A avaliação dos dois primeiros anos do governo Lula e de suas perspectivas suscitam acesas controvérsias. Nesse tiroteio de idéias, eivado de interesses políticos, não há neutralidade.
Dessa maneira, o primeiro parâmetro a ser sublinhado é o fato de o governo do presidente Lula ter inaugurado um ciclo político inédito na história brasileira. Houve uma ruptura – ainda que envolta numa série de contingenciamentos. Forças políticas novas e avançadas colocaram-se à frente de uma ampla aliança democrática e patriótica e venceram. Assumiram o governo da República.

Transcorrida metade de seu mandato, o governo Lula – em que pese insuficiências, contradições, equívocos e condicionantes negativos do quadro interno e externo – mudou o Brasil para melhor em muitos aspectos.

É, pois, um embuste o veredicto da oposição conservadora que alardeia o atual governo como uma continuidade piorada dos governos neoliberais de FHC. É, ao mesmo tempo, um equívoco voluntarista a sentença de correntes pseudo-radicais que atestam não ter havido mudança nenhuma.

O jovem governo, em apenas dois anos, soube superar, como disse o próprio presidente da República, os estragos do Tsunami que representou a era FHC. O país desacreditado e à beira da insolvência, levantou-se do chão.

A democracia – mutilada pelo autoritarismo dos tucanos – passou, novamente, a reger a vida nacional. Os movimentos sociais, com sua autonomia respeitada, progressivamente, robustecem suas lutas. Foram alçados ao status de prioridade programas sociais que objetivam minimizar a tragédia da miséria e da fome que aniquila dia a dia milhões de compatriotas.

Mas, talvez, até aqui, o feito mais relevante do governo tenha sido a implementação de uma política externa, diplomática e comercial, marcada pela altivez e pelo resgate da soberania e por estar a serviço do desenvolvimento do país.

Contudo, ao lado desse legado positivo o jovem governo, a partir do Ministério da Fazenda e do Banco Central, submete a dinâmica da economia nacional aos ditames de uma política macroeconômica conservadora e monetarista, de cunho neoliberal. O Brasil, hoje, para o aplauso dos especuladores, ostenta o primeiro lugar em juros altos. Os superávits fiscais elevados reduzem a capacidade de investimento do Estado e transferem grande parte do Orçamento da União para o pagamento da dívida. A política cambial freia as exportações.

Embora o Produto Interno Produto (PIB) tenha crescido 5,1% em 2004, houve, entre setores importantes da sociedade e do próprio governo, mais críticas do que comemorações. Há a convicção de que o Brasil poderia ter crescido em nível maior, caso a expansão econômica não tivesse sido travada pela política macroeconômica conservadora.

Este balanço que encerra conteúdos de avanços democráticos, conquistas sociais e patrióticas em confronto com amarras neoliberais que impedem o país de adentrar a um ciclo de desenvolvimento com patamares consoantes às necessidades e possibilidades de um país do porte do Brasil, indica que a luta entre a mudança e o continuísmo segue a reger a trajetória do governo Lula.

Princípios segue engajada na luta de idéias, no esforço de elaboração teórica que contribua para a vitória da mudança e para que se descortinem as bases e o caminho do governo Lula de implementar um projeto nacional-desenvolvimentista, assentado na democracia e na soberania, e que a riqueza dele proveniente seja canalizada para a distribuição de renda e a melhoria da vida do povo.

Comissão Editorial

EDIÇÃO 77, FEV/MAR, 2005, PÁGINAS 3