Calco a terra sob os pés descalços. Pedrinhas miúdas ferem a sola e lembram em mim a dor de estar. O lago bate manso nas margens, quase imóvel. Espelha a cidade, mas não a vemos: ainda é dia, claro, de uma luz absurda.

      Minha filha me pergunta do mundo. Falamos de cascas de árvores, de sol na pele descoberta, do itinerário das formigas e da solidão do pássaro em vôo. Comentamos sobre meninas e meninos, amigos e rusgas entre amigos. Logo ali, a tarde morre, lenta, quase parada.

      "Um dia, ela vai estar grande" – pensei. "Quantas perguntas ainda lhe restarão? E quanto estar ainda me resta?"