As homenagens póstumas a ele prestadas por chefes de Estado, por representações diplomáticas de países de todos os continentes, as mensagens de condolências de forças políticas progressistas de todas as partes do mundo, a reação de grande pesar nos países árabes e a comoção do povo palestino diante de seu desaparecimento evidenciam a importância do seu legado.

Em 1974, num debate sobre a questão do Oriente Médio na Assembléia das Nações Unidas, ele pronunciou uma oração que bem sintetiza não apenas o que foi sua vida, mas o quem tem sido a saga de seu povo. "Trago um ramo de oliveira e a arma dos lutadores pela liberdade. Não deixem o ramo de oliveira cair de minhas mãos". A paz como bandeira, como aspiração e programa, e a resistência, como caminho único que restou para conquistá-la.

A resistência em prol da paz e da conquista do Estado Palestino, sob a liderança de Arafat, se deu de formas diversas. A luta armada: fuzis e pedras, guerrilheiros e meninos, a enfrentarem a poderosa máquina de guerra de Israel, montada e apoiada pelo imperialismo norte-americano; a ação diplomática intensa, flexível e hábil sempre em busca de aliados, capaz de angariar simpatia e apoio em toda parte e almejando, sempre, evitar o isolamento a que o inimigo sempre pretendeu jogar a causa palestina; a organização, conscientização e a mobilização do povo na Palestina ocupada ou em qualquer parte para onde o desterro o levou.

E para liderar esta resistência multifacética contra uma força tão poderosa, Iasser Arafat e seus companheiros, desde cedo, compreenderam que uma missão desse porte somente seria possível se fosse empreendida por uma organização que unificasse e liderasse todas as forças políticas palestinas.

Com esse objetivo, em 1964 foi criada a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) que, desde então, assumiu o comando do conjunto da luta. Arafat já em 1958 era um dos fundadores da Al Fatah, uma forte organização guerrilheira e, em 1969, passa a ser o líder mais destacado da OLP.
Ao lado da heróica resistência armada empreendida pela OLP contra o massacre de seu povo, Arafat foi um sincero defensor da paz tanto para seus compatriotas quanto para seus contendores. Tanto isso é verdade que, em 1994, Arafat dividiu o Prêmio Nobel da Paz com o então primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, pelos acordos de Oslo, de 1993.

O governo de Israel, chefiado pelo criminoso de guerra Ariel Sharon, desde dezembro de 2001, confinou Arafat em seu quartel-general, em Ramallah, conhecido como Muqata. Esta circunstância – praticamente prisioneiro em seu escritório de trabalho nos últimos três anos –, com certeza, agravou seu estado de saúde, que havia se debilitado nos últimos meses.

Este final de sua vida, acossado – na prática – prisioneiro, retrata a feroz caçada de que foi vítima ao longo de sua atuação. Mil vezes os serviços da polícia secreta de Israel, dos Estados Unidos, maquinaram sua eliminação.

Dessa maneira, pode-se dizer que Arafat, ao escapar das mil mortes tramadas, teve muitas vidas; e todas elas ele dedicou à causa da paz, da autodeterminação dos povos e do direito de seu povo de retomar a terra usurpada e de constituir um Estado livre e soberano.
Morreu o líder, permanece a causa. Honrar sua memória é dar continuidade à luta pelo seu triunfo.

Adalberto Monteiro é editor de Princípios e diretor do Instituto Maurício Grabois.

EDIÇÃO 76, DEZ/JAN, 2004-2005, PÁGINAS 71