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    Comunicação

    A Fruta Aberta

    Para Anamaria Agora sei que sou. Sou pouco, mais sei muito, porque sei o poder imenso que morava comigo, mas adormecido como um peixe grande no fundo escuro e silencioso do rio e que hoje é como uma árvore plantada bem alta no meio da minha vida. Agora sei as coisas como são. Sei porque […]

    POR: Redação

    2 min de leitura

    Para Anamaria

    Agora sei que sou.
    Sou pouco, mais sei muito,
    porque sei o poder imenso
    que morava comigo,
    mas adormecido como um peixe grande
    no fundo escuro e silencioso do rio
    e que hoje é como uma árvore
    plantada bem alta no meio da minha vida.

    Agora sei as coisas como são.
    Sei porque a água escorre meiga
    e porque acalanto é o seu ruído
    na noite estrelada
    que se deita no chão da nova casa.
    Agora sei as coisas poderosas
    que valem dentro de um homem.

    Aprendi contigo, amada.
    Aprendi com a tua beleza,
    com a macia beleza de tuas mãos,
    teus longos dedos de pétalas de prata,
    a ternura oceânica do teu olhar,
    verde de todas as cores
    e sem nenhum horizonte;
    com a tua pele fresca e enluarada,
    a tua infância permanente,
    tua sabedoria fabulária
    brilhando distraída no teu rosto.

    Grandes coisas simples aprendi contigo,
    com o teu parentesco com os mitos mais terrestres,
    com as espigas douradas no vento,
    com as chuvas de verão
    e com as linhas da minha mão.
    Contigo aprendi
    que o amor reparte
    mas sobretudo acrescenta,
    e a cada instante mais aprendo
    com o teu jeito de andar pela cidade
    como se caminhasses de mãos dadas com o ar,
    com o teu gosto de erva molhada,
    com a luz dos teus dentes,
    tuas delicadezas secretas,
    a alegria do teu amor maravilhado,
    e com a tua voz radiosa
    que sai da tua boca
    inesperada como um arco-íris
    partindo ao meio e unindo os extremos da vida,
    e mostrando a verdade
    como uma fruta aberta.

     

    Thiago de Mello
    Vento Geral – Poesia 1951/1981
    Editora Civilização Brasileira – edição 1984