Durante todo este tempo,
ou envolto em amor,
ou envolto em dor.
Houve vez
que chagas terríveis
golpearam a alma
e houve vez
que alegria intensa
incendiou a vida.
Nunca, entretanto,
deixei de te venerar
nem quando meu coração
galopava terno na planície,
nem quando a desgraça
visitava minha vida.
Nunca, entretanto,
nem sequer um dia,
– qual mulçumano adora Meca –
meu coração deixou
de arder por ti.

Ah! velha lenda
do amor do sol pela lua!
Ah! velha teimosia
do homem a braçadas
a enfrentar o mar.
Ah! velhas lágrimas
de quem se recorda da aldeia onde nasceu,
todavia desterrado para sempre dela!

Ah! impossível colo bondoso
distante de avô!
Não queres mais me ouvir
e jamais minha voz
se voltará contra um desejo teu.
Não queres mais me ver
e jamais minha vida
irá ferir teus olhos.

Mas saiba,
esteja você
feliz
ou triste
saiba
que num canto perdido deste mundo
numa hora determinada do dia
– mulçumanamente –
alguém, de tanto carinho,
dobrará os joelhos
e os olhos se voltarão
a uma cidade de nome você.

 

Verbos do Amor & Outros Verbos – Adalberto Monteiro
Goiânia – 1997

Adalberto Monteiro, Jornalista e poeta. É da direção nacional do PCdoB. Presidente da Fundação Maurício Grabois. Editor da Revista Princípios. Publicou três livros de poemas: Os Sonhos e os Séculos(1991); Os Verbos do Amor &outros versos(1997) e As delícias do amargo & uma homenagem(2007).