Um povo triste esperava na enorme fila de emprego de uma rede de supermercados, e parecia não ter nenhum compromisso com o tempo – não este tempo cronológico que passou enquanto eu esperava o ônibus. O ônibus demorava e dava tempo de lembrar uma longa história de esperas e esperanças até que surgiu cabisbaixo e chutando uma garrafa plástica, um "Pedro pedreiro" da música do Chico Buarque. O ônibus demorava, então lembrei a minha irmã, que espera engravidar já fora da idade recomendada, para então, esperar um filho neste mundo de esperas, que não por acaso, inspirou Samuel Becket em "Esperando Godot".

      O ônibus demorava e eu já nem sabia mais se esperava um ônibus ou um trem que por acaso saiu fora dos trilhos. Bem, foi por esse tempo que pensei em colocar o episódio nesta coluna e devo confessar que pretendia encerrar esta história à moda dos poetas parnasianos, com uma grande frase de efeito, mas, com vontade muita e criatividade pouca, coisa que pode ocorrer até mesmo aos grandes homens da República, resolvi encerrar apenas com um pedido de desculpas.