Derrotar essa corrente era uma condição indispensável para a construção de partidos comunistas com influência de massa, capazes de se constituírem efetivamente em vanguardas dos processos revolucionários e de articularem os princípios gerais do marxismo e uma prática política ampla e flexível. Neste sentido, ele cumpriu plenamente o seu objetivo. Como escreveu Renato Rabelo, no importante ensaio de apresentação, O esquerdismo, trata-se de uma “enciclopédia da tática e da estratégia revolucionária do proletariado”. É o resultado da rica sistematização da experiência bolchevique nos primeiros anos do século XX.

Lênin aborda o significado internacional da Revolução Russa e apresenta as condições do seu êxito, as etapas da história do bolchevismo, o quadro das correntes que teve de enfrentar para poder se colocar na condição de vanguarda revolucionária. Defende a necessidade de se atuar nos sindicatos reacionários (nos quais se encontravam as massas atrasadas) e nos parlamentos burgueses. Advoga, com energia, a necessidade de se estabelecer acordos e compromissos na luta política.

Ao contrário do que imaginam os esquerdistas, afirma Lênin, “a história do bolchevismo (…) está cheia de casos de manobras, de acordos e compromissos com outros partidos, inclusive os partidos burgueses” e conclui: “não se deve renunciar de antemão a qualquer manobra, explorar os antagonismos de interesses (…) que dividem nossos inimigos, renunciar a acordos e compromissos com possíveis aliados (ainda que provisórios, inconsistentes, vacilantes, condicionais)”.

Nesta obra nos apresenta os princípios gerais para a construção de uma tática verdadeiramente revolucionária. Ela, por outro lado, não pontifica modelos a serem aplicados uniformemente a toda e qualquer realidade. Afirma o autor: “Enquanto subsistirem diferenças nacionais e estatais entre os povos e os países (…) a unidade da tática internacional do movimento operário comunista de todos os países exigirá, não a supressão da variedade, não a supressão das particularidades nacionais (…), mas sim uma tal aplicação dos princípios fundamentais do comunismo (…) que modifique acertadamente esses princípios em seus detalhes, que os adapte, que os aplique acertadamente às particularidades nacionais e nacional-estatais”.

Lênin defende que os comunistas devem estar preparados para utilizar todas as formas de lutas. Afirma ele: “Os revolucionários inexperientes imaginam freqüentemente que os meios legais de luta são oportunistas (…) e que os processos ilegais são revolucionários. Mas isso não é justo (…) os revolucionários que não sabem combinar as formas ilegais de luta com todas as formas legais são péssimos revolucionários”. Estas foram lições aprendidas através do complexo processo da revolução russa, sistematizada pelos bolcheviques. Por tudo isso, a obra de Lênin deve ser lida e estudada por todos aqueles que desejam derrotar o capitalismo e construir um país e um mundo socialista.
Esquerdismo, Doença Infantil do Comunismo, Vladimir Lênin, Editora Anita Garibaldi, São Paulo, 2004

EDIÇÃO 76, DEZ/JAN, 2004-2005, PÁGINAS 81