Outro dia, diante de um espelho, vi um cabelo branco, um dos grandes, bem na frente. Quase entrei em desespero. Eu ainda não tinha me deparado com nenhum destes sinais da natureza. Aliás, depois do cabelo branco, não param de saltar aos meus olhos os tais sinais da natureza. São tantos, que meu corpo até parece um mapa geográfico. Se procurar bem, capaz de encontrar até sinal em néon. Cheguei naquela situação em que estou muito velho para ser jovem e muito jovem para ser velho.

      Todos estes pensamentos e o cabelo lá, branco, branquinho, olhando para mim. “Vou arrancá-lo” pensei. Soltei o pente sobre a pia e mãos à obra. Virei daqui, dali e nada de pegar o cabelo. Agora que eu quero que ele apareça, o danado some. Mais um tempo procurando e finalmente consegui: estou com o fio da puta entre meus dedos. De repente, um pensamento se mete no meio de minhas atividades de eliminação: “E se eu arrancar e aparecerem outros? Será que eu extraindo o dito cujo não virão outros, mais rápido e em maior número?” Oh, dúvida cruel. Preciso me decidir logo.

      Enquanto penso, o cabelo se mantém entre os meus dedos e a posição incômoda me dá cãibra. Ao pensar na cãibra (que palavra mais horrível) me vem de supetão e mais forte a idéia de que já estou ficando velho. Mas como posso ficar velho com tanta mulher boa pelas ruas? Tremo em pensar que um dia a única coisa rígida que terei a oferecer será uma bengala.

      Removo ou não removo o cabelo? E se eu pintasse? Não, isto é o fundo do poço. Começar a pintar o cabelo é pior do que conviver com ele. Em vez das menininhas falarem “Olha lá aquele homem grisalho!”, dirão: Olha só o velho de cabelo pintado!” Que horror!

      Já sei: não vou arrancá-lo. Afinal, é só um cabelo branco. O que tem de mais nisto? Ainda sou um jovem, tenho muito chão pela frente. Não importam estes sinais; são coisas tolas. Nada que uma boa academia não resolva. Agora posso soltar o cabelo. Pronto soltei, coloco-o aqui por trás destes outros e fim de papo. Alguns cabelos brancos são até charmosos, vou fazer até sucesso, minha mulher vai gostar.

      – Amor!

      – Que foi meu velho!

      – Arrrrr!