Há um século, teríamos confiado o problema que agora nos preocupa – a transferência da ciência européia para além das fronteiras da Europa – aos antropólogos, e, conforme o caso, aos orientalistas, sem pensar em apelar aos historiadores das ciências. Mais recentemente, nos anos 1950, os economistas, aqueles que se interessam pela célebre questão do desenvolvimento econômico, levantavam esta problemática, sem recorrer à história. Mas os próprios historiadores das ciências mantiveram uma total indiferença face a esta questão, tão importante para esta disciplina. Quais seriam as razões dessa indiferença? Quais serviços prestam à História das Ciências o exame de uma problemática de nosso tempo? É possível falar da História da Ciência aplicada? Eu não seria capaz de responder a todas essas questões, mas tentarei elucidar algumas delas.

Ressaltamos, para começar, que, se nossa questão foi inicialmente remetida aos antropólogos e aos orientalistas, é em razão de uma situação objetiva da ciência criada por ela mesma, de uma concepção então dominante de sua história, e de uma ideologia admitida por quase a totalidade dos historiadores. É tal contexto que nos permite compreender a posição do problema hoje.

A situação objetiva remete à implantação da ciência moderna a partir de Newton (1) e seus sucessores. Esta ciência é européia no sentido em que foi elaborada e desenvolvida na Europa Ocidental e em mais nenhum outro lugar. De outro lado, por suas intenções unitárias, seu objetivo de aplicação, sua organização institucional, e devido à filosofia que ela pôde suscitar, esta ciência moderna, ou européia, se distingue muito claramente da ciência clássica cultivada entre os séculos IX e XVII: compreende-se imediatamente que o termo "transferência" não se aplica no mesmo sentido a estes dois períodos da ciência. Se voltarmos à História da Ciência tal qual foi concebida à época, ela oscila entre dois pólos: a história das sucessões de sábios e de resultados adquiridos como prova o exemplo de Montucla (2) na história das matemáticas – e uma filosofia de progresso, como aquela de Condorcet (3) ou do desenvolvimento, como a de August Comte (4), mais tarde.

“O postulado do vazio de saber impede compreender a expansão da ciência moderna”.

Conforme a primeira perspectiva, a transferência da ciência européia não traz nada para a história das disciplinas e, conforme a segunda, se encontra simplesmente fora da história, já que a humanidade é considerada como um todo efetivamente representado pelos povos mais evoluídos, isto é, os Estados modernos da Europa; ou porque os outros povos ainda não conheceram o "Estado Positivo". Quanto à ideologia, enfim, falaremos da ideologia da ocidentalidade da ciência em geral, tanto da clássica quanto da moderna. Ela tem por resultado a unificação de diferentes etapas históricas da ciência, sob o termo "ocidental".

Como tentativa teórica, demonstrativa e experimental, a ciência será o fato da humanidade européia; bem mais, é ela que, como diz Husserl (5) por exemplo, define essa humanidade do ponto de vista espiritual. Todas as outras positividades históricas serão então igualmente estranhas à ciência, e a marginalidade de suas contribuições não é de modo algum contingencial, mas essencial. Ora, todos esses elementos contribuíram para desviar o historiador do problema da transferência da ciência européia, mas também para determinar, em qualquer condição, o sentido da transferência entre os antropólogos e orientalistas. Ela foi então concebida como uma transferência valorizada de um produto ocidental, estrangeira por natureza, bem como por sua história a seus destinatários.

O segundo postulado admitido pelos autores é que a transferência se operou sobre um terreno virgem, dentro de um vazio científico, graças aos diferentes vetores de Impérios, missões, comércio, exércitos etc. Seria, então, segundo um termo célebre, um elemento de "aculturação".

Estas são as idéias que, tenho a impressão, fizeram germinar entre certos autores a ambição de forjar um modelo universal para representar esse fenômeno da transferência. Nada impediria que, efetivamente, dentro de tal espírito, se colocassem em pé de igualdade os diferentes períodos e os diversos países, já que o elemento unificador é essencialmente negativo.

Nós nos deteremos nessas idéias que dominam a representação do fenômeno da transferência da
ciência moderna, à luz de outros exemplos e de outros resultados da história das ciências. Nós veremos se desenhar uma variedade de situações que seria um engano confundir em uma visão única. Eu me ocuparei aqui de duas situações exemplares, representadas, respectivamente, pelo Irã e pelo Egito – insistindo sobre o caso do Egito –dois países do mundo antigo (6).

O postulado do vazio de conhecimento não apenas é incorreto, como também impossibilita uma justa e clara visão da introdução e difusão da ciência européia, notadamente nos países aos quais creditamos a maior contribuição para a implantação e o desenvolvimento da ciência clássica. Este postulado oculta, efetivamente, um aspecto importante, porém nunca estudado: a sobrevivência e a continuidade de um ensinamento, às vezes mesmo uma pesquisa de origem tradicional.

