Logo Grabois Logo Grabois

Leia a última edição Logo Grabois

Inscreva-se para receber nossa Newsletter

    Comunicação

    O Pavão Invejoso

    À deusa Juno, o Pavão foi se queixar, certa vez, dizendo que quem o fez não o fez com perfeição. – Tenho uma voz horrorosa. Tanto assim que, quando canto, todos os bichos, de espanto, se escafedem em polvorosa. Queixou-se a bonita ave: – Causa inveja, ao pôr-do-sol, ouvir o canto suave e doce do […]

    POR: Redação

    2 min de leitura

    À deusa Juno, o Pavão
    foi se queixar, certa vez,
    dizendo que quem o fez
    não o fez com perfeição.

    – Tenho uma voz horrorosa.
    Tanto assim que, quando canto,
    todos os bichos, de espanto,
    se escafedem em polvorosa.

    Queixou-se a bonita ave:
    – Causa inveja, ao pôr-do-sol,
    ouvir o canto suave
    e doce do rouxinol.

    Por que, Juno, não me deste
    uma voz tão linda igual?
    Rogo que me livres deste
    canto, que é um berro, afinal!

    – Deixa de ser invejoso,
    Pavão – a deusa falou.
    És o bicho mais formoso
    que a Natureza criou.

    És uma ave elegante,
    de plumagem delicada.
    Tua calda é deslumbrante,
    de ricas gemas ornada.

    Foi bem sábia a Natureza
    não dando tudo a só um.
    Se o Rato não tem beleza,
    tem tino como nenhum.

    Ao Macaco deu destreza,
    musculatura ao Leão;
    deu à Raposa esperteza,
    deu à Coruja atenção.

    E nenhum deles se queixa,
    conformados com o que são.
    Não estás contente? Pois deixa,
    Vou te dar uma lição!

    Queres ter voz maviosa?
    Pois essa voz te darei.
    Mas retiro a esplendorosa
    cauda com que te enfeitei.

    E então o Pavão, aflito,
    achando a troca ruim,
    falou: – Até que meu grito
    não é lá tão feio assim.

     

    Fábulas – La Fontaine  
    Tradução de Ferreira Gullar
    Ilustrações de Gustave Doré 
    Editora Revan – 4ª edição, maio de 1999.
     

    Notícias Relacionadas