No teu feriado ainda encontraste
Um rio limpo e lá tua menina
Esbaldou-se de alegria,
Por ter aprendido a nadar.

Tempo para cuidar de si,
Ir à velha cidade, patrimônio da humanidade,
Jogar sinuca com um amigo que mora distante.
Conversar sobre a infância, sobre a vila,
Sobre a nossa cidade,
Nosso país, nosso continente, nosso planeta.
Redescobrir o poder que há em nós, os despossuídos.
Sambar, ler, dormir, amar, trepar e, também, trepar
Numa velha goiabeira.

Entretanto, é quarta-feira.
Teu feriado agora é cinzas.
O calendário te ordena despir a fantasia de rei.
Ordena-te bater continência ao quartel da fábrica,
À cela do escritório, ao frenesi da redação.
Tu vais, não te condeno.
Tens aluguel vencido e filhos para criar.
Tantas e outras tarefas e responsabilidades
Inadiáveis e de magna importância.

Se não estiveres no topo da lista
Da competência, do talento e, sobretudo,
Da produtividade, cairás em desgraça.

Não te condeno, mas te convoco
A uma guerra necessária:
Vestir de vermelho mais e mais números
No calendário.

As Delícias do Amargo & Uma Homenagem poemas – Adalberto Monteiro
Editora Anita Garibaldi, 2006

Adalberto Monteiro, Jornalista e poeta. É da direção nacional do PCdoB. Presidente da Fundação Maurício Grabois. Editor da Revista Princípios. Publicou três livros de poemas: Os Sonhos e os Séculos(1991); Os Verbos do Amor &outros versos(1997) e As delícias do amargo & uma homenagem(2007).