Ate há pouco tempo as trabalhadoras rurais eram vistas por órgãos governamentais apenas como mães e encarregadas pelo bem-estar da família e esta é uma das principais razoes pelas quais tiveram reconhecido o direito à aposentadoria só a partir da Constituição de 1988. Nos últimos tempos a consciência e a ação das sertanejas se ampliou, e hoje, elas se fazem mais presentes, participando de debates para formulação de políticas publicas para o enfrentamento da seca; das comissões municipais de saúde, educação e infância; lutam por água e desenvolvimento sustentável; discutem as questões de gênero – dentre outras formas de luta.

Ao mesmo tempo, o trabalho e o papel da mulher trabalhadora rural na produção familiar é ainda desconhecido e as estatísticas oficiais têm pouco ou mesmo nenhum conhecimento dele- mesmo sendo importante gerador de renda, equilíbrio e sobrevivência das unidades familiares pobres do sertão nordestino.

Por esses motivos uma equipe começou, a partir de 1993, a sistematizar informações sobre inúmeras atividades e participação da mulher sertaneja na produção agropecuária e na organização da vida da família no sertão. Entrevistas, reuniões e diversas atividades de observação e registro, especialmente na microrregião de Araripe (PE), estão apresentadas em Viúvas da Seca, uma obra coletiva com o apoio da SUDENE que expressa um pouco desse esforço para trazer à tona o trabalho invisível dessas mulheres.

Viúvas da Seca reúne fotografias de Daniel Aamont, desenhos de Dantas Suassuna, esculturas de Ismael Portela, poemas de Tarciana Portella e textos de Tela Castello Branco. No conjunto, forma uma obra bela, sensível e de agradável leitura, que presta uma justa homenagem àquelas que assumem o papel de chefe de família – porque lá permanecem quando os homens migram -, e administram a porção de comida nos pratos quando não têm alimento suficiente para todos.