Canção               

Ao jornalista Assis Chateaubriand

Oh, que saudade
do luar da minha terra,
lá na serra,
branquejando fôlhas secas
pelo chão!
Este luar, cá da cidade,
tão escuro,
não tem aquela saudade
do luar
lá no sertão.

Não há,
ó gente,
oh, não,
luar
como esse
do sertão.

Se a lua nasce
por detrás da verde mata,
mais parece
um sol de prata,
prateando
solidão!

E a gente pega na viola,
que ponteia,
e a canção
é a lua cheia,
a nos nascer
do coração!

Quando vermelha,
no sertão,
desponta a lua,
dentro dalma,
onde flutua,
também,
rubra,
nasce a dor!
E a lua sobe…
E o sangue muda
em claridade!…
E a nossa dôr
muda
em saudade…
branca…
assim…
da mesma
cor!!!

Ai!… Quem me dera
que eu morresse lá na serra,
abraçado à minha terra
e dormindo de uma vez!
Ser enterrado
numa grota pequenina,
onde, à tarde,
a sururina (12)
chore sua viuvez!

Diz uma trova,
que o sertão todo conhece,
que, se à noite,
o céu floresce,
nos encanta,
e nos deduz,
é porque rouba dos sertões
as flores belas
com que faz essas estrelas
lá do seu jardim de luz!!!

Mas como é lindo ver,
depois,
por entre o mato,
deslizar,
calmo,
o regato,
transparente como um véu,
no leito azul das suas águas,
murmurando,
ir, por sua vez,
roubando
as estrelas
lá no céu!!!

A gente fria
desta terra,
sem poesia,
não se importa com esta lua,
nem faz caso do luar!
Enquanto a onça
lá na verde capoeira,
leva uma hora
inteira,
vendo a lua,
a meditar!

Coisa mais bela neste mundo
não existe,
do que ouvir
um galo,
triste,
no sertão,
se faz luar!!!
Parece até que a alma da lua
é que descanta,
escondida
na garganta
desse galo,
a soluçar!

Se Deus me ouvisse
com amor
e caridade,
me faria
esta vontade,
o ideal do coração!
Era que a morte,
a descantar,
me surpreendesse,
e eu morresse
numa noite
de luar,
no meu sertão!

E quando a lua surge
em noites estreladas
nessas noites enluaradas,
em divina aparição,
Deus faz cantar o coração
da Natureza
para ver toda a Beleza
do Luar do Maranhão

Deus lá no céu, ouvindo
um dia,
essa harmonia,
a canção
do meu sertão primaveril,
disse aos arcanjos
que era o Hino da Poesia,
e também a ave-maria
da grandeza do Brasil.

Pois só nas noites do sertão de lua plena,
quando a lua é uma açucena,
é uma flôr primaveril,
é que o Poeta, descantando
a noite inteira,
vê, na Lua Brasileira,
toda a alma do Brasil.

Luar do Sertão e outros Poemas Escolhidos – Catullo da Paixão Cearense Seleção organizada, anotada e revista por Guimarães Martins
Editora Ediouro