O presente livro constitui uma iniciativa cheia de significação. Mais que o texto, ele transcende às intenções dos autores. Pois eles estão mergulhados na divulgação de um estudo sério. O livro nega as propaladas predições de que o socialismo revolucionário e o marxismo perderam qualquer atualidade.
O que vemos é o inverso. Das várias correntes do socialismo revolucionário, o marxismo parece ser a que atrai a atenção dos jovens e cresce com todo o vigor. A razão é simples: os dilemas e iniqüidades que ele repudia não foram inteiramente removidos pelo capitalismo oligopolista automatizado e pelo pseudo"neoliberalismo", uma justificação cínica de que tudo é devido ao capital, inclusive a homenagem da fome e da miséria.

Não tive a oportunidade de participar dos seminários, feitos por professores de envergadura, e das discussões dos estudiosos. Fui colocado entre uma carga de trabalho esmagadora, várias ocupações fora do âmbito da Câmara dos Deputados e outras obrigações de rotina. Queria agir de um modo, mas os fatos duros excluíram-me de algo maior.

O livro Um olhar que persiste concentra-se sobre Marx e na transcrição de seleções bem feitas e oportunas. Dá uma mostra de que o marxismo renasce – se esse for o termo adequado! – com promessas fortes. Só que seria imperioso juntar a teoria à prática. Os nossos partidos de esquerda deslocam-se, de forma crescente, da práxis teórica que deveria alimentas suas atividades. O reformismo, na situação brasileira, não pode ser jogado na lata de lixo da história. Está ocorrendo, porém, uma convergência cada dia maior entre o reformismo retórico e paralítico da direita e o reformismo de negação da ordem de esquerda. Pode-se começar a partir de baixo, para combater e superar as monstruosidades de nossa sociedade. Mas não se pode rastejar em tomo do ponto zero, que não leva a nada – ou, antes, pressupõe a reprodução da ordem.

Desejo aos jovens autores que continuem a se bater pelo essencial. Não existe outra razão para ser marxista. Continuo, como antes, atento às suas realizações e esperanças. O capitalismo não é eterno. Ele terá, por contradições insanáveis, mais cedo ou mais tarde, de sofrer a ação renovadora imposta pela civilização sem barbárie.