Razões para desistir

“Aí vão, direto do Timor Leste, mais algumas razões para continuar a resistir, também no Brasil, ao avanço do inglês norte-americano- a língua dos capitais transnacionais, em todo o planeta. Esses capitais sonham com um planeta (e um mercado) monolíngue, que apenas ‘entenda’ ( o mínimo indispensável para copiar, consumir e obedecer) o inglês norte-americano.
Nesse muito complexo conjunto de relações históricas, sociais, econômicas e políticas, quanto pior os pobres falemos inglês e quanto melhor as finanças internacionais falem inglês, melhor para a ‘metropole’ e pior para as ‘colônias’, melhor para os globalizadores e pior para os globalizados, melhor para o capital e pior para o trabalho; melhor para eles e pior para nós.
O Presidente Xanana Gusmão (Timor Leste) sabe disso e , aqui, ensina:
‘Aos olhos de muitos, a nossa opção pela língua portuguesa pareceu irrealista, mas vamos preservar esse patrimônio’. O presidente de Timor-Leste, Xanana Gusmão, defendeu assim as enormíssimas dificuldades na adoção da língua de Camões numa ilha situada num arquipélago asiático. ‘Após 24 anos de domínio indonésio, que nos proibiu de falar português, foi extremamente dificil reintroduzir essa língua que faz parte da nossa identidade’, realçou ele no seminário. ‘A língua portuguesa na CPLP (Comunidade dos Países da Língua Portuguesa)’, organizado pelo Instituto Piaget.
Esta opção – expôs Xanana-, será pouco perceptível para quem lê a realidade do ponto de vista empresarial, diplomático e comercial. ‘Questionam por que a opção pela língua portuguesa quando temos, ao Sul, paises que falam a língua inglesa e, ao Norte, paises que falam malaio, quando inglês colocaria o jovem pais no contexto das parcerias com aqueles paises’, ilustrou, para logo depois esclarecer: ‘Essas pressões do consumismo não dizem absolutamente nada do afeto entre os povos, da amizade, da irmandade que a língua como veiculo de comunicação poder transmitir’. Laços e relações que de acordo com o presidente timorense, foram dificultados pelo processo de descolonização e pelos anos de domínio indonésio.
(…)
Fizemos agora um apelo para que continuem a cooperação com o Timor, porque podíamos correr o risco de que houvesse um ‘apagão’sobre o Timor e mais ninguém falasse de nós. è ainda preciso esperar que as estruturas timorenses fiquem estabelecidas e fortes, mas devo informar com fraqueza que o processo de erguer a nação não é fácil (…).”

Caia Fittipaldi
Lingüistas Brasileiros para a Democracia – São Paulo/ SP

EDIÇÃO 73, MAI/JUN/JUL, 2004, PÁGINAS 82