A questão se formula então nestes termos: como ocorre o encontro entre uma ciência ainda no estado onde ela estava alguns séculos antes e a ciência moderna? O sábio tradicional era o melhor equipado para receber a ciência moderna? Aí está, certamente, a questão da estrutura de acolhimento da nova ciência.

Ciência, Império e Estado

O artigo que aqui publicamos, de autoria do professor Roshid Rashed, é um estudo especializado, que trata da questão das condições da transferência da ciência moderna, em particular, nos casos do Irã e do Egito. Mas seu conteúdo encerra questões políticas de grande atualidade, que extrapolam as dimensões acadêmicas e cientificas.

É sobre estas questões que queremos chamar a atenção dos leitores da Princípios. Quando o professor Rashed demonstra que "não foi com as armas imperiais que a ciência moderna chegou ao Egito, mas sim quando da criação do Estado moderno e nacional", ele traz à tona o papel essencial do Estado para a promoção do desenvolvimento das nações. Exatamente a tese que o chamado neoliberalismo no mundo inteiro – e no Brasil em particular – procura destruir, quando apresenta o Estado como uma peça envelhecida de museu.

Rashed evidencia também que os povos árabes não podem ser vistos como meros depositários ou simples transmissores da cultura antiga. Ele resgata os desenvolvimentos matemáticos, especialmente no campo da álgebra, realizados no Irã no século XII, retomados neste mesmo país entre os séculos XVII e XVIII.

Esta visão abrangente da história da civilização contrasta então fortemente com a imagem que grande parte da "mídia" procurou veicular quando da agressão comandada pelos Estados Unidos contra o povo iraquiano, durante a guerra no Golfo, procurando vincar a imagem de um conflito entre civilização e barbárie.

Rashed nos mostra que a ciência moderna não tem raízes restritas às fronteiras dos hoje países ricos. Este estudo é então um contraponto, no terreno das idéias, à exclusão tão característica do capitalismo moderno.

Roshid Rashed é hoje um dos maiores arabistas vivos de toda a Europa. É pesquisador do CNRS – Centre National de la Recherche Scientifique e diretor da equipe REHSEIS, Paris. Esteve no Brasil no mês de agosto passado, para participar do evento América-92, onde apresentou uma conferência versando sobre a temática aqui tratada.

Este artigo, cujo título original é "Science Classique et Science Moderne à L'époque de L'expansion de la Science Européenne", foi originalmente publicado no livro Science and Empires, de P. Petitjean et alii, editado pela Kluwer Academic Publisher, Dordrecht, Holanda, 1992, p. 19-30.

Queremos agradecer ao prof. Rashed pela autorização para a publicação deste trabalho. Nossos créditos também aos matemáticos e professores Ronaldo Nicolai e Antonio Miguel, bem como à jornalista Olivia Rangel, pelas notas explicativas e dúvidas na tradução.

Lejeune Mato Grosso Carvalho
Olival Freire Jr. Para evitar as generalidades, vamos imediatamente ao exemplo iraniano, para nos limitar sucessivamente, a um dos focos culturais do século XIX, a cidade de Ispahan (7) e a um dos sábios desse lugar, Mirza Ali Muhammad Al-Asfahani (8) (1800-1876).

Este sábio escreveu em árabe, em 1824, isto é, na língua da ciência tradicional, um livro de matemática. Tal livro é apresentado, pelo próprio autor, como o complemento de um outro tratado redigido por um matemático do início do século XVII – Al-Yazde. Ora, para completar este livro do século XVII, Al-Asfahani prosseguiu as pesquisas em álgebra dos matemáticos dos séculos XI e XII, como Al-Khayyan (9) e Sharaf Al-Din Al-Tusi (10), sobre as 25 equações algébricas dos 3 primeiros graus. Al-Alfahani não estava a par da resolução por radicais da equação cúbica e seu conhecimento neste campo não ia além daquele dos predecessores do século XII. É pois sobre a base deste saber matemático que ele tinha redigido suas próprias pesquisas.

“No início do século XIX existia atividade científica independente da ciência européia”.

Ele começa por expor um método de resolução numérica de equação algébrica que depende explicitamente da importante propriedade do ponto fixo. Al-Asfahani considera, inicialmente, a função f(x) = x. A idéia importante que ele concebeu é a seguinte: existe um algaritmo simples que permite calcular um valor aproximado da raiz, com o grau de precisão desejado. Ele demonstra então duas proposições:

1º) a função y = f(x) = x1/3 é contractante sobre um intervalo fechado limitado (a, b) C R
se a > 1;
2º) se 1 é uma função crescente contractante de coeficiente h, g uma função afim crescente, g(x) = cx + d, então, se hc < 1, f = 1 o g é crescente contractante de coeficiente h.

No entanto, este procedimento fundamentado sobre o ponto fixo e estas proposições não são os únicos resultados que se encontram no livro de Al-Asfahani. Ali igualmente se encontra uma aplicação do método chamado de Ruffini-Hornere (11) para a resolução numérica das equações algébricas. Ele reintroduz as frações decimais, com o sinal decimal para continuar a aproximação por esse método.

