Ele era muito jovem e tinha uma plantinha de estimação. Era só isso que eu podia ver, daqui do outro prédio. Sempre que ficava até tarde no computador, assistia ele, assim meio descabelado, regar demoradamente o vaso que, pela silhueta, abrigava uma bromélia.

       Eu adoro bromélias, acho exuberante. Se bem que a dele nem devia ser porque era muito pequenininha. Bom, mas ele me distraía sempre que aparecia na varanda. É só que é estranho você estar lá, sozinha na noite, você e seu computador, e de repente uma luz no edifício vizinho se acender. É praticamente uma intromissão. Mas é também uma cumplicidade.

      Havia entre nós a trágica semelhança de sofrermos de insônia. Bom, ao menos era isso que eu imaginava. Também tínhamos em comum o fato de sermos assim, depressivos e intempestivos. Foi o que eu percebi quando ele um dia não regou a plantinha e lançou-se lá de cima, rumo ao concreto da garagem.

      Bom, no dia seguinte eu comprei uma bromélia, das grandes, e firmei com ela um compromisso: não nos deixaríamos murchar.