Álvaro Cunhal nasceu em 10 de Novembro de 1913, na freguesia de Sé Nova, em Coimbra, filho de pai advogado e mãe doméstica.

Em 1931, com 17 anos de idade, quando adere ao Partido Comunista Português estudava então na Faculdade de Direito de Lisboa. As suas primeiras tarefas partidárias foram ligadas à Liga dos Amigos da URSS, ao Socorro Vermelho Internacional e aos Grupos de Defesa Acadêmica. Em 1934, é eleito pelos estudantes de Lisboa seu representante no Senado Universitário.

Nesse mesmo ano, o Partido deu-lhe a tarefa de dirigir a reorganização da Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas (FJCP) em Lisboa e na Margem Sul do Tejo. No ano seguinte, foi eleito secretário-geral das Juventudes Comunistas e participou no IV Congresso da Internacional Juvenil Comunista, que se realizou em Moscou. Começava então sua vida clandestina. Na Primavera de 1936, é chamado ao Comitê Central do Partido.

Enviado em missão à Espanha, estava em Madri nos primeiros meses da Guerra Civil, após o levantamento fascista contra a República Espanhola. Entrado clandestinamente em Portugal no Verão de 1937, foi preso pela então PVDE. Torturado, não falou, deixando a salvo dos carcereiros fascistas os segredos do seu Partido. Libertado um ano depois, volta imediatamente à luta revolucionária, voltando a ser preso em 1940 e passando mais um ano encarcerado.

Uma vez fora da prisão, participou ativamente na reorganização do Partido do início dos anos 1940. Novamente na clandestinidade, foi enviado ao Norte do País para aí desenvolver a organização partidária. No Outono de 1942, foi chamado ao Secretariado do Comitê Central, do qual fez parte até 1949, quando foi mais uma vez preso.

PCP, um grande Partido nacional

Nesses anos, teve um papel ativo em todo o trabalho de direção do Partido: nas medidas de defesa, na formação de um forte núcleo de revolucionários profissionais, na criação do aparelho técnico, no desenvolvimento da organização, na preparação e desenvolvimento de lutas operárias – designadamente das grandes greves de 1943, 1944 e 1947 –, na criação do movimento de unidade nacional antifascista, na redação da imprensa do Partido e no restabelecimento das relações com o movimento comunista internacional, interrompidas em 1939.

Em nome do Secretariado do Comitê Central elaborou os relatórios políticos ao III Congresso do Partido, realizado em Novembro de 1943, bem como ao IV Congresso, no Verão de 1946.
Preso em Março de 1949, e mantido incomunicável durante 14 meses, recusou-se novamente a responder a qualquer pergunta da PIDE. Levado a “tribunal” nos dias 3 e 10 de Maio de 1950, fez um ataque à política do governo fascista e a defesa da orientação e do Partido. O acusado virava acusador e sentavam-se o fascismo e seus sustentáculos no banco dos réus. Condenado, permaneceu preso por 11 anos seguidos; oito dos quais em completo isolamento.

Os dias de cárcere terminariam a 3 de Janeiro de 1960, quando, juntamente com outros destacados militantes comunistas, se evadiu da Fortaleza de Peniche. Na reunião do Comitê Central após a fuga, foi novamente chamado ao Secretariado.

Novamente clandestino no interior do País, participou no trabalho de desenvolvimento do Partido. Na reunião do Comitê Central de Março de 1961, foi eleito secretário-geral do Partido – cargo que não tinha sido preenchido desde 1942, data da morte de Bento Gonçalves no Campo de Concentração do Tarrafal.

No VI Congresso do Partido, realizado em 1965, fez o relatório político do Comitê Central e deu ativa contribuição para a elaboração de documentos fundamentais, nomeadamente o programa do Partido. Participou de inúmeras delegações do PCP a países socialistas, em encontros internacionais com partidos-irmãos, bem como de inúmeras conferências.

A liberdade

Derrubado o fascismo, a 25 de Abril de 1974, regressa a Portugal cinco dias depois. Um banho de multidão esperava-o no aeroporto. Foi Ministro sem Pasta dos 1º, 2º, 3º e 4º governos provisórios e eleito deputado à Assembléia Constituinte em 1975 e à Assembléia da República em 1976, 1979, 1980, 1983, 1985, 1987. Foi membro do Conselho de Estado.

No XIV Congresso do PCP – realizado em 1992 – deixou o lugar de secretário-geral do PCP e foi eleito pelo Comitê Central Presidente do Conselho Nacional do Partido. No Congresso seguinte, em 2000, extinto o Conselho Nacional do PCP e o cargo de Presidente, foi reeleito membro do Comitê Central, o que sucedeu também nos XVI e XVII congressos, respectivamente em 2000 e 2004. Álvaro Cunhal deixaria ainda uma vasta obra publicada – quer no plano político e ideológico quer no plano literário – com o pseudônimo de “Manuel Tiago” – quer ainda no plano das artes plásticas.
Artigo publicado no jornal Avante!, nº 1646, de 17/6/2005.

EDIÇÃO 80, AGO/SET, 2005, PÁGINAS 65, 66