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    Comunicação

    Versos Perenes

                              "Há um fosso entre três mundos.                           E tu, Menor Abandonado,                           és o entulho, as rebarbas e o aterro                           desse fosso."                           (Menor Abandonado, Cora Coralina)   Ah, esses versos de Cora, a Coralina, mulher-coragem, que força eles têm. Argúcia e sabedoria ferina dessa doceira, audácia suprema de pôr em maiúsculas, o […]

    POR: Luiz Carlos Orro

    2 min de leitura

                              "Há um fosso entre três mundos.
                              E tu, Menor Abandonado,
                              és o entulho, as rebarbas e o aterro
                              desse fosso."
                              (Menor Abandonado, Cora Coralina)

     

    Ah, esses versos de Cora,
    a Coralina, mulher-coragem,
    que força eles têm.

    Argúcia e sabedoria ferina dessa doceira,
    audácia suprema de pôr em maiúsculas,
    o que quase toda a tal sociedade
    trata como uma pústula,
    ferida aberta a ser tamponada,
    um incômodo em cada esquina,
    uma coisa a se remover
    dias antes de o Papa por aqui voltar,
    ou quando há de passar um Governador,
    um Presidente quem sabe,
    qualquer que seja a cidade.

    Esse grito,
    rouco e agudo,
    que estilhaça finos cristais,
    reverbera,
    e acorda
    mesmo que uns poucos ouvintes.
    Ecoa dessas Serras Douradas,
    da santa boca da guerrilheira da palavra,
    do antigo século,
    ali da Vila Boa de Goiás,
    a velha
    e sempre capital
    de letras, músicas do Goiás sem fim.

    Profetiza,
    socióloga sem diploma algum:
    ainda hoje
    suas crianças,
    do Brasil por inteiro,
    continuam condenadas
    por essas seculares sentenças:
    a da desesperança,
    a do fracasso antecipado,
    a de uma vida perdida desde a pouca idade.

    Ah, o amargo do fel
    dessa engrenagem perversa
    que se quer perene,
    cuspo fora,
    e renovo votos de indignação:
    Vivam as crianças de Cora,
    viva sua doce canção.

     

    Versos amargos para o
    ano Internacional da Criança, 1979.

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