A bula de remédio está sobre a mesa. No canto da sala de jantar, o bufê suporta um retrato. O fim da tarde filtra-se pelo janelão e apaga, aos poucos, os móveis e objetos.

      No limiar da porta do corredor que leva aos quartos, um braço de mulher.

      Morte? desmaio? Daqui, só se vê a pele clara, a carne roliça, a mão pequena, de dedos relaxados e quase dobrados sobre a palma voltada para cima.

      Não há como saber a quem pertence – se a uma jovem, ou a uma mulher madura; se ela está vestida ou nua; se é feia ou bonita. Muito menos que alegrias ou frustrações povoam, ou povoaram, sua vida. Sequer é possível prever se chegará alguém: não há como conhecer se vive só, se é casada, ou separada com filhos. Dois ambientes de uma morada não são pistas suficientes para conclusões destas. 

      Chegou a noite, enfim. Nenhuma porta abriu. Nenhuma luz se acendeu.

      O braço continuará lá, até que ela acorde, ou apodreça.