Na história da humanidade os acontecimentos se acumulam aos trilhões. Alguns se destacam, outros desaparecem em meio às inúmeras casualidades, próprias da maneira pela qual a história humana é tecida. Compreender a importância de determinados fatos em relação aos demais – guardadas as necessárias correlações, quais sejam: retirar do particular o específico, buscando ultrapassar os limites estreitos do pontual e do cotidiano desprovido de lógica –, é tarefa científica porque demanda o entendimento da história enquanto processo, conectada, não como uma simples sucessão de flashes, isolados; exige um mergulho no passado – por intermédio de uma análise –, de maneira a permitir que sejam destacados – entre tantos –, os fatos mais relevantes, os quais representam marcos que suscitam reflexões passíveis de atualização, todas as oportunidades em que nos debruçamos sobre eles para estudo.

O interesse que move tal mergulho não é apenas tópico-abstrato mas é, sobretudo, ideológico, político e prático.
Se o estudo histórico já tivesse sido entendido dessa maneira, a modernidade teria deixado um grande legado, não fosse tantos outros, os quais em nome do fim dessa modernidade e início de uma nova era – pós-moderna –, se reduzem metafisicamente em dois extremos opostos, ou seja, simplificam o que é processo vulgarizando o estudo da história; pela negação da possibilidade do entendimento das relações e conecções de sua emaranhada teia. Essa, portanto, tem sido a faceta mais sofisticada e sutil da proclamação do “fim da história”.

Optar pelo estudo da história como uma ciência, traduz-se numa escolha teórico-prática dentro da intrincada luta de idéias ocorridas neste final de século.
A Comuna de Paris é um estrondoso fato histórico, um enorme iceberg impresso na história da humanidade de forma definitiva, porque suscitou todos os tipos de registro e, desde aquela época vem sendo estudado.

O próprio Karl Marx destacou a sua importância retirando do que chamou “assalto aos céus” conclusões fundamentais, as quais vieram a compor-se como núcleo principal de sua teoria.
No ano em que comemoramos os 150 anos do Manifesto do Partido Comunista, a Comuna de Paris completa 127. E, a obra de Sílvio Costa nos ajuda a entender melhor a correlação entre estes dois relevantes acontecimentos.

Do Manifesto do Partido Comunista – programa maior, de luta pelo socialismo –, à construção em processo da teoria do proletariado ocorre da análise das experiências históricas da tomada do poder pela classe operária.

O estudo da primeira revolução operária internacional, a Comuna de Paris, tem sempre relevância teórica. As reflexões que nascem desse estudo vão surgindo por meio da fácil leitura desta obra, Comuna de Paris: o proletariado toma o céu de assalto, dada a maneira didática como está construído o texto.

O trabalho de Sílvio Costa situa o leitor levando-o a compreender o panorama histórico e os importantes fatos nele contidos e a correlação existente entre os acontecimentos, possibilitando ao leitor tirar conclusões de tais ocorrências. Essa é uma preocupação que está contida no corpo desta obra. Contudo, ela se expressa mais fortemente nos Anexos, apresentados em destaque ao final de sua edição.

A presente obra está marcada pelo empenho simultâneo de formar, informar e refletir. Trata-se de um cuidadoso projeto, o qual, ao ser publicado, traz em si a marca de um formador de opiniões, cujo estudo possui um objetivo prático: reflexão conjunta e crescimento mútuo.

Madalena Guasco Peixoto

EDIÇÃO 53, MAI/JUN/JUL, 1999, PÁGINAS 79