O jornalista se serve de uma dose de uísque e senta diante do micro para preparar sua matéria. Ela fora encomendada pelo Departamento de Estado que, por sua vez, havia recebido informações de seus agentes diretamente da embaixada. Ali, uma reunião regada a café e conhaque entre os líderes da oposição e o corpo diplomático teria aludido à conveniência de se plantar boatos que desmoralizassem o governo popular.

      Depois de apreciar o material coletado – fofocas de bastidores, uma foto do presidente da República bebendo chope numa festa do sul do país – o jornalista põe mais uma dose no copo curto. Tenta umas duas vezes começar o texto, mas não lhe agradam as aberturas. Na verdade, falta um mote.

      Quem sabe mais uns dois dedos de malte não desenroscam a coisa? Serve-se. Entorna e torna a encher o copo. Já alegrinho, pensa na esposa. Ri das trepadas regradas (hoje não é quinta, sweet hart) e dos cultos aos domingos. Lembra das crianças mal-aclimatadas num país estrangeiro, tropical, e da mãe, que lhe envia mensagens preocupada com seu consumo excessivo de álcool.

      “Bíngou!” – exclamou em seu portunhol de gringo. Achara o mote: “O país está preocupado com o excessivo consumo de álcool de seu presidente”. E despeja mais uma dose no copo. 

      Senta diante do micro, as letras se embaralhando no teclado, e, aos trancos, vai compondo a matéria. Cita presidentes de partidos, jornalistas e outras personalidades incógnitas. Alude a um temor difuso e conclui com algumas comparações e chistes.

      Terminou. Levanta-se meio cambaleante em demanda da garrafa. Ao virar o copo, lembra que, antes de enviar a coisa pela net, precisava dar uma lida antes. Ah, dane-se! Lá que revisem. Clicou enviar, terminou de esvaziar o litro e tombou no sofá.

      No dia seguinte, recebeu um telefonema de Nova Iorque. Era seu editor. Com a cabeça chuchando, foi invadido por um “hello” que ecoou até às vísceras.

      – Hi – respondeu numa voz sumida. 

      – Boa a matéria. Correta. Quer dizer, tirando uns erros sérios de ortografia e a troca de nome dos presidentes.

      – Como assim?

      – Na matéria toda, no lugar de Luiz, você escreveu George.

      Dois dias depois, recebia uma intimação do Ministério da Justiça para que deixasse o país. 

      Bingo.