Ele obteve ainda outros resultados, tais como o recurso dos números negativos, as relações entre os coeficientes e as raízes. A exemplo de seu predecessor do século XII, Al-Tusi, ele "estuda a separação das raízes das equações algébricas. Mas, em vez de desenvolver os meios analíticos enfocados na obra de seu predecessor, Al-Asfahani estudou aritmeticamente a variação das funções polinômicas e se esforça para determinar os intervalos onde se encontram as raízes. Ele aplica, de fato, implicitamente, o célebre teorema dos valores intermediários.

Sem insistir mais tempo, sobre os resultados obtidos por Al-Asfahani, apresentamos o fato epistemológico mais interessante que se destaca nesta obra: este matemático chegou, partindo de seus predecessores do século XII, a certos resultados análogos àqueles que demonstraram os matemáticos dos séculos XVII e XVIII não, como eles, graças à análise, mas por meio do estudo aritmético das funções polinômicas. Tudo se passa como se sua intenção fosse destacar uma teoria aritmética para essas funções.

Al-Asfahani não era nem o único sábio, nem um matemático isolado; ele pertencia a uma escola onde trabalhavam outros sábios, como Al-Birjandi. Os pesquisadores desta escola escreviam então ou na língua da ciência tradicional, o árabe, ou em persa. O próprio Al-Asfahani escreveu outros dois livros em persa, um sobre a divisão da esfera pelos planos e outro sobre a teoria dos números.

Vê-se, então, por este exemplo iraniano que no início do século XIX existia uma atividade científica independente da ciência européia. O caso da escola de Isfahan não é único: encontram-se semelhantes na Turquia, na Índia, na Tunísia e no Egito. Desnecessário dizer que esta pesquisa não representaria uma parte de ponta da ciência do século XIX, mas que retirar-se-ia, condenada a desaparecer, por vencimento, para ceder lugar à ciência vitoriosa.

Mas a famosa "decadência científica", que habitualmente invocamos a propósito de um ou outro país de civilização islâmica, não é de modo algum sinônimo do nada; ela não pode, em todo caso, significar a ausência de toda a pesquisa ou aniquilamento deste espírito de pesquisa; ela reflete o recuo a uma posição subalterna, com relação à ciência em andamento, de uma pesquisa morosa, cujos resultados estavam reduzidos a um fenômeno "provincial", à margem e sem impacto na vida da ciência da época; pesquisa isolada tanto no plano paradigmático, como no plano linguístico.

Tal é, pois, o estatuto da produção científica da escola de Isfahan e de suas análogas. Mas a despeito deste "provincianismo", uma tal escola funcionaria dentro de uma transferência refletida ou planificada, tendo o papel de "quadro de receptividade" e de modo algum de simples deslocamento pela ciência moderna. Ela teria podido agir dentro de um sentido de "naturalização" da nova ciência às ciências matemáticas, na sociedade iraniana e na língua nacional.

Um matemático como Al-Asfahani seria dos melhores colocados para receber esta nova ciência; não somente a partir de suas aplicações, mas de seu ponto de vista mais inovador, isto é, da pesquisa teórica e fundamental. Observa-se de resto, entre os sábios como este último, um vivo interesse em adquirir, desde que a ocasião permitisse, qualquer resultado da nova ciência, os mais diretamente ligados às suas próprias pesquisas. É desta maneira que Al-Asfahani redigiu ele mesmo um livro sobre "os logaritmos dos senos".

O postulado do vazio não é apenas inexato, mais que isso, "a ciência moderna", esse produto europeu, não era de maneira alguma estrangeira nem por sua natureza, nem por suas origens que se enraízam na ciência clássica, aos sábios destes países, notadamente quando se trata das ciências matemáticas.

A verdadeira questão para quem se interroga sobre a transferência da ciência européia não é mais aquela de seu deslocamento para um vazio; trata-se agora de saber se esta estrutura de acolhimento da nova ciência foi pensada e utilizada como tal, ou se ela foi descartada, por exemplo em razão de uma ideologia da modernidade. Nós consideraremos a resposta trazida a essas perguntas no Egito, do início do século XIX.

“A ciência moderna chegou ao Egito quando foi criado o Estado nacional”.

Começamos por notar que a situação do Egito sobre este plano, como foi o caso de outros países de dominação otomana, era bem menos florescente que aquela do Irã. Observa-se, é verdade, que certo espíritos curiosos desenvolveram o estudo da matemática e da astronomia tal qual eles se apresentaram nas antigas contribuições, ou preferencialmente em seus comentários tardios. Mas, a existência da Universidade de Al-Azhar (12) no Cairo, permitiu assegurar o ensino e a pesquisa nas disciplinas linguísticas, jurídicas e teológicas.

