Sei agora porque a vida criou a palavra alívio.
Quando saístes porta a fora,
percebi que a felicidade às vezes se manifesta
assim, miúda e mesquinha.

Ah, estrela encantada da minha infância perdida,
me proteja, careço de cor, brilho e luz!!!!!!!!!!!

Quantas horas, quantos dias, quantos anos…
Melhor se eu comprasse uma passagem
para uma minúscula cidade.
Me hospedasse numa pensão,
tomasse cerveja no balcão
de um empório.
Cheiro de rapadura e querosene,
escarros no assoalho imundo e
o colorido dos cortes de tecido.
Gente entrando e saindo,
gente que nunca voltarei a ver.
Fazer–me de funcionário do Governo,
de recenseador.
Sair de casa em casa
entrevistando
sobre isto e aquilo,
depois ir cada vez
mais dentro do interior,
cada vez mais distante
de você
e de mim.

 

Verbos do Amor & Outros Verbos – Adalberto Monteiro
Goiânia – 1997

Adalberto Monteiro, Jornalista e poeta. É da direção nacional do PCdoB. Presidente da Fundação Maurício Grabois. Editor da Revista Princípios. Publicou três livros de poemas: Os Sonhos e os Séculos(1991); Os Verbos do Amor &outros versos(1997) e As delícias do amargo & uma homenagem(2007).