Sete anos. No carro, banco de trás, devora a cidade com os olhos.

      – Pai!

      – Hm.

      – O que quer dizer contemporâneo?

      – Contemporâneo?

      – É.

      – Quer dizer alguma coisa ou alguém que vive no mesmo tempo que você.

      Pensa, pensa.

      – Entendeu? – pergunta o pai.

      – Hum, hum. Então o André é contemporâneo de mim.

      – Quem é André?

      – Meu namorado, né pai!

      Silêncio.

      – Pai?

      – Hhhmm!

      – Então?

      – Como assim, namorado?

      – Namorado, ué!

      – De bricandeira, né? De brincar junto, essas coisas…

      – É, de brincar junto, beijar…

      – Beijar!? Como beijar?!

      – Beijar, ué, que nem você e a mamãe.

      Pára o carro.

      – Na boca?

      – É.

      Vira-se pensativo. Dá partida no carro. Em frente ao Cemitário do Araçá, repensa a definição de contemporâneo.