Estávamos todos na praça puxando unzinhos quando o maluco chegou nos chamando para uma festa de aniversário na Ponta de Sambaqui. Segundo ele, um camarada dele tinha sido convidado para a tal festa e este o convidou. Ele, por sua vez, se achou no direito de nos convidar. E nós fomos. Éramos poucos, apenas uns quinze ou vinte. Mas estávamos muito animados, levamos alguns garrafões de vinho de quinta categoria e um violão (ninguém tocava, mas fazia um barulho legal). O baseadinho não levamos, este já era passado, tínhamos matado na praça mesmo.

      Pegamos o busão no terminal por volta das nove horas. Depois de quase uma hora de viagem e de nos perdermos do ponto até a casa, chegamos na tal festa. Perguntamos logo se o amigo de nosso amigo estava lá. É claro que não estava. Deve ser amigo do Júnior, disse alguém, mas o Júnior não veio. Já desconfiávamos se este amigo existia mesmo. Na realidade, não estávamos também muito preocupados. Nosso vinho vinha acabando no ônibus e acabou de acabar quando lá chegamos, por isso não contribuímos com nada além de nossa própria sede e fome.
Tinha um mundaréu de gente na tal festa, uns seis ou sete. Entramos e por pouco a dona da casa não bateu a porta em nossa cara.

      Era uma casinha pequena, de madeira. Alguns de nós fomos direto para a fogueira que estava acesa no quintal (Quando eu digo ir para a fogueira, quero dizer sentar em volta e tocar violão. Bem que os donos da casa queriam nos queimar vivos, mas, por educação, não puseram isto em prática.) e outros para dentro da casa onde estava o som ligado. Comemos do bolo, bebemos da bebida (era vinho) – Quer vinho? Venha! – dançamos e nem sequer tamamos conhecimento de quem era o aniversariante ou a aniversariante do mês.

      Estávamos quase todos em volta da fogueira quando os últimos chegaram se lamentando. Estavam dormindo no sofá quando os donos da casa os puseram para fora. Olhamos a casa, as portas e janelas estavam fechadas. Já passava das duas da manhã, não havia mais ônibus. Saímos da casa reclamando e maldizendo os donos, os xingamos do que podia e do que não podia. Depois descemos até a praia e dormimos na areia. Cinco da manhã balançamos as roupas no corpo e fomos embora.