Borrão na cena do crime. Ela olhou praquilo e logo pensou em Tonho. Sabia que ele ia aprontar uma, mais cedo ou mais tarde. Riu. Chamou Do Carmo. Lá veio ela de cabelo desgrenhado, cara de sono, dizendo nhóra.

      – Esfrega issaqui que seu irmão sujou.

      – Ah, mãe…

      – Bóra, menina, deixe de lesêra.

      Depois de muito esfregar, a menina declarou:

      – Isso é graxa, mãe. Sai não.

      – Deixe ver. Ô, senhor. Aquele peste me paga.

      – Queu faço?

      – Deixe essa porquêra aí. Vá chamar Lurde.

      Voltou para o fogão. A lenha tava úmida. Os olhos não podiam mais de tanta lágrima. Era o cabrunco, mesmo: tudo atrasado e agora aquela graxa na pedra de lavar. Mas deix'star; a taca ia comer, ah, se ia.

      Chegou a mais velha.

      – Lurde, minha filha, corra lá na bodega de seu Dé e me traga soda cáustica. Manda marcar. Ducarmo, vá procurar Tonho. Antes, passe na casa de farinha e chame Zé. Que tá esperando? Vá!

      – Quêde a caderneta, maínha? – perguntou Lourdes.

      – Sabe que não sei onde se enfiou? Olhe, mande marcar lá. Fica na confiança.

      – Pai não chegou?

      – Chega já. Soda cáustica, viu? Diga que marque. E olhe: cuidado, visse. Vá.

      Fogo pegou. Tanta fumaça, pra cozinhar nada: batata doce e um punhado de arroz. Quem sabe Manuca trazia uma jabazinha? Quem sabe?…

      Foi varrer a sala e bater as redes. Esse gado passando pra lá e pra cá… É um tal de levantar poeira… Sentou na porta. Olhou as pernas: pele rachada. Tivesse ao menos um óleozinho…

      Lá vinha Tonho aos berros, arrastado pela irmã. Adivinhava a correia no lombo franzino. Porque mãe, quando batia, não escolhia lugar: era as pernas, a bunda, as costas, onde a taca pegasse.

      – Zé já vem. – era Do Carmo, zungando com o irmão, que fazia finca pé.

      – Tá chorando por quê, Tonho? Sente aqui. Vamo! Larga esse chôro e senta aqui pra eu catá tua cabeça. Bóra. Me dê ele aqui, Ducarmo. Pare com isso senão aí que você apanha. Pronto. Despois, cê vai limpar a lambança que cê fez. Agora fique quieto com essa cabeça.

      No fim da rua, apontou seu Manuca montado na mula. Vinha de mãos vazias. Quando era dia de carne, ele vinha sacudindo o embrulho lá de longe, anunciando a festa.

      Suspirou, enquanto caçava piolhos e os matava na unha.