“Finalmente podemos dormir em paz". De agora em diante os conflitos internacionais serão resolvidos pelo bom senso e o entendimento e não mais pelo recurso à brutalidade. Isto pelo menos foi o que nos garantiram em manchetes escandalosas os grandes meios de comunicação nos últimos tempos. Mas lamentavelmente os fatos se rebelam contra esta propaganda tão bem estudada. Os Estados Unidos, em nome da paz – como sofre esta criatura – despacham para o Golfo Pérsico meio milhão de soldados, armados até os dentes, ocupam a Arábia Saudita, intimidam seus parceiros alemães e franceses, tudo para começar uma guerra de proporções imprevisíveis.

O pretexto para tal cruzada é ensinar ao Iraque boas maneiras e ditar aos árabes as fronteiras mais adequadas à região. Por exemplo, no caso de Israel, as fronteiras melhores são aquelas conquistadas e mantidas pela violência desenfreada, pelo terrorismo e pelo genocídio contra os palestinos – com armas, tecnologia e apoio logístico dos EUA. E as boas maneiras, como no caso do Panamá, na América Central, implica invasão do país, massacre da população civil, prisão do presidente deste país soberano – agora tachado de traficante de tóxicos, mas antes considerado um confiável e competente agente da CIA. Com tal curriculum é que o "mestre" Bush pretende convencer Saddam Hussein a desistir do Kuwait.

Com a guerra fria, tínhamos o sono interrompido por pesadelos de guerra. Mas muitas vezes, no choque entre as potências, abriam-se algumas brechas aproveitadas pelos mais fracos. Agora, a distensão "entre os grandes" faz com que os EUA pratiquem as piores barbaridades, contando com os aplausos da URSS. E esta, por sua vez, passeia seus tanques em Vilna – capital da Lituânia – sob os olhares compassivos do Tio Sam. Em substituição aos sobressaltos da guerra fria, envolvida em promessa de um paraíso de paz, temos a insônia permanente, provocada pelos ruídos das bombas, pelos gritos de dor, pelo matraquear dos fuzis e metralhadoras da guerra quente.

Não se trata de justificar o procedimento usado pelo Iraque para resolver problemas que, de uma forma ou de outra, lhes dizem respeito. Mas de barrar a mão assassina do imperialismo que, com esta invasão, ressuscita a arrogância típica de Hitler, e se outorga o direito de agredir todos os que se colocam como obstáculo para o seu "espaço vital".

As ilusões de uma paz entre "eles" para garantir a "nossa" paz estão escritas nas areias do deserto. O menor vento as apaga.
A segurança dos povos não pode ficar à mercê dos acertos entre os todo-poderosos, mas da derrota dos imperialistas e da fraternidade entre os povos e nações oprimidas.

EDIÇÃO 20, FEV/MAR/ABR, 1991, PÁGINAS 3