticano. A classe operária polonesa deve compreender que o verdadeiro caminho da salvação exige que ela, sob a direção de um partido verdadeiramente marxista-leninista, que não existe atualmente, levante o povo polonês e o dirija no campo de batalha para derrubar a camarilha capitalista-revisionista interna, para acabar com o jugo da URSS revisionista, para sacudir o jugo do capitalismo mundial e para liquidar a influência danosa da Igreja Católica. A classe operária e o povo poloneses devem compreender que seu anti-sovietismo atual não se baseia na ideologia marxista-leninista, mas é um anti-sovietismo inspirado pelas idéias chauvinistas da burguesia polonesa.
O desenvolvimento das greves dos operários dos portos do Báltico colocou mais uma vez em evidência a grande necessidade que tem a classe operária de possuir em sua direção um partido comunista marxista-leninista. Quando um partido desse tipo não existe, então a classe operária é facilmente manipulada pelos revisionistas contemporâneos, pela burguesia capitalista, interna e externa, como ocorreu na Polônia. Uma tal manipulação conduz a classe operária a uma verdadeira derrota, a caminhos que estão contra seus vitais interesses e a favor dos interesses da burguesia capitalista, enganando-a com a suposta conquista de alguns direitos fictícios. Mas estas "vitórias" não abalam de nenhuma maneira o poder do capital, dos capitalistas e dos revisionistas, assim como as greves econômicas, a chamada liberdade de expressão, as pretensas discussões democráticas etc etc não podem abalar o poder da burguesia nos países capitalistas.

Uma classe operária revolucionária que é dirigida por um partido comunista verdadeiramente marxista-leninista deve lutar seriamente por seus próprios direitos políticos e econômicos. Ela não pode conquistar estes direitos no caminho reformista.

Quais os verdadeiros direitos pelos quais luta a classe operária? Em primeiro lugar, e acima de tudo, está a questão da tomada do poder em suas mãos. Somente quando tenha em suas mãos o poder e tiver desenraizado o aparato ditatorial do poder da burguesia, portanto, quando tiver instaurado a ditadura do proletariado, a classe operária poderá assegurar verdadeiramente os direitos que lhe correspondem para a administração multilateral, política, econômica e cultural do país, em seu próprio interesse e no interesse das massas trabalhadoras.

A classe operária polonesa tinha o direito de golpear a direção revisionista polonesa e de se levantar contra ela, mas o fez a partir de posições de direita, e dessas posições chegou a compromissos com ela. A classe operária polonesa não foi à revolução e não podia ir, porque rumo à revolução não a podem conduzir nem os Walesa, nem a Igreja. Somente a luta decidida, consequente, no caminho que o marxismo-leninismo indica, poderá devolver à classe operária polonesa as vitórias socialistas perdidas e devolver ao país a liberdade, a independência e a verdadeira dignidade nacional.
Os acontecimentos da Polônia comprovam que o regime pseudo-socialista, o sistema revisionista-capitalista, seja ele de forma soviética, da atual forma polonesa, ou sistema de autogestão iugoslava, está numa grande crise, que o revisionismo contemporâneo marcha rumo à completa falência. Estes acontecimentos demonstram que este sistema é putrefato e que sua derrocada foi colocada na ordem-do-dia. Esta elevada missão histórica deve caber à classe operária e ser por ela realizada.
"A classe operária dos países revisionistas”, acentuou o camarada Enver Hoxha, no seu conhecido artigo intitulado A classe operária nos países revisionistas deve descer ao campo de batalha e restabelecer a ditadura do proletariado, “se encontra atualmente diante da indispensabilidade histórica de voltar ao campo de batalha, de se lançar numa luta sem tréguas e até o fim, consequente, pela derrocada e o desmantelamento das camarilhas traidoras para realizar mais uma vez a revolução proletária, para restabelecer a ditadura do proletariado. Isto exige seguramente decisão, coragem, sacrifícios, reanimação do espírito e das tradições revolucionárias dos tempos de Lênin e Stalin. Isto exige, em primeiro lugar e acima de tudo, a organização dos verdadeiros revolucionários em novos partidos marxistas-leninistas, que os mobilizem, os organizem e os dirijam na vitória da insurreição geral do proletariado e das demais massas trabalhadoras".

EDIÇÃO 1, MARÇO, 1981, PÁGINAS 25, 26, 27, 28, 29