– Você consegue encontrar o sujeito só pelo CPF?

      – Fácil, fácil. Quer saber o quê dele?

      – Tudo. Quem é, o que faz. Chegou aqui fazendo um monte de pergunta sobre o seu Jorge e tal. Quero saber qualé a dele.

      – Quer que dê um aperto nele?

      – Não, não precisa. Só quero saber o que ele quer com seu Jorge.

      – No aperto é ainda mais fácil do que investigar. Bota no camburão, dá um rolê com o cidadão (agora é assim: vagabundo agora virou cidadão), mete-lhe umas duas bulachas e ele já começa a piar miudinho.

      – Não. É melhor ir na moita. Minha preocupação é só com o velho.

      – E como ele tá?

      – Tá lá, dormindo. Dá dó. Um homem alegre; todo mundo gosta dele aqui. Não devia ter falado do sujeito pra ele.

      – Vai ver, uma coisa não tem a ver com a outra.

      – Não sei… não sei.

      – Bom, vou andando. Pro fim da semana, te dou notícia.

      – Valeu aí.

      – Qué isso. Precisando, é só dizer. Um abraço.

      – Vai com Deus.

      – Amém.

      Toninho fica ali na oficina, pensativo. Tenta se recordar da cara de Argemiro: gordo, atarracado, calvo… Mas as feições mesmo, em detalhes, não consegue definir. Pensa em seu Jorge. Lembra do pai. Os olhos marejam. Ri de si. A vida prega cada peça na gente…