O balanço das eleições de 3 de outubro deve partir da constatação de que as forças conservadoras obtiveram significativo êxito com a candidatura de Fernando Henrique. Trata-se de uma vitória em que a direita, em aliança com o centro, foi capaz de polarizar inclusive setores de centro-esquerda, derrotando o candidato de esquerda e aplastando forças intermediárias. Aos poucos começam a aparecer evidências da operação política que permitiu aos capitais norte-americanos, bancos, grandes empresários e latifundiários nacionais, com patrocínio de Fiesp, CNI e Rede Globo, realizarem a “santa aliança” para promover os ajustes na sociedade brasileira com vistas à integração subordinada aos novos ditames do capitalismo mundial. FHC foi a candidatura que viabilizou tal acordo. Os interesses predominantes no esquema vitorioso têm como matriz de fundo o neoliberalismo, mas trata-se de esquema heterogêneo, cujas contradições devem ser levadas em conta na atitude oposicionista dos segmentos populares e democráticos.

Se o plano real, parte integrante de tal operação, foi isoladamente o fator decisivo para o resultado, não se podem subestimar as insuficiências do campo popular e democrático. Tratou-se de uma campanha marcada pelo apoliticismo, na qual a defesa atualizada da soberania nacional, alvo privilegiado da campanha de FHC, foi a grande ausente na pregação de Lula. Brizola abordou melhor tal questão, mas faltou-lhe maior credibilidade. Além do apoliticismo, as marcas de estreiteza política e sectarismo na montagem das alianças e na condução da campanha exibiram suas consequências já na reta final.
Muito se falou em ampliar a campanha da Frente Brasil Popular, mas em geral isto era a senha para a tentativa de apresentar a candidatura de esquerda como palatável às classes dominantes.

Neste quadro desfavorável, no seu significado mais geral, a esquerda colhe certos resultados positivos. O Partido Comunista do Brasil amplia significativamente sua bancada federal, o Partido dos Trabalhadores aumentou sua bancada, o Senado foi arejado com a eleição de personalidades progressistas e populares, Miguel Arraes e Dante de Oliveira foram eleitos em primeiro turno governadores de Pernambuco e de Mato Grosso, respectivamente, candidaturas de esquerda e centro-esquerda disputam o segundo turno das eleições estaduais.

A análise do novo quadro oriundo das urnas, o exame do governo que se forma, bem como a interferência na mídia nesse processo eleitoral estão nos artigos de Luiz Marcos Gomes e de José Carlos Rocha e nos documentos “As eleições gerais e o novo governo” e “Vitória do PCdoB nas eleições legislativas”, aprovados pela Direção Nacional do Partido Comunista do Brasil. Princípios continuará abordando o tema nas edições subsequentes.
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A diversidade política e ideológica de colaboradores da revista Princípios, nestes últimos números, evidencia que uma revista marxista brasileira como a nossa, que aborda teoria, política e informação, vai se convertendo num veículo para a expressão das forças que lutam, mesmo que parcialmente e de modo diferenciado, pela construção de um Brasil democrático, soberano e socialista.

EDIÇÃO 35, NOV/DEZ/JAN, 1994-1995, PÁGINAS 3