No dia 3 de junho chegaram à Venezuela os primeiros 33 fuzis AK-103 russos e, no dia 21, 3 novos Mi-17-2 com a função de salvamento e resgate.

Em relação ao infame embargo sobre vendas de armas, decretado pelo governo Bush contra a Venezuela com o objetivo de desacreditá-la perante a opinião pública internacional, é preciso fazer uma leitura correta – especialmente entre as pessoas encarregadas de fazer políticas públicas no nosso país. É importante fazer divulgar que essa foi uma ação meramente declarativa porque na verdade já havia sido efetuada há dois anos.

Pela concepção autárquica de segurança, a autonomia e a sustentabilidade devem chegar às sociedades mediante recursos próprios para que assim se obtenha ascensão humana. No caso da Venezuela e de sua política de Segurança Integral da Nação, deveria ser assumido este raciocínio lógico.

O nosso governo deve continuar a levar adiante, como tem feito até agora, o desenvolvimento da indústria militar da Venezuela com a implementação de políticas de Estado e de ações concretas que a estimule a tornar-se mais independente em relação aos outros países para alcançar nossos objetivos estratégicos de segurança e defesa.

O apoio dado pelo governo nacional à Companhia Anônima de Indústrias Militares (Cavim) tornou evidentes em pouco tempo avanços tecnológicos impressionantes, como o surgimento da Pistola Grande Potência, conhecida como “Zamorana”, do revólver RRR ou 3R, das submetralhadoras Orinoco e Soberana, da danosa granada “Maisanta”, da fabricação de explosivos “ressonantes” para uso militar e na exploração de petróleo. Contudo, nossos militares estão fazendo reparos e alterações nos sistemas eletrônicos dos aviões Fúria; alterações mais profundas em nossas fragatas no estaleiro de
Dianca e em outros; produziram o eficiente veículo multifuncional “Tiuna” que já faz parte de nossa provisão. E ainda produzem computadores PC e Laptops e tantos outros projetos que conduzem a um despertar de nossas potencialidades e capacidades.

A configuração de uma nova ramificação de relações e alianças políticas, sociais, industriais e comerciais com países amigos – deste e de outros hemisférios, alinhados a nosso ideário de respeito, liberdade e justiça social – nos ajudaria a agregar talento à determinação visando à emancipação tecnológica e à participação. Por exemplo, com alianças estratégicas e de unidade de tecnologias locais do Mercosul (sobretudo, Brasil e Argentina que têm as tecnologias militares mais avançadas da América do Sul), em associação com Federação Russa, China, Índia e Venezuela, poderíamos tornar realidade o crescimento local e regional e obter respeito – e dissuadir as potências agressoras – autonomia e a batalhada auto-sustentabilidade que predeterminará a Multipolaridade.

Imaginemos o que outras nações sul-americanas poderiam também fazer nas diferentes áreas da indústria militar, da aeronáutica, naval e do exército. Poderíamos nos ajudar mutuamente, nos solidarizar com os que podem menos e nos completar um aos outros. Isso significaria uma verdadeira revolução de liberdade econômica, social, política, militar e desenvolvimento humano nas sociedades da nossa região. Em relação às alianças com as nações-irmãs de outros hemisférios nos transformaríamos num verdadeiro Bloco Regional de Poder forte e coeso e poderíamos competir com outros blocos de poder que sempre nos viram como subdesenvolvidos, dependentes e fracos.

Chegaram em Carabobo, no porto de Puerto Cabello, os primeiros 33 mil fuzis russos AK-103. É preciso esclarecer dois aspectos bem importantes. Primeiro, todos, e cada um deles, serão numerados e neles serão impressos o escudo de armas do nosso país e a inscrição “Forças Armadas da Venezuela” para dificultar que sejam transferidos indevidamente para outros países. Segundo, o novo armamento venezuelano possui um sistema de mira de precisão e de visão noturna, com uma baioneta e um lança-granadas anexos. Vale dizer que por si só o AK-103 é um sistema de armas. E ainda junto com os fuzis vêm milhões de munições e repositórios. Pelo contrato, está prevista a instalação de uma fábrica deles na Venezuela a partir do número 101 mil com a correspondente transferência de tecnologia e de aglomerados locais.

Desse modo, há previsão de aquisição de esquadrões dos polivalentes e versáteis Caça-bombardeiros Sukhoi-30 também russos. A isso não se pode entender como carreira armamentista, porque apenas estamos adquirindo alguns equipamentos de defesa tática e estratégica para nosso país. E também porque estamos reagindo contra uma agressão continuada e a violação de contrato por parte dos Estados Unidos, cuja administração de modo unilateral deixou de nos enviar repositórios para nossos F-16.

O grande desafio dos povos sul-americanos e de seus governos nacionalistas é encontrar vias de aproximação mais diretas em relação a esses acordos, que conduzam à auto-sustentabilidade defensiva local e regional para nos configurar num verdadeiro bloco regional de poder.
_____________
Héctor Herrera Jiménez é tenente-coronel, editor-diretor da revista Âmbito Cívico-militar e presidente da Frente Cívico-militar Bolivariana da Venezuela. Tradução por Maria Lucilia Ruy.

EDIÇÃO 86, AGO/SET, 2006, PÁGINAS 64, 65