No mundo da nova ordem imperialista tornou-se primordial, na agenda dos centros financeiros internacionais, o ajuste das diversas economias nacionais para atingir o objetivo de inseri-las no mercado internacional. Entretanto, os ajustes não ocorrem sem luta onde os interesses nacionais se defrontam com os interesses dos países imperialistas, atualmente agrupados no chamado “Grupo dos Sete Ricos”. Tais lutas têm sido mais agudas nos países em que há certo grau de desenvolvimento econômico, nos quais os ajustes propugnados representam uma dilapidação mais expressiva dos parques industriais já constituídos.

Nos países americanos subordinados diretamente à influência norte-americana, este ajuste recebeu o batismo de “Consenso de Washington” e completa a privatização das estatais estratégicas e lucrativas, a indiscriminada abertura aos produtos e capitais estrangeiros, o corte do déficit público e a estabilização da moeda. Tais providências foram implementadas, no Brasil, já pelo governo Collor, mas encontraram em Fernando Henrique, ministro e candidato a presidente, sua expressão mais viável – e também mais concentrada. Para que não pairem dúvidas, o próprio criador da expressão Washington Consensus, o economista John Williamson, veio ao Brasil, a convite de Marcílio Marques Moreira, ex-ministro de Collor, para atestar que o Plano Real e a candidatura FHC são “consistentes” com o “Consenso de Washington” (Folha de S. Paulo, 07-08-1994).

No Brasil, a resistência a tal ajuste de caráter antinacional e antipopular tem assumido formas diversas, expressando-se hoje, principalmente, na candidatura popular de Luiz Inácio Lula da Silva. Só por este prima é que podemos compreender a polarização aguda que tomou conta da disputa eleitoral em curso. Esta candidatura constituiu-se objetivamente no desaguadouro das resistências populares aos projetos neoliberais de ajustes na economia brasileira com vistas à integração na suposta “modernidade”.

A eventual vitória de Lula consistirá, assim, em um fato político de significado histórico, que irá transcender as ambiguidades que cercam esta candidatura e representar um dique de contenção à execução de tais projetos. As elites oligárquicas brasileiras já demonstraram consciência dessa possibilidade e tudo fazem para viabilizar a vitória da candidatura Fernando Henrique Cardoso. Resta às camadas nacionais, democráticas e populares, demonstrarem igual, ou superior, compreensão sobre o significado da batalha eleitoral de outubro vindouro.

EDIÇÃO 34, AGO/SET/OUT, 1994, PÁGINAS 3