A civilização floresceu com o nascimento das cidades – espaços de troca, convívio e proteção contra as ameaças e incertezas da sorte. Nasceram do sonho e da necessidade do ser humano de se fixar e pertencer a algum lugar. Por isso temos essa relação existencial com a cidade onde nascemos. Somos fruto do chão onde desabrochamos para a vida, sua cultura e circunstâncias. Todo ser humano é filho do tempo e do lugar em que veio ao mundo. Mestre Machado de Assis tinha razão em afirmar: “Eu sou um pouco fruto da cidade onde nasci”.

Manaus – amor e memória é um livro composto com a matéria impalpável e luminosa do sonho. O poeta Thiago de Mello constrói com os fios do tempo uma tapeçaria de motivos humanos – com cores, formas e temas em que retrata as vivências, personagens e acontecimentos de uma cidade que pertence ao mundo de suas lembranças. Por isso, afirma que o tempo fica entranhado em nossa alma: “Pois eu digo que o tempo não passa. O tempo fica. Dentro da vida da gente o tempo fica. Fica morando na casa da memória…”.

As cidades são esfinges com segredos e mistérios a ser decifrados. No dizer do escritor Ítalo Calvino: “(…) são construídas por desejos e medos, ainda que o fio condutor de seu discurso seja secreto (…) e que todas as coisas escondam outra coisa”. Manaus, capital desse vasto território verde e líquido, mágico e fascinante, é uma cidade enigmática e acolhedora. Ao se debruçar sobre a época de sua infância e juventude, Thiago de Mello recupera do silêncio e do esquecimento os acontecimentos, as pessoas, os amigos e os referenciais de mundo que fundaram sua consciência e determinaram seu olhar. Manaus é o cenário de suas reminiscências juvenis. O cotidiano evanescente desse mundo arruinado pelo tempo é a matéria deste livro escrito com paixão e generosidade.