Arbejderen reproduz artigo de Amazonas

Arhus, 11 de agosto de 1990.

Queridos camaradas,

Recebi a revista Princípios e o livro 30 Anos de Confronto Ideológico, pelo que agradeço muito.
Com a presente, envio-lhes um cheque correspondente ao pagamento do livro e da assinatura da revista Princípios. Também lhes envio a tradução em dinamarquês do artigo de João Amazonas "A teoria se enriquece na luta por um mundo novo". Foi publicado no periódico Arbejderen do Partido Comunista da Dinamarca (marxista-leninista).

Felicito-os tanto pelo livro 30 Anos de Confronto Ideológico como pela revista Princípios. Penso que o material ali incluído é de grande valor. O artigo de João Amazonas trata de um tema que também se discute aqui e, por isso, tem grande interesse para o leitor dinamarquês.

Estou plenamente de acordo com que seria fatal, neste momento, colocar-se nas trincheiras ideológicas e defender princípios marxistas estéreis sem ter uma prática revolucionária e sem voltar a estudar o caminho percorrido para detectar possíveis erros e preparar-nos ainda melhor para as batalhas que virão. O artigo do camarada Amazonas e outros artigos da revista ajudam bastante a esclarecer esses problemas. É especialmente importante que o artigo seja escrito por um camarada de tanto prestígio internacional como João Amazonas.

Penso também que o artigo de Paul Langevin é de sumo interesse. Aqui na Dinamarca, levamos vários anos discutindo o problema do materialismo em relação com a teoria da relatividade. Alguns (não falo do partido) – e eu estou entre eles – negamos a relatividade, defendendo um suposto materialismo que efetivamente tem sido um materialismo mecânico. Temos visto que tem sido muito difícil penetrar entre os estudantes e cientistas com semelhante "materialismo".

Faz três anos que eu – e outros – mudamos de opinião e agora entendemos que há que enriquecer o materialismo dialético com os novos dados da física moderna. Mas é um problema difícil, complicado e até delicado, porque há muitas armadilhas.

Exatamente por isso, penso que o artigo de Paul Langevin – que temos discutido – é importante, como também o são outros artigos publicados em números anteriores da Princípios.

Escrevi-lhes estas palavras para mostrar como tenho sido inspirado pelo material que me enviaram.
Sem outro particular, mando-lhes um forte abraço revolucionário.
Sven Tarp
Dinamarca.

“Faca amolada” e não “fé cega”

Diante da ofensiva ideológica das classes dominantes e da confusão teórica de certos setores de esquerda, a revista Princípios é um instrumento valioso de lutas de idéias. Seu número 18, que inicia uma nova fase da publicação, é prova disso. Cabe agora tornar realidade a proposta de produzir uma revista periódica trimestral que "instigue o espírito humano" para o debate aprofundado de temas complexos e polêmicos – vitais para o desenvolvimento da luta revolucionária.

Numa rápida avaliação da edição anterior, gostaria de ressaltar alguns aspectos com o objetivo de contribuir para afiar ainda mais esta arma. Quanto à forma, a estética, na minha opinião, a revista foi bem editada. Predominou a idéia de que não basta apenas um bom conteúdo, é necessário torná-lo agradável, acessível. Penso que seria necessário uma padronização maior dos títulos e intertítulos, assim como uma distribuição mais equilibrada das fotos e ilustrações. Sugiro também que os autores se esforcem para apresentar as fontes consultadas, a bibliografia, como um estímulo a mais para a leitura.

No que se refere ao conteúdo, os artigos foram bem selecionados. Apesar de a maioria deles tratar de um único tema – a crise do socialismo – não houve repetições enfadonhas. O que mais me chamou a atenção, porém, foi a coragem com que se abordou aspectos marcantes da construção do socialismo, em especial na URSS. Nesse sentido, o artigo "A teoria enriquece na luta por um mundo novo" motiva o estudo científico e crítico dessa experiência histórica. Ele está mais para "faca amolada", do que para "fé cega" – como diz a canção.

Penso que esse espírito deve predominar na revista, o que fará com que ela contribua para o enriquecimento da teoria marxista. Os chavões, os adjetivos exagerados, os dogmas e os tabus nunca ajudaram em nada – muito menos agora, quando o veneno ideológico da burguesia contamina vários organismos. Nesse rumo, é preciso enfrentar o desafio e debater, por exemplo, os acertos e os erros da construção do socialismo, a questão complexa do partido único versus pluripartidarismo no sistema socialista e outros.

Quanto às próximas edições da Princípios, além dos temas já sugeridos, apresento mais duas propostas de pauta. A primeira é sobre a social-democracia, que hoje ganha novas e importantes adesões no Brasil. É preciso desmascarar, com argumentos fortes, essa corrente, que sempre se colocou como um obstáculo à luta revolucionária dos trabalhadores. A segunda é sobre o atual perfil da classe operária brasileira, que produz em condições diferentes – enfrentando os novos métodos de organização do trabalho (CCQ, Kanbam, Just-in-time etc) e as novas tecnologias. Esse estudo permite entender melhor as novas técnicas da burguesia e, consequentemente, aponta os caminhos de luta da classe operária.
Altamiro Borges
São Paulo

EDIÇÃO 19, NOVEMBRO, 1990, PÁGINAS 74