Nós veremos que os membros deste ensino tradicional vão fornecer o essencial do corpo docente que servirá para sobrepor a este ensino um outro moderno e concorrente. Quer dizer, os defensores da ciência clássica, mesmo sob seu modelo ultrapassado, longe de se oporem a este novo ensino, serão os mediadores de sua introdução e, em qualquer condição, de sua transferência. A este fenômeno, à primeira vista paradoxal, junta-se um outro: não foi com as armas imperiais que a ciência moderna chegou ao Egito, mas por ocasião da criação do Estado moderno e nacional. São por isso elementos que contradizem os esquemas propostos para a transferência e a difusão da ciência européia.

O caso do Egito no início do século XIX é exemplar, em razão da sucessão, com alguns anos de intervalo, de dois acontecimentos capitais:
a expedição francesa de Bonaparte (13) e a fundação do Estado moderno por Muhammad Ali (14).

Eu lembrarei aqui simplesmente que Bonaparte associou à sua expedição militar uma expedição científica. Uma vez concluída a sua campanha no Egito, criou o Instituto do Egito, que tinha entre seus membros, Monge (15), Fourier (16), Berthollet (17), Geoffroy Saint-Hilaire (18), entre outros. Este Instituto compunha-se de quatro seções: matemática, física (no sentido do século XVII), economia política, literatura e arte. No decreto de sua fundação se lê: "Este estabelecimento terá principalmente por objetivo: 1º) o progresso e divulgação das Luzes no Egito; 2º) a pesquisa, o estudo e a publicação dos feitos naturais, industriais e históricos do Egito; 3º) dar seu parecer sobre as diferentes questões às quais for consultado pelo governo" (19).

O Instituto possuía uma biblioteca frequentada por certos notáveis egípcios, mas a grande maioria destes últimos, segundo testemunhas da época, permaneceu indiferente à nova ciência, a não ser talvez os que tomaram consciência do atraso tecno-científico já acumulado, em proporção ao atraso militar, de que eles vieram sentir as consequências. Quanto a Bonaparte, ele: "Propôs ao Instituto o estudo de questões que pertenciam, quase todas, ao âmbito das ciências aplicadas. Ele considerava o Instituto como um Conselho técnico, tendo por missão dar esclarecimento ao governo, isto é, a ele mesmo" (20).

As múltiplas fontes das quais dispomos – como a monumental obra La Description d&apos;Egypte – mostram que os trabalhos desse Instituto, importante para a história, a geografia, a antropologia, não contribuíram de modo algum para a transferência da ciência moderna ao Egito. De outro modo, as repercussões científicas da expedição no próprio Egito – que se resumira talvez, a uma tomada de consciência do atraso científico por certos intelectuais como Hasan Al-Azhar e Al-Jabarti – são incomparavelmente mais magras que as suas consequências sociais.

Mas esta expedição teve um resultado indireto importante: popularizou na França, notadamente entre os adeptos de Saint-Simont (21), os encantos do Egito. Em uma palavra: para a expedição, o Egito representou um terreno de pesquisa e não é oportuno falar de transferência nesse lugar onde não havia nem oferta, nem procura de ciência. E, de resto, o caso do Egito, sob esse aspecto, não parece ser o único. A leitura dos "Archives de la Comission Scientifique du Méxique" sugere bem que não houve ali uma transferência, mas que o México representou um campo de pesquisa geológica, mineralógica, geográfica, antropológica e atmosférica.

O que quer que seja, no caso do Egito, a transferência só começou com o primeiro Estado nacional e moderno. Com efeito, alguns anos depois da retirada do exército francês, presencia-se, com a formação do Estado de Muhammad Ali, a primeira tentativa de modernização econômica e científica. É neste momento somente que se cria a demanda da tecnologia européia e, por consequência, da ciência européia.

“O sistema tradicional sobreviveu e serviu de suporte à organização educacional moderna”.

Nós não poderíamos aqui retomar a história deste movimento, ainda menos aquela do Egito por pouco mais de três quartos de século; nós queremos somente sublinhar alguns dos traços principais. Em primeiro lugar, esta transferência necessária para uma política de desenvolvimento econômico e militar exigiu uma reforma radical do sistema educacional.

É assim que ao sistema tradicional, então em vigor, sobrepôs-se um sistema moderno, que desqualificava inevitavelmente o predecessor, mas sem o suprimir, ao contrário, dele tirando proveito. Este novo sistema, que forneceria ao exército e ao Estado os quadros técnicos e administrativos dos quais eles tinham necessidade, recrutou a maior parte do seu pessoal entre pessoas que tinham sido educadas no sistema tradicional. A transferência não era pois um ato, nem uma série de atos pontuais exatos, mas concernente ao sistema educacional em sua totalidade.

