O jornalista e economista Luis Marcos Gomes analisa os rumos deste governo que já não pode recuar e que, sem compostura, repete no trato de trabalhadores grevistas a truculência que o fim da ditadura militar parecia ter deixado no pó da história. O jornalista Alon Feuerwerker mostra, por sua vez, que, passada a anestesia eleitoral, o povo brasileiro volta a ser atormentado pelos mesmos males que o Plano Real (como os demais planos milagrosos dos últimos anos) prometeu eliminar. O deputado Aldo Arantes desmonta os falsos argumentos que apresentam como moderna e avançada uma reforma eleitoral anacrônica, que pretende vestir a vida política do país em uma camisa-de-força institucional que só favorece a elite, e que as nações mais democráticas e avançadas do mundo abandonaram, a exemplo do Brasil, há muitos anos. Já Cesar Benjamin desnuda o conservadorismo e a falácia que estão em voga no pensamento econômico, e que tentam convencer o povo e os trabalhadores de que é indispensável atender exclusivamente aos interesses dos patrões, da burguesia e do imperialismo, e que esta situação irá resultar em benefício para o povo trabalhador de nosso país.

Na recente viagem aos Estados Unidos, Fernando Henrique Cardoso recebeu orientações explícitas para agilizar as reformas e fazer uma Lei de Patentes mais palatável para a política ianque.
A propalada prioridade do governo em relação à questão tributária foi substituída por um “pacote” de emendas econômicas, que ferem diretamente o capítulo da Constituição em que estão registradas as salvaguardas dos interesses nacionais. Sobre este tema, a revista publica os votos em separado dos deputados Haroldo Lima e Sérgio Miranda.

Em relação à questão social, é quase possível adivinhar os conselhos que Fernando Henrique Cardoso teria ouvido na Inglaterra, país pioneiro na aplicação do projeto neoliberal, cujo governo conservador só conseguia adotá-lo de forma ampla depois de derrotar de modo iníquo a greve dos mineiros em 1982. O governo inglês, primeiro da famigerada Margareth Thatcher e, depois, de John Major, pode ser visto por Fernando Henrique e pelo grupo de intelectuais e técnicos que o serve, sem dúvida, como um mestre a ser seguido nessas questões e também na privatização selvagem e lesiva aos interesses nacionais.

Pois é este o neoliberalismo em ação! E este é o seu governo. Luis Fernandes, cientista político, analisa o sentido e os impasses do neoliberalismo, e mostra que o triunfalismo dominante esconde problemas e contradições graves. A socióloga Clara Araújo explicita o quadro político-institucional onde conquistas que demoraram décadas para ser alcançadas são, uma a uma, demolidas. As mulheres brasileiras querem discutir, na Conferência de Pequim marcada para setembro deste ano, o tipo de desenvolvimento que interessa às mulheres do todo o mundo. Do México, publicamos carta do Subcomandante Marcos, líder dos Zapatistas. Neste ano, o fim da Guerrilha do Araguaia faz 20 anos.

Foi o principal movimento armado contra a ditadura militar e, ao mesmo tempo, contra a miséria que oprime as populações pobres do campo no Brasil. O historiador goiano Romualdo Pessoa Campos Filho lembra esta saga.

Olhar o Brasil e reconhecer nele a marca da mão de milhões de trabalhadores (escravos, no passado, e camponeses e operários, no último século) que construíram sua história – esta é a tarefa que Clóvis Moura se propôs há algumas décadas, e que desde então orienta sua atividade teórica e prática. O resultado desse olhar é uma obra que ajuda a compreender a história da longa resistência de nosso povo à opressão de classe e à opressão colonial, no passado, e imperialista, no presente.

EDIÇÃO 37, MAI/JUN/JUL, 1995, PÁGINAS 3