– O que ela ama em mim: o homem ou o amor que ele lhe oferta?

      – Como é?

      – Sou apenas o portador do afeto e do carinho que ela mesma depositou em mim ou tenho atributos próprios que a façam me querer acima de todos os outros?

      – Cê tá falando do quê, Fausto? 

      – Da mulher.

      – Da Lídia?

      – Não só da Lídia: de todas a mulheres. Elas amam a si mesmas nos homens que escolhem para venerá-las ou amam os homens em si?

      – Vocês brigaram? 

      – E nós, reles machos da espécie?…

      – O que é que tem?

      – Nós as amamos pelo que elas são, porque não detemos belezas capazes de se refletirem em cada olhar terno que elas nos dispensam, ou amamos esse estado de contemplação a que fomos condicionados? Será por essa razão que somos esses rudes em que nos tornamos: feitos para amar, não para ser amados?

      – Para ser ou para sermos? 

      – Como é?

      – "Feitos para amar, não para ser amados", ou "feitos para amar, não para sermos amados"?

      – O que isso tem a ver com o que eu tô falando, Bira?

      – Sei lá. Vai ver, é uma questão de hermenêutica. 

      Silêncio sonoro

      – Hermenêutica, Bira?…

      – …!

      – Garçon, a conta.