Realmente, o Estado moderno, que tinha o monopólio da atividade econômica, procurou a formação de uma potência militar substancial e de uma administração eficaz. Muhammad Ali, com ajuda dos militares, de engenheiros, de médicos, e mesmo de operários europeus e notadamente dos adeptos de Saint-Simon, criou as escolas especializadas: escolas militares, navais, veterinária, escolas de medicina, de administração, de contabilidade etc, quer dizer, aquelas ligadas diretamente ao exército e à administração. Ele igualmente criou escolas importantes para o exército e a indústria militar e civil: Escola Politécnica com as suas modalidades – minas, pontes e estradas, energia – Escola de Química, Artes Industriais, Agronomia etc. Além disso, criou um observatório e uma biblioteca (22).

Quando, por exemplo, nos detemos nas matérias ensinadas na Escola Politécnica, após sua fundação definitiva em 1836, encontramos as disciplinas da época: geometria superior, álgebra superior, trigonometria, geometria descritiva, geometria analítica, cálculo diferencial e integral, mecânica, física, geodésica, estatística, astronomia etc. Mas, para fornecer a essas escolas alunos capazes de seguir um certo aprendizado, o Estado teve então que criar dois tipos de escolas primárias e preparatórias e, finalmente, um Conselho de Instrução Pública, que controlasse e orientasse esse novo sistema educacional, concebido para "naturalizar" a tecnologia e a ciência moderna. No entanto, quando se olha mais de perto, constata-se que as escolas primárias foram realmente uma versão, renovada, das escolas primárias do sistema educacional tradicional; encontram-se as mesmas disciplinas linguísticas e religiosas ensinadas na Universidade tradicional de Al-Azhar, mais a matemática, a geometria e a geografia.

Neste grau, o sistema tradicional estava presente no novo, não somente por suas disciplinas e seus livros, mas também por seu pessoal: os professores primários eram escolhidos entre aqueles que tinham concluído seus estudos dentro do sistema tradicional. Nas escolas preparatórias, ensinavam-se ainda línguas, a geometria – o livro de Legendre (23) – a aritmética, a álgebra, a geografia, a história e o desenho.

Em 1841, acrescenta-se ao ensino, o francês, que vinha a ser de fato, a primeira língua européia ensinada nas escolas secundárias. Está claro que este programa das escolas primárias e preparatórias é um programa de transição entre o sistema tradicional e um ensino moderno. O recrutamento dos alunos – pelo menos no início – e a organização das escolas tinham como modelo as práticas então em uso no exército.

O conjunto do sistema era muito pesado e burocrático. Se vê bem que o sistema tradicional não somente sobreviveu ao sistema moderno, mas lhe serviu de suporte: disciplinas, livros, professores e mais ainda, algumas figuras importantes do movimento de transferência no stricto sensu. Vários membros desse sistema tradicional dedicaram-se, com efeito, à correção e à tradução de livros europeus e compuseram os léxicos técnicos com ajuda da terminologia da ciência clássica; eles foram alunos de algumas grandes escolas – medicina, politécnica – e outros foram enviados em missões ao estrangeiro. Em resumo, a transferência exigiu a elaboração de um novo sistema educacional que encontrou suas bases no antigo, que foi deslocado científica e também socialmente pelo novo.

“Um modelo voltado mais para os resultados da ciência que para sua produção”.

Segundo traço dessa transferência: ela se efetuou sem dificuldade na língua nacional. Não foi, como na tradição colonial, imposta uma língua européia para o ensino científico, mas começaram por introduzir um sistema de tradução oral antes da formação do quadro local. Isto, deliberadamente provocou, desde o início, um movimento de “arabização” dos tratados e dos manuais, assim como a edição de léxicos e dicionários.

Para assegurar esta "arabização", recorreu-se a dois meios: a fundação de uma escola para formar os tradutores e as missões de estudantes ao estrangeiro. A escola de tradução, dita "escola de línguas", foi fundada em 1835. A doutrina que presidiu a sua criação é assim formulada pelo próprio chefe de Estado: "tudo que é útil nos sistemas ocidentais foi escrito por seus autores; se podemos traduzi-los, podemos compreendê-los".

Esta escola organizava-se em quatro seções, que designavam bem os fins desejados: matemática, medicina e física; literatura; história e geografia e, finalmente, o turco. O programa não contemplava somente as línguas – notadamente o árabe e o francês –, mas também elementos de matemática, história, e geografia. Vários membros desta escola (professores e estudantes) vinham do sistema tradicional e vários de seus antigos alunos seriam grandes tradutores e até grandes figuras intelectuais da geração seguinte – como Rifa&apos;a Al-Tahtâmi (24).

As missões eram múltiplas, mas especialmente nos domínios científicos e técnicos. Foi realizada uma missão na Itália em 1813; sete missões na França, em 1818, 1826, 1832, 1844, 1845, 1847 e 1848; fundou-se, mesmo em Paris, uma escola egípcia para formar missionários. Enviaram-se missões para a Inglaterra e Áustria – 1829, 1845, 1847 e 1848, e também uma para o México.

