Tiradentes, um presídio da ditadura – memórias de presos políticos é um livro emocionante. Como o próprio título diz, trata-se de um conjunto de textos de militantes de organizações e partidos de esquerda que lutaram (muitos de armas em punho) contra a ditadura militar e civil do Brasil pós-1964.
Os próprios organizadores passaram pelo presídio Tiradentes em São Paulo: Alípio Freire (Ala Vermelha), Izaías Almada (Vanguarda Popular Revolucionária) e Granville Ponce (Ação Libertadora Nacional) e para o projeto do livro receberam a colaboração de 32 ex-presos políticos que também passaram pelo “aparelhão” como era conhecido o presídio – de 1968 a 1973, quando foi demolido.
São memórias de dez mulheres e vinte e dois homens; a capa e outras oito ilustrações foram feitas pelo pintor Sérgio Ferro; um caderno de memória iconográfica do presídio, coordenada por Vladimir Sacchetta; um glossário contendo os principais verbetes utilizados na época e; na última parte (“Outros Olhares”), textos de pessoas que, mesmo do lado de cá dos muros entenderam ou procuram entender melhor o que se passava naqueles tempos.

O professor Antônio Cândido, em sua apresentação, aponta para algo que salta aos olhos durante a leitura: as divergências inerentes aos grupos que ali estavam não impediam que houvesse o diálogo, os estudos, a disciplina para os afazeres da rotina, o conceito da solidariedade e a vontade de permanecer lutando contra um regime ditatorial, torturador e assassino.

A esquerda naquele período lutou contra generais, contra o imperialismo, contra a falácia dos “milagres econômicos”, discutia sem cansar sobre os caminhos a serem trilhados para se chegar ao socialismo. No presídio conheceram o rosto dos “presos comuns”, o rosto do “esquadrão da morte”, a tortura escancarada do DEOPS, DOI-CODI, OBAN, Tiradentes e tantos outros centros de morte daqueles tempos. Apesar disto, eles partilhavam a vida e não se furtavam à derrota de não sonhar com um mundo transformado pelas mãos dos trabalhadores.

Tiradentes, um presídio da ditadura não tem a pretensão de ser um livro completo, pretende sim, retratar um período recente da nossa história que não pode cair no esquecimento das lutas populares, nem da memória de nossos líderes e representantes. Uma contribuição aos jovens de hoje e aos socialistas de todos os espectros.