– Pensou que eu não vinha, é?

      – Pensei.

      – Oxen’! Não tá vendo que não fazia uma desgracêra dessas?

      – Tô vendo é essa sua cara lisa, de me chegar a essa hora e ainda querendo chamego.

      – Õ, minha preciosa, faz isso não. Pra que essa brabeza, hum?

      – Pode ir parando.

      – Parar o quê?

      – Com essa mão sonsa.

      – Mas é que você é assim tão gostosa, e cherósa, e…

      – Pára, Unias. Não tá vendo vó ali na sala não?

      – A véia tá surda. A gente faz bem quietinho que ela vai nem perceber.

      – É surda, mas não é cega. Ó ela olhando lá de rabo de olho.

      – Cisma sua. Vai ver, ela é vesga tumém.

      – Vesga uma ova! Ela é bem viva. Fica sabendo dessa sem-vergonhêra sua e conta a mãe. Ó eu aí lascada. Já mandei ocê parar, Unia! Unia, pára. Pá… pá-ra. U… U-nia! Ai, U-nias!

      Na sala, Dona Pureza, de olho na tv e de ouvido na cozinha, ri seu riso sem dentes. Pra ela, não tem nada mais bonito que juventude. Melhor mesmo, só festa de reis e Josias, seu finado marido.

      – Ai, ai…