O costume ditava que cada aluno, em seu retorno, traduzisse para o árabe, um livro estrangeiro na sua especialidade. A totalidade dos livros científicos traduzidos destinavam-se ao aprendizado de futuros engenheiros, médicos, químicos. Assim, para os livros de matemática, se encontra A Geometria Descritiva de Monge, A Geometria de Legendre, A Álgebra de Mayer (25) e A Geometria Descritiva de Duschenes (26).

Um terceiro traço desta transferência é a escolha pragmática e aplicada que a presidiu. O exame das disciplinas, dos livros traduzidos dos objetivos das missões mostra que se tinha deliberadamente optado por disciplinas aplicadas, ou por aquelas que a elas estariam estreitamente ligadas.

Mesmo quando se introduziu o ensino de outras disciplinas foi relacionado com as disciplinas aplicadas, segundo suas necessidades de formação. De tal modo que a transferência visa bem mais às técnicas industriais e militares, à saúde etc., que às próprias ciências. Assim, entre os livros traduzidos, vários tratam de geometria descritiva, mas nenhum de teoria dos números, para citar um só exemplo. Muitos trabalhos dizem respeito diretamente à aplicação industrial.

O quarto traço notável desta transferência é que ela se efetuou sem a pesquisa, isto é, visou mais os efeitos dessa ciência, do que os meios de produzi-la. Sobre o plano institucional registre-se que, no momento em que se fundaram, segundo o modelo francês dos primeiros decênios do século XIX, diferentes escolas de engenharia, medicina, farmácia etc, não se sonhou em criar uma só instituição acadêmica consagrada à pesquisa.

“Transferência não foi produto dos impérios, mas realizou-se sempre contra eles”.

Nesse estado de coisas houve várias consequências que conduziram à ausência de tradições científicas nacionais e à instauração de uma certa dependência científica permanente em relação aos países da Europa. A concreta tradução de tal situação era que, frequentemente, um jovem sábio produtivo, no curso de sua estadia de formação na Europa, reduzia ou parava a pesquisa ao retornar. Este mesmo sábio, por falta de instituições de pesquisa, não teria sucessores.

Daremos como exemplo, entre tantos outros, aquele do astrônomo egípcio, Mahmud Al-Falaki. Professor da Escola Politécnica do Cairo a partir de 1834, ele foi enviado em missão para a Europa. Durante sua estada, ele publicou nas revistas da Academia Belga e Francesa, entre outras, várias pesquisas sobre o calendário e o campo magnético da terra. Durante alguns anos que se seguiram ao seu retorno ao Egito, ele prosseguiu suas pesquisas em prolongamento àquelas que tinha realizado na Europa, traçou a primeira carta astronômica e topográfica do Egito e observou o eclipse de 18 de julho de 1860. Ele interessou-se, em seguida, por estudos que não tinham ligação com a astronomia, geografia e meteorologia. Tornou-se duas vezes ministro, mas não deixou alunos. Mas, apesar deste obstáculo maior que contribuiu para impedir a fundação de um verdadeiro centro científico, assistimos a um começo de "naturalização" da ciência: a organização militar do ensino cedeu lugar a uma organização civil; o corpo docente é constituído, em sua maioria, por egípcios; a “arabização” progride e se aperfeiçoa. Tal é a situação às vésperas da ocupação pelos britânicos, em 1882, que deu um brutal embargo a este movimento, mas isto é uma outra questão (27).

A despeito das diferenças, os dois exemplos evocados aqui mostram bem que, para compreender a ciência européia e os problemas levantados para a sua transferência e sua integração, parece necessário conhecer a ciência tradicional, que estava ainda em vigor no século XIX, seus ideais, seus paradigmas, suas escolas e suas instituições, assim como o sistema de ensino tradicional que formou a elite. É então preciso repensar não somente a transferência da ciência européia, mas igualmente um debate ideológico que estava ligado a ela, conhecido sob os termos de modernismo e tradição.

Enfim, o exemplo egípcio é prova de que a transferência não foi produto dos impérios coloniais, mas que teve lugar em qualquer condição, contra eles. Essa era a tarefa do Estado nacional dentro da língua nacional. Os obstáculos eram em parte imputáveis a uma concepção pragmática da ciência e enfraqueceram, sem dúvida, sua "naturalização", tornando incerto o destino da transferência.

* Texto traduzido pelos professores Lejeune Mato Grosso Carvalho, sociólogo da Unimep, e Maria Guilhermina Vicentin de Carvalho, historiadora, com revisão técnica feita por Olival Freire, da UFBA.

