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    Comunicação

    Nós, os primitivos

    Fomos levados ao pelourinho das palavras. Ao açoite público sob a luz impiedosa da tarde. Arrastados pelas ruas. Atados às patas dos cavalos. O sangue, o sal, a carne em postas, exposta ao sol para o horror dos olhos: a aterradora pedagogia do medo gritando no alto dos postes da imensa Vila Rica. De onde […]

    POR: Redação

    2 min de leitura

    Fomos levados ao pelourinho das palavras.
    Ao açoite público sob a luz impiedosa da tarde.
    Arrastados pelas ruas.
    Atados às patas dos cavalos.

    O sangue, o sal, a carne em postas,
    exposta ao sol para o horror dos olhos:
    a aterradora pedagogia do medo
    gritando no alto dos postes da imensa Vila Rica.

    De onde brota a sinistra raiz desse ódio?
    Do édito
    – que não concebe a recusa.
    Dos punhos de renda
    – que rejeitam a mão que a moenda mastigou.
    Do senhor
    – que não tolera o gesto insubmisso.
    Da voz
    – que arma a mão do feitor.

    Essa que maneja a lava da palavra
    e dissolve com seu fogo os passos que cumprimos.
    Sonham, senhores e áulicos, nos converter em cinzas
    e nos lançar aos ventos definitivos.

    Mas, dobramos a esquina e nos recompomos
    na voz de um peão
    que ecoa a força dos séculos,
    na pedra da praça e nos redime.

    Sitiados pelo silêncio
    – o silêncio aqui são os rios da palavra morta
    ditada à diário ante os nossos olhos –  
    rompemos o submisso idioma do conformismo.
    Invadimos a terra cercada e os espaços do mando.

    Recriamos o espaço das ruas
    ( e das redes virtuais que a ordem não captura…)
    carregamos pelas ruas bandeiras de liberdade.
    Desafiamos o pelourinho.
    Já não dobramos o dorso,
    já não baixamos os olhos.
    Com o corpo coberto de cicatrizes,
    Portando estrelas no peito,
    nos olhos a invencível vocação de mar
    nós, os primitivos,
    voltamos
    e somos milhões.

     

    Hamilton Pereira (Pedro Tierra) poeta,  publicou entre outros livros: Poemas do Povo da Noite; Água de Rebelião; Dies Irae; Missa da Terra sem-males em parceria com Pedro Casaldáliga e Martin Coplas.

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