No sertão nordestinado
a feira do povo
é uma economia de centavos

São ovos ambicionados
de um viver sextavado

Um real é dinheiro digno
de consideração e apreço

Galinha do pé seco
não dá pra quem quer

Zé da buchada quer enricar
só de as destripar

Mais velha que as penosas
só a perpétua necessidade

Manga e mamacadela
fazem lama de derrama

Quem vendeu umbu a beça
agradece a Deus, alegroso,
com um sorriso banguelo

Pitomba e melancia
entram em promoção
depois que se desmancham:

“Comprem de mim,
que minha minhas irmãs estão buchudas,
e minha mãe vai parir!”

O chão é azinabrado pelo sangue
de animais estripados
à vista do freguês

Que é para ele ver
o quanto é duro morrer

Cabeças de bode,
de porcos e vacas nos fitam
com olhar esbugalhado

Na feira do povo
muitos têm que morrer
para sustentar a fome eterna
dos que só vivem para comer

A freguesia vem do agreste
onde só vive cabra da peste
calcinado na caatinga
onde a vida é bem mofina

Da vida ávida por viver
é feita a feira do povo:

O desespero é gritado
no rebanho de condenados
do sertão nordestinado.

 Brasigóis Felício, é goiano, nasceu em 1950. Poeta, contista, romancista, crítico literário e crítico de arte. Tem 36 livros publicados entre obras de poesia, contos, romances, crônicas e críticas literárias.