Uma das poucas coisas justas que se tem notícias neste país, é a mediocridade. Ela não distingue sexo, cor, raça, credo, classe social, analfabeto, acadêmico, ou quem quer que seja. A pessoa é medíocre e pronto.

      O medíocre é aquele que não faz nada para mudar a própria vida, mas se incomoda com a mudança que você faz na tua. É capaz de passar décadas se perguntando porque as outras pessoas são felizes, já que este mundo não dá oportunidade pra ninguém.

      Ele é oco, insípido e inodoro. Porque na sua pequenez não conhece o sabor da derrota, nem da vitória. Os braços cruzados são a sua posição predileta.

      A mediocridade é amiga íntima da inveja, que é outro sentimento profundo.

      Tão profundo que é preciso estar no fundo do poço da incapacidade humana para senti-la. Ambas corroem mais que a ferrugem e se espalham mais que a miséria.

      Mas não se enganem, ser medíocre não é nada fácil. Além de nascer para a coisa é preciso muita dedicação, já que os outros estão sempre em movimento.

      Se quiser ser um de primeira, saiba que é preciso cultuar a realidade perversa e punir os sonhos, para que eles não brotem a cada por do sol.

      Desprezar as noites com lua também ajuda muito.

      Evite ler um bom livro. Mário Quintana? Nem pensar! A Poesia vê a luz no fim do túnel. Não vá ao cinema, em hipótese alguma. Prefira novelas ou bbbs.

     Corte o futebol, sinuca, vôlei, truco, etc. estes esportes atraem muitos amigos e amigos dão azar.

     Outra coisa, um bom medíocre sabe tudo sobre nada, discorde sempre do óbvio.

     Culpe a tudo e a todos pela sua insignificância, banque sempre a vítima. Ser coitado é quase uma profissão, invista nela.

     Despreze o bom humor, sorrir atrai luminosidade e está intimamente ligado ao prazer, e onde já se viu um medíocre ter prazer por alguma coisa, não é verdade?

     E não tenha vergonha, passe mal quando alguém se sentir bem. Sentir-se bem… Sei.

      Cuidado, alegria é contagiante, tenha sempre uma crítica construtiva para destruir este estado de espírito.

      Bom, eu planto o trigo para colher o pão. Sou pássaro que recusa migalhas. E você?

 

Sérgio Vaz é escritor (publicou Subindo a ladeira mora a noite; A margem do vento; Pensamentos vadios e A Poesia dos deuses inferiores) fundador  da Cooperifa (cooperativa cultural da periferia); Organizador do Sarau da cooperifa (movimento poético que acontece às quartas-feiras num bar da periferia); Curador do livro “O rastilho da pólvora”, antologia poética do sarau (43 poetas) parceira com Itaú Cultural. Curador do seminário “Arte na periferia” (literatura, música e cinema), parceria com Itaú cultural; Poesia contra a violência (oficinas poéticas com alunos da rede pública); Revista Literatura marginal (projeto da revista caros amigos); Participação no livro Hip Hop a lápis (curadoria do site vermelho.org); Prêmio Heróis invisíveis, concedido pelo jornalista Gilberto Dimenstein; Participação poética nos cds dos grupos Sabedoria de vida, GOG, 509-e  e grupo 2ho. E-mail: [email protected]