No terreno da avaliação histórica o autor afirma: “(…) Os ideais da vida eterna, motor espiritual dessa cultura (ibérica, no caso), elevaram ao infinito a tenacidade de um punhado de homens que construíram nesse hemisfério as bases de uma civilização humanista” (p. 140). Isto corresponde a uma visão idealizada do processo de colonização hispânica na América Latina onde foram fortes as componentes predatórias e genocidas com os povos autóctones.

O autor é de opinião também que a proposta do socialismo, a que ele chama de utópico, chegou ao fim. No seu lugar aparece o “(…) ideal ecológico de união de todos os homens para a preservação do planeta” (p. 181) secundarizando a questão do sistema social capaz de realizar tal objetivo.
Apesar da grande riqueza de informações, o livro carece de referências mais precisas ao apresentar dados preciosos para o debate. Embora o autor justifique esta operação (“… excessos de citações poderiam tirar a leveza do texto”), um maior rigor com as fontes acrescentaria ainda mais força à sua própria argumentação.

A ressalva principal ao conteúdo do livro é, contudo, a ausência de articulação da questão nacional com as questões da democracia popular. A questão nacional ainda que fundamental para a soberania e dignidade de um povo e de um país não pode estar dissociada da luta democrática e popular, levando-se em conta as forças políticas necessárias ao combate eficaz do projeto neoliberal e antinacional.

O livro do professor Bautista Vidal deve ser lido e debatido, pois seu conteúdo de fato contribui para armar com dados e fatos todas as pessoas que defendem um Brasil soberano e democrático.
Lejeune Mato Grosso de Carvalho

O projeto de integração competitiva

(Uma avaliação crítica da política industrial do governo Collor) – Luis Antonio Paulino, Dissertação de mestrado – EAESP/FGV – 1992.

O grande mérito do trabalho apresentado por Luis A. Paulino reside, de um lado, na atualidade de seu tema central: a reinserção econômica do Brasil na economia mundial frente às novas características do sistema capitalista comendado pelos países imperialistas ( EUA, Japão, Alemanha etc) e pelas grandes corporações transnacionais. Por um lado, o trabalho entra em debate polemizando e confrontando-se com as teses, concepções e propostas defendidas por setores liberais (neoliberais) presentes na sociedade brasileira.

Nem o impeachment de Collor e a efetivação do presidente Itamar Franco retiram a atualidade desse debate, pois suas raízes mais profundas e as consequências práticas estão intimamente ligadas com a superação da crise estrutural que o Brasil enfrenta e com seu futuro enquanto nação independente e soberana. Não por acaso o debate está presente na imprensa e em importantes instituições nacionais, tais como governo, congresso, partidos políticos, universidades, entidades empresariais etc.

Nesse sentido, a dissertação de Luis A. Paulino extrapola o limite de um trabalho meramente acadêmico e se transforma numa contribuição efetiva, num instrumento importante para ampliar, aprofundar e acrescentar novos elementos e argumentos para a discussão em curso.
Partindo de um objeto de análise relativamente específico – a proposta de política industrial do governo Collor – o autor não se restringe a uma crítica pontual e limitada.

Ao tomar como pano de fundo a evolução da crise mundial do capitalismo nos últimos 15 a 20 anos e elaborar sua análise crítica com base na teoria da regulação desenvolvida pela corrente marxista francesa composta por Aglistta, Lippietz, Coriat e outros, Luis A. Paulino não só dá consistência teórica ao seu trabalho como também consegue caracterizar a proposta política industrial de Collor, como contrária aos interesses nacionais, na medida em que favorece os objetivos estratégicos dos países imperialistas e das corporações transnacionais que buscam superar a crise de acumulação capitalista, impondo uma nova divisão internacional do trabalho e uma nova ordem econômica, social e política em nível mundial.

Outro aspecto relevante do texto é que ao reunir um conjunto de informações e dados estatísticos coletados em numerosos autores nacionais e estrangeiros, compondo-os numa estrutura lógico-científica de análise, o autor consegue explicar e compreender a natureza dos novos fenômenos emergentes num período de crise e transição tais como: a crise de acumulação capitalista tem como raiz a falência do fordismo/taylorismo como forma de organização do trabalho produtivo a necessidade do estabelecimento de um novo paradigma tecnológico-econômico (liberal-produtivista) para superar a crise e dar sequência à exploração do capital sobre o trabalho assalariado; o ressurgimento da ideologia liberal no terreno econômico social e político (neoliberalismo), o desemprego crescente como resultado da produção capitalista flexível; o novo papel do Estado capitalista etc.

Todos esses temas extremamente atuais e principalmente suas consequências para a luta cotidiana dos trabalhadores assalariados a para os que lutam por transformações radicais do capitalismo (socialistas) merecem e exigem maior debate. O texto contribui para isso.

Como observações críticas ao trabalho de Luis Paulino podem-se registrar e indicar duas questões.

EDIÇÃO 28, FEV/MAR/ABR, 1993, PÁGINAS 71