Aos cinco anos de idade o Fórum começa a enfrentar uma certa crise de identidade. O perigo de se transformar em mais um evento está sempre a espreita. Por isso a preocupação, ressaltada por ONG’s do Comitê Organizador, com a forma e a metodologia de realização das atividades durante o encontro, ganhou centralidade no processo preparatório do evento. Já os movimentos sociais e alguns intelectuais de destaque, que participam ativamente desde a primeira edição do Fórum, temem a decadência do encontro por não apresentar propostas concretas e uníssonas de como construir o outro mundo possível. A contradição forma x conteúdo esteve presente no decorrer de todo o Fórum.

O futuro do processo do FSM parece reforçar a dispersão, a preocupação excessiva com a descentralização, com a horizontalidade, com o encontro enquanto laboratório de vivências. No ano de 2006 já não haverá um único evento, conforme decisão do Conselho Internacional dos dias 24 e 25 de janeiro. Cada continente abrigará um encontro, que será parte do Fórum Social Mundial 2006. Nas Américas já se aprovou a Venezuela como país sede desse FSM descentralizado.

A vitória dos que defendem mais consistência e finalidade para o Fórum Social Mundial se expressou na carta final da Assembléia Mundial dos Movimentos Sociais e no “Manifesto de Porto Alegre – 12 pontos para um outro mundo possível”, neles lançada, que ecoaram através da imprensa como resolução do FSM 2005.

No apagar das luzes deste 5º Fórum Social Mundial ficam as boas lembranças da gigantesca marcha de abertura, das conferências de Saramago, Galeano, Gil, Chávez e Lula, do grande encontro do Conselho Mundial pela Paz – organizado pelo Cebrapaz, o lançamento do 16º Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes, o clima festivo, solidário e combativo.

Ficam as preocupações: a luz vermelha acesa para o excesso de preciosismo com a forma em detrimento do conteúdo do Fórum; a precoce oposição ao Fórum Américas na Venezuela; a falta de participação popular massiva tal como no FSM da Índia; a dispersão generalizada das bandeiras de luta no meio de milhares de atividades autogestionadas.

As organizações que conduzem o Fórum Social Mundial têm um tesouro nas mãos: a capacidade de fazer contato com movimentos sociais de todo o mundo em fração de segundos, de pautar campanhas, de organizar eventos, de propor lutas.

É preciso, no entanto, menos deslumbramento e mais responsabilidade na condução do movimento social mundial. E para os fóruns deixarem de ser eventos rotineiros a cada ano virado é preciso dar lhes mais significado do que simbologia, mais consistência do que forma, mais atitude do que contmplação.

É possível fazê-lo sem uniformizar, amputar, estreitar, verticalizar etc. Basta apontá-lo para o alvo inegável: o combate ao imperialismo que se renova com a instalação da segunda fase da era Bush.

Ana Maria Prestes Rabelo é mestranda em ciências sociais pela UFMG e diretora de Solidariedade Internacional da UJS.

EDIÇÃO 77, FEV/MAR, 2005, PÁGINAS 52