Em 1928 os comunistas criaram o Bloco Operário e Camponês. Este, na verdade, sinalizava para o objetivo estratégico de construção de uma aliança entre operários e camponeses. Pouco tempo depois o Bloco foi desfeito sem que pudesse cumprir sua missão. Por longos anos a “unidade operária e camponesa” não passou de um projeto de difícil realização.

Apenas no início da década de 1950 essa situação começou a ser alterada com a fundação da União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil (Ultab). Nesse processo coube ao Partido Comunista um papel de extrema importância. No entanto, só muito recentemente essa atuação começou a receber um tratamento adequado. Mesmo assim este é um assunto pouco estudado.

O livro O Camponês e a história – A construção da ULTAB e a fundação da CONTAG nas memórias de Lyndolpho Silva, organizado por Paulo Ribeiro da Cunha, nos ajuda a ir preenchendo as lacunas existentes na história das lutas camponesas. O biografado foi um dos principais dirigentes sindicais comunistas no campo nas décadas de 1950 e 1960. Iniciou sua ação entre os posseiros no Rio de Janeiro e em 1953 participou como delegado na I Conferência Nacional de Camponeses. No final desse mesmo ano foi delegado à Conferência Internacional dos Sindicatos de Trabalhadores na Agricultura, realizada em Viena.

No ano seguinte foi fundada a Ultab e ele foi eleito um de seus dirigentes, passando a colaborar com o jornal comunista Terra Livre. Apesar de existir o direito de sindicalização rural, até o início da década de 1950 apenas seis sindicatos conseguiram ser reconhecidos. À repressão dos latifundiários se somavam os entraves burocráticos impostos pelo governo. A nova entidade ajudou a dinamizar o processo de formação de entidades de trabalhadores no campo.

No entanto, após o XX Congresso do PCUS, ocorrido em 1956, abriu-se uma grave crise no interior do PCB. A Ultab ficou praticamente paralisada até 1959, quando ele foi indicado para sua presidência. Imediatamente foi convocado o I Congresso de Trabalhadores Agrícolas que se realizou em Belo Horizonte. No final de 1963 esteve à frente do congresso de fundação da CONTAG para a qual foi eleito presidente.

Quando do grande cisma do movimento comunista brasileiro ocorrido em 1962, ficou com a maioria comandada por Prestes e optou pelo Partido Comunista Brasileiro. Uma minoria expressiva de revolucionários, liderada por João Amazonas e Maurício Grabois, reorganizou o Partido Comunista do Brasil – agora com a sigla PCdoB.

Depois do golpe militar de 1964, o governo interviu na Contag e Lyndolpho foi obrigado a entrar na clandestinidade. Teve seus direitos políticos cassados e foi condenado a mais de 10 anos de prisão. Mudou-se para São Paulo e passou a compor a direção clandestina do PC brasileiro na capital. Quando houve o racha no PCB, capitaneado por Carlos Marighela, então secretário político da organização no estado, novamente ficou com o grupo de Prestes.
Com o recrudescimento da repressão contra a direção do PCB foi obrigado a abandonar o país e se refugiou na Tchecoslováquia.

Embora tivesse sido presidente de entidades camponesas importantes, continuou sendo por longos anos um quadro partidário intermediário. Apenas no exílio ele passou a fazer parte da direção nacional do PCB. Foi nesta condição que regressou ao país em 1979. No confronto entre Prestes e a maioria da direção partidária, novamente ficou com a última. A sua posição em relação à unidade do partido refletia as virtudes e os limites desse importante ativista comunista. Ele possuía uma visão esquemática e doutrinária do centralismo-democrático. Isto o conduziu, já no fim da vida, a aceitar a liquidação do PCB e a sua transformação em PPS.

EDIÇÃO 77, FEV/MAR, 2005, PÁGINAS 81