Já vivi a experiência de compor um livro, selecionando um punhado de crônicas de minha autoria. Acho que o resultado foi satisfatório, sobretudo porque deixei a tarefa da escolha das matérias a cargo de um amigo leitor, dono de referências culturais privilegiadas (Nelsinho Caldas).
 
      Recentemente, no entanto, fui convidado pela direção de uma instituição de ensino onde trabalho como consultor dos cursos de comunicação (Faculdade Maurício de Nassau) para reunir uma centena de crônicas, também de minha lavra, e publicá-las, reunidas em um volume, a fim de serem usadas, com finalidade didática, na própria Faculdade.
 
      Como previsível, iniciei o meu trabalho dando um título ao conjunto e determinando um desdobramento do conteúdo em quatro temas dominantes. Daí, o Prof. Edvaldo Ferreira, encarregado de fazer a seleção dos textos, além de escrever a apresentação da obra e sugerir a orientação didática da sua aplicação, abriu o leque e acabou organizando o conjunto à luz de oito temas, interdependentes de dois em dois. Uma proposta brilhante.
 
      Estamos, neste momento, na fase de revisão dos textos. E agora, só agora, estou me dando conta que, a rigor, têm peças que não podem ser classificadas dentro do gênero jornalístico chamado crônica.

      A rigor, como dizia acima, o que caracteriza este gênero jornalístico e, conseqüentemente literário? Acho que a resposta mais óbvia que pode ser dada é a função de comentar, opinar – e, eventualmente, influir sobre a opinião pública – acerca de acontecimentos e do comportamento de gente da nossa contemporaneidade. Deve-se registrar, porém, que este papel testemunhal é estendido ou substituído, certas vezes, por narrações e análises de coisas e gente de tempos passados. O que não muda o espírito da coisa é o fato de ter escritores – jornalistas ou não – que sabem mexer brilhantemente com o gênero.
 
      Analisando só agora – “à frio”, como dizem os publicitários – o título  (Pensando Alto), o sub-título (99 Crônicas) e a legenda de abertura (Casos e Coisas, Idéias e Gente) é que me dei conta do distanciamento parcial conteudístico que imprimi à coletânea em função de uma variante conceitual, diria que instintiva, do gênero crônica que pratico há muito tempo. 
 
      Mas, afinal, onde está esta diferenciação que caracteriza uma boa parte das minhas crônicas? Não é nada demais e nada que as valorize mais em relação às que obedecem a uma conceituação de praxe que podemos chamar de “clássica” ou “universal”. O que acontece é que, simplesmente, muitas vezes obedeço, por fora, ao formato crônica, mas, por dentro, desenvolvo modestos e breves ensaios culturais. Aí, passeio pela história, pelas artes, um pouco de filosofia etcetera e tal. 
 
      Se coubesse no espaço desta matéria  (toda crônica sempre enfrenta um eterno problema de limitação de espaço) reproduziria aqui o Sumário do livro que está sendo concluído. Somente os títulos das matérias já sugeririam, por si, o teor das crônicas selecionadas, que vão da discussão de alguns problemas triviais do dia-a-dia à interpretação sedutora de um momento artístico em determinada época.
 
      Para concluir, não posso deixar de homenagear a Faculdade Maurício de Nassau. Não somente pelo motivo de eu ter a honra de prestar-lhe a minha colaboração, mas, especialmente, pelo espírito inovador que orienta todas as suas ações, lembrando a missão cultural exercida pelas boas universidades do mundo, desde que nasceram na antiguidade, concebidas para a evolução intelectual da humanidade.