Notas
(1) Sir Isaac Newton, renomado cientista, físico, matemático e astrônomo inglês, (1642-1727) (V, Vol. 31, p. 4270), N. T.
(2) Etiénne Montucla, historiador francês, especialista em história da matemática. Sua principal obra, (1800) foi publicada em 4 volumes, intitulada Historie de la Matematique, in BOYER, História da Matemática, Edusp & Edgard Brucker, SP, 1974, p. 322, N. T.
(3) Jean Marie Antoine Condorcet, filósofo e matemático francês (1743-1794). Ligado a D&apos;Alambert, a Voltaire e a Turgot. Colaborou na Enciclopédia. Foi também deputado na Assembléia Legislativa e na Convenção. Elaborou um plano de organização da instituição pública, (V, Vol. 7, p. 1567-1568) N. T.
(4) August Comte (1798-1857), francês. No campo da filosofia, desenvolveu a teoria positivista.
(5) Edmund Husserl, filósofo alemão (1859-1938). Suas principais obras foram Filosofia da Aritmética (1891) e Investigações Lógicas (1900). (VI, Vol. 11, p. 5915-5917 e IV, Vol. 18, p. 613) N. T.
(6) Todos os nomes de origem árabe que forem citados a seguir, e não possuírem as suas respectivas notas explicativas, assim constam pelo fato de que tais referências não puderam ser encontradas. Veja a esse respeito o que diz Colin Ronan: "Algumas biografias árabes podem ser encontradas no Dictionary of Scientific Biografy, de Londres (não traduzido para o português), mas não existem biografias em inglês de cientistas islâmicos e árabes", in RONAN, Colin A. História da Ciência Ilustrada, Universidade de Cambridge. Obra em 4 Volumes, Círculo do Livro, Vol. 11, p. 159, São Paulo, 1983, N. T.
(7) Ou Isfaã, cidade do Irã, ou Pérsia como era chamada na antiguidade, foi capital desse país sob os seljúcidas (séculos XI-XIII) e sob os sefévidas (1598-1722) (V, Vol. 17, p. 3296) N. T.
(8) Por dificuldades diversas já citadas na introdução, os seguintes nomes não puderam ter as suas referências bibliográficas mencionadas para esclarecimento do leitor: Mirza Ali Muhammad Al-Asfahani (persa), Al-Yazde (persa), Al-Birjandi (árabe), Hasan El-Azhar (árabe), Al-Jabarti (árabe) e Mahmúd Al-Falaki (árabe), N. T.
(9) Trata-se de Ghiyath Al-Khayyami. Foi um dos astrônomos e matemáticos mais conhecidos durante o período islâmico. Seu nome no ocidente seria Omar Khayyam. Nasceu na Pérsia (hoje Irã) em 1048 e morreu em 1131, in RONAN, Colin A., op. cit., Vol. II, p. 81-129, São Paulo, 1983, N.T.
(10) Sharaf Al-Din Al-Tusi foi um matemático e astrônomo que inventou o "astrolábio linear". Escreveu também um tratado sobre álgebra. Op. cit., vol. II, p. 81-129, N. T.
(11) Guilherme Jorge Horner, matemático inglês (1786-1837). (I, Vol. 16, p. 72). Paolo Rulfini, matemático e médico italiano (1765-1822), (IV, Vol. 30, p. 220), N. T.
(12) A Universidade Al-Azhar ou Al-Djãml&apos;Al-Azhar (que significa "a mesquita esplêndida"), é muçulmana do Cairo, Egito. Foi fundada pelos fatimidas em 973 da nossa era e reconstruída no século XIV. Hoje é um grande centro do nacionalismo árabe (VII, Vol. 2, p. 657), N.T.
(13) Napoleão Bonaparte, imperador e general francês (1769-1821). Governou a França entre 1799 e 1814 e durante os cem dias (de março a junho) de 1815. A Campanha do Egito a que o autor referir-se-á por diversas vezes, foi realizada entre os anos 1798 e 1801, in MCNALL BURNS, Edward, História da Civilização Ocidental, 26ª edição, Globo, Porto Alegre, 1985, p. 623-636 e (V, Vol. 31, p. 4221 e Vol. 11, p. 2068), N. T.
(14) Muhammad Ali Pachá, conhecido como fundador do Estado Moderno do Egito, tem na verdade origem albanesa. Nasceu em Kavala, em 1769, e morreu em Alexandria, em 1849. Governou o Egito entre 1805 e 1848, ocupando o cargo de Cáli (em árabe quer dizer "vice-rei"). (V, Vol. 11 e 20, p. 2068 e 3970), N. T.
(15) Gaspard Monge, ou Conde de Peluse, como também era conhecido, matemático francês (1746-1818). Participou com Napoleão da Campanha do Egito, após o que foi nomeado presidente do Instituto do Egito. Sua obra e teorias envolvem o estudo das figuras espadais, através do qual inventou a geometria descritiva (V, Vol. 21, p. 4120), N. T.
(16) Jean Baptiste Fourier, matemático e filósofo francês (1768-1830) (IX, Vol. 11, p. 719) N. T.
(17) Claude Louis Berthollet, químico francês (1748-1822). Em 1789, descobriu as propriedades descorantes dos hipocloritos, por ele aproveitados para o branqueamento dos tecidos e preparou os cloratos. Estabeleceu a composição dos ácidos e participou com Lavoisier, entre outros, da elaboração de uma nomenclatura química racional. Enunciou as regras às quais foi dado o seu nome, que permitem prever as duplas decomposições entre os sais, ácidos e bases. Fundou com Laplace, a Sociedade de Arcueil que reunia os maiores sábios da época. (V, Vol. 4, p. 751), N. T.
(18) Étienne Geoffroy Saint-Hilaire, naturalista francês (1772-1844). Encarregado, aos 21 anos, do primeiro curso de zoologia ministrado na França, no museu, criador da coleção de animais vivos do Jardim das Plantas, acompanhou Napoleão Bonaparte ao Egito. (V, Vol. 14, p. 2748, N. T.
(19) Henri Dehérain, “L&apos;Egypte Turque – Pachas et Mameluk du XVIe au XVIIIe siecle. L&apos;expédition du Général Bonaparte”, in Gabriel Hanotaux, Histoire de la Nation Egyptienne, Paris, 1934, Tome V, p. 533 – N. A.
(20) Ibid, p. 536 – N. A.
(21) Claude Henri de Rouvroy, Conde de Saint Simon, filósofo e economista francês (1760-1825). Aristocrata de origem, rompeu com a sua família após a revolução francesa e renegou o seu título nobiliário. Passou a ser um dos precursores do chamado socialismo utópico (V, Vol. 26, p. 5305) N. T.
(22) Veja também o caso do Egito e de Muhammad Ali, em TOYNBEE, Arnold, Um Estudo da História, Martins Fontes & Editora da UnB, 2ª ed., São Paulo/Brasília, 1987, p. 447-449, N. T.
(23) Adrien Marie Legendre, matemático francês (1712-1833). Participou dos trabalhos, visando à adaptação e à adoção do sistema métrico (V, Vol. 18, p. 3600), N. T.
(24) Escritor egípcio do século passado (período em que viveu não disponível). Foi formado na Universidade de Al-Azhar (ver nota do tradutor sobre tal Universidade). Foi enviado pelo governo egípcio para estudar na França, quando a escola em que estudava era dirigida por Abdi Efendi Muhurdar. Traduziu muitas e importantes obras do francês para o árabe. Uma das suas principais obras foi História do Egito (VII, Vol. 51, p. 551), N. T.
(25) Muito pouca referência sobre esse matemático. Deve se tratar, provavelmente, de Frédéric Cristian Mayer. Escreveu trabalhos no campo da trigonometria, por volta de 1703. Teria sido um dos primeiros membros da Academia de Ciências de São Petersburgo, Rússia, N. T.
(26) Aqui também as referências são poucas e esparsas. O autor deve se referir provavelmente a Simon Duchesne, matemático francês que escreveu sobre valores de (pi), tendo publicado trabalhos sobre isso em 1583, no século XVI, N. T.
(27) A maior parte das escolas foi fechada, o ensino tornou-se raro e pago e o programa das escolas visava a formar funcionários do governo (ver sessão do dia 24 de dezembro de 1894 da Assembléia Nacional) – N. A.

