Audácia. O Brasil precisa de audácia. O governo Lula precisa de audácia. Os movimentos populares, sindicais, estudantis e todos os demais devem pôr a audácia na ordem-do-dia. Este é um momento, uma oportunidade, uma chance de disputar com arrojo um rumo de desenvolvimento acelerado com valorização do trabalho.

O PCdoB faz este chamado às vésperas de completar, no próximo dia 25 de março, 85 anos, quase um século de lutas, sempre honrando sua bandeira. Ele brota da análise realista da situação concreta do mundo, da América Latina e do Brasil, que favorece o avanço.

O povo brasileiro elegeu e reelegeu Lula. Derrotamos o bloco conservador oposicionista-midiático-oligárquico. Reduzimos à defensiva a agenda dos juros de agiota, da privataria e dos “fundamentos” neoliberais, as “reformas” antitrabalhistas e as mutilações da liberdade. Pusemos na ordem-do-dia a agenda da aceleração do crescimento, da distribuição da renda, dos direitos sociais e democráticos. Abrimos um novo ciclo no país.

Uma ventania político-social areja e renova a América Latina. Os povos mostram uma nova consciência nas urnas e nas ruas. Sepultam velhos esquemas de domínio, buscam os caminhos da libertação. Nosso sofrido continente hoje surge para muitos como um exemplo. Afirma-se. Une-se. Hasteia as bandeiras da independência, da integração, do socialismo.

O domínio do império norte-americano sobre o mundo já não é o de dez ou vinte anos atrás. Dá sinais de fadiga. Atolou nas guerras injustas do Iraque e do Afeganistão, onde não logra seguir adiante nem recuar em boa ordem. Isolou-se. George W. Bush tornou-se o homem mais rejeitado do planeta. Aonde vai, atrai atos de protesto e desprezo.

É este cenário que reclama audácia. É hora de ousar, atrever-se, impulsionar as mudanças, realizar o programa que o Brasil elegeu em 2006. A imprescindível união das forças transformadoras tem de ter este alvo e este ritmo. Necessita também trazer para a ação política as grandes massas do povo como força-motriz. Porque isso é indispensável para enfrentar a poderosa resistência do imperialismo e das forças conservadoras neoliberais.

O PCdoB quer ser um protagonista desta saudável ousadia para abrir caminho a um desenvolvimento democrático e soberano do país. Não o único, por certo, mas indispensável, que se inspira nos muitos gestos de audácia da sua larga trajetória.

O PCdoB chega a esta data com uma aguda noção do seu papel histórico, ontem, hoje e amanhã. Só o fato de atingir 85 anos (e que anos!) é um feito inédito em um país de partidos na sua maioria frágeis e conjunturais.

Desde a sua fundação em 1922, o Partido Comunista do Brasil tem servido de termômetro da democracia. Foi sempre o mais perseguido nos golpes, nas ditaduras e nas semidemocracias conservadoras. E floresceu nos clarões democráticos da vida nacional.

Agora, no rastro de tantos heróis e mártires, pela primeira vez toda uma geração de comunistas se forja no usufruto da legalidade. O Supremo Tribunal Federal vem de declarar inconstitucional a cláusula de barreira, embora sempre haja direitistas empenhados em ressuscitá-la. O PCdoB atua no Parlamento, participa do governo Lula, de administrações estaduais e municipais. Tudo isto é sintoma de saúde da jovem democracia brasileira.

Nas eleições do ano passado o PCdoB elegeu 13 deputados federais e, depois de 60 anos, um senador, sendo o quinto partido (7,5%) mais votado na eleição para o Senado. Ainda é, pois, eleitoralmente pequeno. Mas ele não é dessas siglas cuja vida se resume às eleições. Tem presença nas lutas do povo, nas batalhas dos movimentos sociais. Possui uma revista teórica com mais de 25 anos, um jornal com 83 anos, um portal na internet que se tornou referência da esquerda, uma escola nacional permanente. Conta com uma organização de juventude forte e vibrante. É a legenda que fará neste mês uma Conferência Nacional toda dedicada à Questão da Mulher e que está presente na luta anti-racista.

O Partido também tem consciência de suas lacunas e debilidades – de quanto foi construído e da complexidade do trabalho por realizar. Tendo reafirmado o proletariado como sujeito histórico principal das mudanças, grande esforço precisa empreender para conquistar o engajamento dos trabalhadores à luta política presente e incorporá-los às suas fileiras. Sua militância, seu mais precioso patrimônio, embora já tenha se expandido, precisa ser reforçada com a filiação de mais e mais pessoas que desejem mudar o Brasil. Muito tem a avançar em seu dialógo com a intelectualidade progressista, com o mundo da cultura, tendo em vista o grande desafio de desenvolver e enriquecer a teoria revolucionária e com base nela empreender um domíno maior da realidade mundial e brasileira.

O PCdoB é essencialmente um partido de idéias e de lutas. Bebe das fontes da ciência e da cultura para fazer a ponte entre as lutas de hoje e os seus objetivos revolucionários. Constrói laboriosa e democraticamente sua coesão para fazê-la sólida, resistente aos embates da vida. Trabalha pela unidade das forças avançadas, patrióticas e democráticas, sem renunciar à sua independência. Busca elevar seus vínculos com os trabalhadores e as grandes massas do povo, porque sabe ser essa a força-motriz das transformações reclamadas pelo Brasil. O PCdoB canaliza essas diferentes frentes de lutas para a realização de seus objetivos programáticos:

– a soberania nacional,
– a democracia para o povo,
– direitos sociais ampliados,
– a integração latino-americana,
– o socialismo.

Sim, o socialismo. Socialismo que se renovou com as lições extraídas da história e que se renova com as lutas e as idéias do presente. Desse modo, a luta pela nova sociedade vive um novo período e se tornou ainda mais premente, um clamor que brota da realidade. Fantasia, desatino, delírio é julgar eterno o status quo capitalista.

É este o PCdoB que faz 85 anos em 25 de março. Aos que descrêem da política, respondemos que entendemos seus motivos, mas rejeitamos sua conclusão. Mais do que nunca é necessário ao povo trabalhador entrar na política, fazer a sua política, a política maiúscula que liberta. E em nome dela é que chamamos o Brasil a ser audaz.

São Paulo, 26 de fevereiro de 2007.

Comissão Politica Nacional do Partido Comunista do Brasil – PCdoB

EDIÇÃO 88, FEV/MAR, 2007, PÁGINAS 79, 80