Estava outro dia no ponto de ônibus, torcendo por um ônibus vazio, para que eu pudesse me sentar e ler um bom livro do Gabriel Garcia Marques que trazia dentro de minha pasta, novinho em folha, aliás em várias folhas.

      Não sei porque cargas d'água – nunca soube o porque desta expressão – me lembrei de um senhor que trabalha na mesma empresa que eu. O seu João é um destes senhores que fazem tudo, trocam instalação elétrica, consertam encanamento e fala muito enrolado. Não entendo a maioria das palavras que ele fala. Quando pensei no seu João, subiu um frio pela espinha – não tem nada haver com sexo – e fiquei imaginando, já pensou se o velhinho pegasse o mesmo ônibus que eu, não só não conseguiria ler meu livro como teria que ir tentando decifrar suas palavras até o fim da viagem. Ainda bem que isto não tem perigo de…

      – Zusbien fnei eccnsef fdfiei?

      – Heim!?

      – Zusbien fnei eccnsef fdfiei o ônibus agora?

      – Oh! Seu João tudo bem.

      Era ele, dei azar. Puta que pariu, lá se foi minha leitura. Agora só espero que o ônibus não esteja lotado.

      – O senhor vai pegar o ônibus agora?

      – Vou!

      Chegou a condução. Estava lotada, nos arrumamos em um lugar onde ninguém nos ficasse empurrando e ele começou a falar.

      – Zeonsoen fefs f sfnsf asffnew infe fwfwejw fé wfje fwf fwejwe deus é que sabe!

      – É!

      – Efsoef sef sif n nes fienfsfnsns eiofs fisenf sfe niosfaf em esno.

      Eu vou muito pela entonação de sua voz para manter o diálogo. Enquanto ele está afirmando tá bom, o problema é quando ele pergunta.

      – Esnoesn fs fenso faz ea fesf asfns fseie er nfeafai, não é?

      Ai meu deus.

      – Heim?!

      – Esnoesn fs fenso faz ea fesf asfns fseie?

      – Então, pois é. Eu também acho.

      – Acha o quê?

      – Como o quê? O que o senhor acabou de dizer?

      – Que qhw ensff ne fsf ff efmaisoe fjefslf vvnmev cvrejv efjcmnea. E fne cenf cfnwoac;mfm f fenaf fsa scmef. Fmcm fé vfmfaf efios, aí fica difícil.

      – Ah sim! Aí fica difícil mesmo.

      Não vou falar que a minha sorte é que a viagem será rápida, pois até agora nada do que eu esperei aconteceu. E pelo visto, isto também não vai ocorrer, o trânsito está intenso e a viajem promete ser longa.

      – Aseoen fesofs mesfm afm ias foese efjosiej f fesepfjs.

      – Heim?!

      – Aseoen fesofs mesfm. Seo fnmi f jsefj sefjs epowrl.

      – Heim?!

      – Efos fefsf fiejt efisj fefjosje.

      Já estou com dor de cabeça. Não agüento mais falar “heim”. O seu João é uma boa pessoa, não é do tipo de falar mal de ninguém, pelo menos que eu entenda, mas não tenho assunto para tratar com ele, me falta o que dizer e depois eu não entendo uma só palavra do que ele diz. Puta que pariu que angústia.

      – Espero fafe soj fsafj a fsof of fesnfeiwue.

      – Heim?!

      – E minha mãe acabou falecendo. (Esta parte eu também não entendi, mas estou deixando claro para vocês leitores, com a intenção de deixar o texto legível).

      Resolvi fazer um comentário para me mostrar mais atento e para falar menos “heim”.

      – Que felicidade, não?!

      – Como assim?

      – Como assim como?

      – Esjoe fnf sijf afsfse fsoff efsojfe sfejs fefj fesofe.

      Aí meu deus preciso de um tradutor. Tentei dar uma razão para minha cara de angústia, que deveria estar evidente, também para sair do repetido “heim”, e para ver se ele se toca e me dar um descanso.

      – Estou com uma dor de cabeça.

      – Esnfenmes feasfes efoiseu com a perna doendo.

      – Heim?