Bibliografia do autor:
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Bibliografia consultada pelos tradutores
DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO UTEHA – Unión Tipográfica Editorial Hispano Americano, México, 1951, Obra em 10 Volumes – Referência Bibliográfica n. I.
ENCICLOPÉDIA BARSA, Brasil, 1967, Obra em 16 Volumes – Referência Bibliográfica n. II.
ENCICLOPAEDIA BRITANNICA, Chicago, EUA, 1950, Obra em 24 Volumes – Referência Bibliográfica n. III.
ENCICLOPÉDIA ITALIANA, Milão, Itália, 1933, Obra em 39 Volumes – Referência Bibliográfica n. IV;
GRANDE ENCICLOPÉDIA LAROUSSE CULTURAL, Brasil, 1989, Obra em 30 Volumes, Referência Bibliográfica n. V.
ENCICLOPÉDIA MIRADOR INTERNACIONAL, Brasil, 1976, Obra em 20 Volumes, Referência Bibliográfica n. VI.
ENCICLOPÉDIA UNIVERSAL ILUSTRADA. Europeo-Americana, Bilbao, Espanha, 19-26, Obra em 80 Volumes – Referência Bibliográfica n. VII.
GRANDE ENCICLOPÉDIA DELTA LAROUSSE, Brasil, 1972, Obra em 16 Volumes – Referência Bibliográfica n. VIII.
GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGAL E BRASIL, Lisboa, Portugal, 1940, Obra em 36 Volumes – Referência Bibliográfica n. IX.
LA GRAND ENCICLOPÉDIE – Inventaire Raisonné de Sciences, de Lettres et des Arts, Paris, França, Obra em 31 Volumes, 1890, Referência Bibliográfica n. X.

EDIÇÃO 27, NOV/DEZ/JAN, 1992-1993, PÁGINAS 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47